quinta-feira, 19 de novembro de 2020

E lá se vai Jonas Mello, ator brasileiro

 


Leio sobre a morte de Jonas Mello. Ele tinha 83 anos, faleceu na tarde de ontem, de causas naturais em seu apartamento no bairro paulistano de Santana. Logo me veio uma tarde na primeira década do século, quando conversamos para Disciplina e Liberdade, a biografia de Geraldo Vietri que escrevia para a Coleção Aplauso.

Foi no teatro amador em sua Santos natal os primeiros passos do ator Jonas Mello. E antes de engrenar na profissão, deu duro por lá: foi feirante, estivador e trabalhou no pronto socorro.

"Ensinaram-me que enchendo a boca de pedras a gente melhorava a dicção. Não tive dúvidas, todo dia ia até a praia e treinava, começando a falar alto.Quando o tempo estava bom, o pessoal me olhava como se eu fosse maluco. Acredito que esse recurso é que me ajudou a vencer o concurso em São Paulo para ator, onde me inscrevi com mais de cem pessoas. Ali comecei profissionalmente, atuando na peça Lisístrata, ao lado de Ruth Escobar e Isabel Cristina", Jonas contou ao repórter Rogaciano de Freitas em uma matéria da revista Amiga, em 1976, quando já era ator consagrado.

Desde Lisístrata (1967) foram muitas peças.  Só para citar algumas atuações em clássicos: o Jasão de Medéia (1970)  com Cleyde Yaconis , Leonardo, o ex que reaparece em Bodas de Sangue (1973), com Maria Della Costa e o Teseu de Fedra (1986) na montagem com Fernanda Montenegro.

Jonas e Maria Della Costa em Bodas de Sangue

Na TV, atuava em Os Inocentes, quando Geraldo Vietri o viu nos corredores da Tupi. O autor e diretor buscava o intérprete para o papel título de Meu Rico Português (1975), Jonas usava um bigodão e Vietri deve ter achado que ele tinha o tipo ideal para sua personagem e o chamou para teste. Resultado: foi o protagonista e também das duas próximas e últimas de Vietri na Tupi e as três com Márcia Maria como par romântico.

Jonas Mello e Marcia Maria em Meu Rico Português

Em Os Apóstolos de Judas (1976), Vietri aproveitou detalhes da vida do ator, os seus tempos de feirante, quando vendia brincos e bijuterias na barraca do pai. Em João Brasileiro, o Bom Baiano (1978)  era um jornalista de Salvador em fuga de seu passado e que vem parar numa pensão de São Paulo.

Com Sandra Bréa, Bambolê
Foram muitas novelas, o IMDB lista mais de 30 e em todas as emissoras de Televisão. Sol Amarelo e Os Deuses Estão Mortos, ambas de 1971,  na Record, são das primeiras. Após o fim da Tupi, estreou na Globo com Os Gigantes (79) e esteve em várias - Coração Alado (1980), Baila Comigo (1981), Terras do Sem Fim (1981), Bambolê (1988)  Barriga de Aluguel (1990) são marcantes -  e as últimas foram participações em Salve Jorge (2012) e Flor do Caribe (2013). Dona Beija (1986)  foi na TV Manchete, Antônio dos Milagres e Irmã Catarina, ambas em 1996, na CNT, Canavial de Paixões (2003)  no SBT e Escrava Isaura (2004) na Record.


E no cinema, Jonas começou no udigrudi do fim dos 60 - Hitler 3º Mundo (1968), de José Agripino de Paula. Alguns dos filmes que tiveram Jonas Mello no elenco: Um Anjo Mau (1971), de Roberto Santos, Que Estranha Forma de Amar (1977), de Geraldo Vietri e Um Céu de Estrelas (1996), de Tata Amaral.

