quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Em sangue e máximas

"De tudo o que se escreve, aprecio somente aquilo que alguém escreve com seu próprio sangue. Aquele que escreve em sangue e máximas não quer ser lido, mas aprendido de cor". É do Nietzsche e tem tudo a ver com um livro que me caiu nas mãos e não me sai da cabeça: O Lado Fatal, da Lya Luft. São poemas que ela escreveu logo após a morte de Helio Pellegrino. Terrivelmente belos, dolorosos, de uma sinceridade estarrecedora. Eis um deles:

O meu amado tinha indagações enormes:
andava de um lado para outro em minha frente:
não se conformava com os conformados, os corruptos,
os medíocres e os vendidos deste mundo.
Não se conformava com a miséria, a dominação, o desvalimento.
Não se conformava também quando não o entendiam.
Passava as mãos pelo cabelo grisalho
e ardia como um jovem de dezoito anos na sua ira:
"Tenho vocação é de terrorista."

(Eu escutava, com medo de que ele saltasse da varanda
levado pelo vendaval de seu furor de justo.)

Depois, ele fechava as portas de vidro sobre a noite quente,
me pegava pela mão, dizia:
"Vamos dormir."


E então era todo mel e ternura.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Alegre Menina

Um moço que voa a trouxe pra mim numa madrugada dessas. Já a conhecia, até tive o primeiro disco que sumiu sei lá como e sempre me chamou a atenção aquela voz de criança, de criança sapeca, que lembra Elza Soares, mas sem excessos. Tem uma pureza em Mart’nália, um cantar despreocupado, um à vontade na vida sem exatamente se preocupar em estar à vontade, um jeitão de quem faz revolução sem ligar a mínima pra isso. E tô dizendo tudo isso por quê? Ah, porque “ela é minha mais entre as dez mais” e desde aquela madrugada reina debochada aqui em casa. Foi trilha de fim de ano e vai atravessar 2009 juntinho, ah vai.

Mart’nália grava pela Biscoito Fino, não é fácil encontrar seus CDs e soube que alguém já reclamou disso com Martinho da Vila (rarara), que deve ter adorado. Hoje achei dois CDs da bela e tô aqui fissurado por Madrugada, que tem até música na abertura da novela das sete. E falando em novela, Mart’nália reinava em Paraíso Tropical, volta e meia fazia show no luxuoso bar do Hotel - os dois gays da novela sempre estavam na platéia babando –, cantando a bandeirosa Cabide, que Ana Carolina fez pra ela. Bandeirosa Cabide? Mas qual música naquela voz abençoada não vira bandeirosa? Adoro quando ela canta Alguém me Avisou, sai da letra no verso “sempre fui obediente” pra emendar um rápido “mentira” e voltar com “mas não pude resistir”. E tem a nova e deliciosa Tava por aí, um samba rock que me capturou de cara com versos como esses: “a vida continua nua e crua e muito boa. O vento é o leque da pessoa que andava à toa”.

No CD novo não faltam regravações deliciosas, como Sai Dessa, do repertório de Elis Regina e Alegre Menina, a que revelou Djavan. Essa é Mart’nália uma lufada de vento fresco nas cantoras comportadinhas (queridinhas, ouçam Mart’nália) que poluem a MPB dita moderna. Mart’nália tem a força e audácia do Ney Matogrosso. E viva Mart’nália!!!

Tranquila e simples

“Man, que tua noite de réveillon seja tranqüila e simples, como 2009 e a vida toda precisam ser”. Recebi essa mensagem de um amigo querido. É justo assim: tranqüila e simples que vai continuar sendo. Hoje desci pra comprar comida japonesa, tava com ganas de sushi, mas tudo mudou num segundo ao passar pelo PF aqui do lado de casa: que sushi que nada, minha gana era de costela. Enchi uma quentinha delas e vim rindo sozinho pra casa me banquetear, completamente entregue a delícia do acaso.
Não sei quanto o mundo é bão, mas ele fica melhor quando sei que existe alguém que adora Bom Dia Vietnã porque o personagem do Robin Williams dedica sua vida a alegrar o dia-a-dia de outras pessoas. E se emociona com Dia Branco (Eu te prometo o sol... se o sol sair/ ou a chuva.. se a chuva cair) porque a canção fala de coisas reais, possíveis, nada de falsas ilusões. Tranquila e simples: quero assim e vai ser.

Gracias a eles

Em livros, filmes, músicas, blogs, peças e coisas mais essa gente toda fez meu 2008 bem mais legal. Gracias a eles! A ordem é da memória, com uma pequena ajuda da agenda.

R.E.M., Arnaldo Baptista, Murakami, Ney Matogrosso, Vetusta Morla, Paulo José, Wong Kar Wai, Damien Rice, Aline Lacerda, Baulenas, Vitor Ramil, Jorge Drexler, Julieta Venegas, Louis Garrell, Beto Guedes, Kieslowski, Fernanda Takai, Cleyde Yaconis, Vanessa Redgrave, Meryl Streep, Julie Delpy, Hugo Carvana, Woody Allen, Julio Medem, Louise Cardoso, Joana Fomm, Eddie Vedder, Emile Hirsch, Domingos Oliveira, Adriana Calcanhotto, Maria Bethânia, Laís Bodansky, Bruna Lombardi, Pedro Almodóvar, Caetano Veloso, Ingmar Bergman, Heath Ledger, Leandra Leal, Denise Fraga, Wagner Moura, Letícia Sabatella, Dorival Caymmi, Mathieu Almaric, Neil Young, Patti Smith, Clarice Lispector, Miguel Bosé, Penélope Cruz, Patricia Pìllar, Cesaria Évora, Marisa Monte, Walter Salles, Win Wenders, Laurie Anderson, Patricia Pahl, Rafael Barioni, Antoniela Canto, Pâmio, Obama, Audrey Tautou, Alejandro Sanz, Neruda, Cazuza, Nando Reis, Helena Elis, Mart’nália, Chico Buarque e Fele.

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...