sexta-feira, 17 de julho de 2009

Nas pegadas de Tânger

Gosto de imaginar uma cidade e ficar pirando nela. Sempre uma das tantas que meus pés nunca pisaram. Penso agora em Tânger, encravada entre o paraíso e o estreito de Gibraltar, que já me encanta pelo nome misterioso. O próximo passo é acionar o google mental, apenas o mental. Pronto: a referência um é Bob Dylan, em If You See Her Say Hello, um amor que acabou e alguém deve estar em “Tangier”. É de cortar o coração. Renato Russo regravou lindamente essa, apenas trocando o “her” do título por “him”.

Próxima parada: Paul Bowles, um escritor pra se apaixonar – comigo isso aconteceu. Na autobiografia Tantos Caminhos, ele conta como descobriu a cidade nos anos 40. Um de seus livros mais famosos, O Céu Que Nos Protege mostra os descaminhos de um atormentado casal pelo deserto. Bertolucci o filmou lindamente com participação luxuosa de Bowles. Eu vejo, vejo de novo, vejo mais uma vez e fico cada vez mais enlouquecido com a história e com Tânger, onde Paul Bowles morreu com quase 88 anos, em 1999.

Pra mim, o céu que nos protege, que título mais lindo, só pode ser o de Tânger. Agora, abandono o google da memória e vou pro virtual atrás de imagens da cidade que me encanta, com os versos de Dylan nos ouvidos “... she might be in Tangier”... “i know every scene by heart”.


sábado, 11 de julho de 2009

Quase amigo


Um amigo bem jovem assistiu Pode Ser Que Seja Só o Leiteiro Lá Fora e se encantou com o verbo de Caio Fernando Abreu. Ele ficou meio assim quando falei que conheci o cara, era meu vizinho, me abraçava quando cruzavamos na rua e eu gostava de observa-lo de longe a escolher cenouras no supermercado. Quase amigos fomos.


Faz doze anos que Caio F. morreu e continua firme nas mentes e corações juvenis. É só olhar o roteiro do jornal: dificilmente não tem peça baseada em seus escritos.


Na PUC de Porto Alegre dos anos 80, andávamos com um livro do Caio debaixo do braço. Quando mudei pra São Paulo, resolvi ligar. Ele foi gentil, agradeceu eu gostar dos seus livros e perguntou “como essa cidade tá te tratando?”. Voltei a ligar várias vezes e sempre ouvia a mesma pergunta.


Um dia, dei de cara com Caio na Augusta e me apresentei. Ele riu, me deu um abraço forte, conversamos, uma cena bem Caio F: dois forasteiros se encontram ao acaso na metrópole que os acolheu.


Um pouco antes de morrer, Caio veio a SP lançar Ovelhas Negras, na livraria Cultura, no Conjunto Nacional. Fui, ganhei um autógrafo lindo, um abraço. Mais tarde, o vi com amigos numa mesa do Viena e fiquei alguns minutos a observá-lo à distância, como quando o via escolhendo cenouras no supermercado.


Lembro do Caio direto ao cruzar por alguns lugares muito ele: a Paulista tarde da noite, a Augusta lado centro ao anoitecer, o relógio no alto do conjunto nacional, o prédio da Hadock Lobo onde ele morou. E confesso: tenho uma certa inveja do meu jovem amigo que começa a descobrir o universo de Caio F.

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...