Jonas e Adriana Prieto no fime Um Anjo Mau

Quando entrei em contato com Jonas para o livro do Vietri, ele foi extremamente solícito, fez questão de uma conversa longa e veio até minha casa. Passamos uma tarde de muitas histórias. Por vezes olhava aquele homem que então andava pelos 70 anos e me parecia estar conversando com Marlon Brando. Pode ter sido viagem minha, claro, mas havia algo (o porte, a voz marcante) de Brando em Jonas Mello. Alguns anos depois, em 2010, Jonas Mello esteve no lançamento do livro.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Amor Estranho Amor, o ex-proibidão de Xuxa

A equipe de Amor Estranho Amor. Fotos de Mituo Shiguihara/Manchete

"Eu não transei, aquilo é ficção": É Xuxa, nas manchetes após a entrevista de ontem no Fantástico.. Ela se refere ao filme Amor, Estranho Amor e a declaração soa ridícula como se o primeiro filme que fez fosse um pornô. Amor Estranho Amor é dirigido por Walter Hugo Khouri (1929-2003), um dos mais celebrados diretores brasileiros e célebre por lançar atrizes - Lilian Lemmertz, por exemplo - e dirigí-las como raros. 
Era 1981. Vera Fischer, saída há pouco da novela Brilhante e com cabelo ainda curto também estreava sob a direção de Khouri, estrelando o filme ao lado de Tarcisio Meira. Xuxa, 18 anos, era uma modelo em início de carreira, namorava Pelé, e marcava um gol com sua estréia cinematográfica: ser dirigida pelo requintado Khouri. 

"Quando estive em Nova York e na Europa, vi que as modelos de lá têm um pique incrível. Fazem tudo - TV, rádio, cinema e fotos - tudo ao mesmo tempo. Eu quero me testar também. Já tinha recebido dezenas de propostas para fazer cinema, mas só esta do Khouri me interessou. Acho que estou começando bem.", ela declarou em matéria de capa da revista Manchete, em matéria de capa da revista Manchete, em maio de 1982, quando do lançamento do filme. 

E Khouri, como via a modelo que, segundo a matéria, conheceu nos bastidores de um programa de TV e agora lançava no cinema, sem a necessidade de testes, apenas uma conversa: "As pessoas me cobraram muito esse convite que fiz a ela, porque ainda confundem a vida de manequim com debilidade total. Mas foi uma intuição minha. Nada acontece por acaso. Se alguém aparece tanto como a Xuxa deve ter um it todo especial. E acertei. Ela é uma grande revelação." 

O final de "O Estranho amor de Xuxa e Vera Fischer", a matéria assinada por Celso Arnaldo Araujo, é bem interessante. "Toca o telefone no andar térreo da mansão (onde estavam filmando). Massaini (o produtor) vai atender. É Pele, querendo notícias sobre sua amizade colorida. Ele estava louco para saber como a menina ia se saindo na nova atividade. E recebeu ótimas referências. "Fica tranquilo, Pelé. A garota vai longe"." 

 E Xuxa foi longe, tão longe que, dez anos depois quando "rainha dos baixinhos" poderosa, usou a força da grana para manter Amor Estranho Amor longe do público por 30 anos. Agora diz que quem não viu veja. Deveria é pedir desculpas por interditar o trabalho de um grande cineasta e de seus colegas atores, Vera Fischer e Tarcisio Meira, que eram os astros do filme. 

O menino que contracenou com Xuxa em Amor Estranho Amor. Marcelo Ribeiro também era lançamento Walter Hugo Khouri. Estava em seu segundo filme com o diretor e no anterior, Eros, O Deus do Amor, tinha uma cena altamente erótica (ao lado) com a personagem de Kate Lyra, mas essa sem "polêmicas" e nem interdição do filme. "O diretor põe muita fé no garoto. Brincando, o chama de pestinha e comenta que aos 13 anos e com dois filmes ele já pode escrever suas memórias.", diz a matéria da Manchete.

A matéria da revista Manchete no lançamento de Amor Estranho Amor


Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...