terça-feira, 27 de outubro de 2020

História da Canções: "Será", a que virou nome de operação policial

 

Foto de Mauricio Valladares, de"edição comemorativa Legião Urbana 30 anos", lançado em 2016


Na loucura dos tempos, o primeiro e dos maiores sucessos da Legião Urbana, a canção que abre o primeiro disco lançado em 1984, virou nome de operação policial atrás de possíveis músicas inéditas e a pedido do filho de Renato Russo. E doideira total, os alvos de batidas policiais atrás de inéditas pra faturar mais com o roqueiro morto são fãs da Legião que municiam seus sites na internet. O alvo mais recente da "Operação Será" é o produtor Marcelo Fróes que, nos anos 90, foi editor e diretor do International Magazine. Em janeiro de 1995, Renato Russo foi o primeiro entrevistado do jornal de música "e a partir de então tornou-se um dos nossos principais entusiastas, opinando sobre as entrevistas", diz a introdução de livro lançado em 1997 com as entrevistas do International. Foi pro International Magazine e para Marcelo Fróes que Renato Russo deu sua última entrevista, três meses antes de morrer e para falar de Tempestade, o último disco da Legião lançado quando ele ainda vivia. 

Em janeiro de 1995, Renato Russo foi o primeiro entrevistado do jornal de música "e a partir de então tornou-se um dos nossos principais entusiastas, opinando sobre as entrevistas", diz a introdução de livro lançado em 1997 (ao lado) com as entrevistas do International. Foi pro International Magazine e para Marcelo Fróes que Renato Russo deu sua última entrevista, três meses antes de morrer e para falar de Tempestade, o último disco da Legião lançado quando ele ainda vivia.

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Bom, mas e Será? É sobre a banda e o verso "Tire suas mãos de mim" é um recadinho para as gravadoras, Renato conta pra Leoni em Letra, Música e Outras Conversas, ótimo livro de entrevistas com o pessoal do rock 90 dos 80 (Herbert Vianna, Marina, Lobão) e alguns que vieram depois (Adriana Calcanhotto, Samuel Rosa).

Leoni pergunta: Será, para você, fala de quê?

"Deixa eu me lembrar. Ah, é sobre a banda. É sobre o lance da gente ser de Brasília. Foi a última música composta para o primeiro disco, tirando "Por Enquanto". (...) Pelo que me lembro, a letra falava de uma coisa específica, mas dando o maior número de interpretações possível. Não sei nem se é o caso, porque o tempo vai passando, a música vai crescendo e vou me lembrando de certas coisas. Às vezes eu acho que era, às vezes que não era. Mas pela época a gente ainda compunha as músicas de um jeito normal: pegava o violão e fazia. Essa foi das primeiras porque a gente ia gravar o disco. Aí eu, com as minhas tradições rock´roll, tinha que ter um single, tinha que ter a faixa de abertura do disco. Geralmente a gente trabalha montando o disco todo, já sabendo da ordem e tal. O Dado tinha esse riff que a gente achava legal. Pelo que eu me lembro é algo assim: nós da banda contra o mundo. Então tinha recadinhos para a gravadora: "Tire suas mãos de mim".

 

 


domingo, 25 de outubro de 2020

O programa de Elis que era a live de Teresa Cristina dos anos 60

 


Era a metade de 1966 e O Fino da Bossa, que então já se chamava somente O Fino, completara um ano em maio, O programa apresentado por Elis Regina, 21 anos e há pouco mais de dois anos chegada do Rio Grande do Sul, reunia várias gerações da música brasileira. Dos veteranos Ciro Monteiro, Lupicinio Rodrigues, Dorival Caymmi a Roberto Carlos e a turma da jovem guarda e os que chegavam Chico Buarque, Nara Leão, Gilberto Gil, Simonal, Jorge Ben... Enfim, era a live da Teresa Cristina daqueles tempos de TV Record ainda preto e branco. E o sorriso de Elis reinava no cenário.

As fotos abaixo são de "Elis é o elo entre duas gerações", matéria de oito páginas e chamada de capa da revista Cruzeiro, em 29 de junho de 1966. A reportagem é assinada por Oswaldo Amorim e as fotos não estão creditadas. As legendas são as publicadas pela revista.

Aqui, o parágrafo final: "Elis é um elo entre as escolas musicais populares, não resta dúvida. Para isso não lhe falta ecumenismo. Com ela tem vez a Velha Guarda, a Bossa nova, o Afro, o Sambalanço e o Yé-yé-yé´da Jovem Guarda. Por último, o "protest song" de grande popularidade nos Estados Unidos -, onde visa, de preferência, como temática, à guerra do Vietname, e que já deu seu prefixo em nossa terra, encontrou nela uma adepta: "Acho que a gente tem de protestar. Afinal, está tudo errado mesmo..."

O repertório eclético de Elis Regina inclui composição de seu consagrado conterrâneo Lupicínio Rodrigues (que a vê cantar, na foto), autor de sucessos como "Vingança"

Ao lado, o próprio Bidu! (nota: Bidu era o apelido de Roberto Carlos)

Hebe Camargo, outro estilo em "O Fino"

Caymmi compareceu ao horário de Elis, levando a Bahia em sua voz e em seu violão

As novas gerações têm sempre vez no programa de Elis (Nota: É, claro, Chico Buarque)


Wilson Simonal e Nara Leão - presença da Bossa Nova no programa "O Fino", de Elis

Ciro Monteiro, da Velha Guarda, faz dupla com Elis, em um samba de telecoteco

Escoltada por Wilson Simonal e Jair Rodrigues, Elis Regina reúne todas as "Guardas" em torno dela (nota: O de branco à direita é Lennie Dale)


Agnaldo Rayol, que deve seu sucesso à interpretação de canções românticas foi um dos convidados ao 1º aniversário do programa


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

As sessões de terapia de Odete Lara e Nara Leão


Revista O Cruzeiro, 1963. A Foto de Antonio Rudge está inteira abaixo


Nara e Odete com Baden Powell 
Rio, final dos anos 50. Sala de espera do consultório de um psicanalista. "Vamp" do cinema esconde o rosto por trás de uma revista sempre que percebe que a porta vai se abrir e de lá sair uma moça "bem", discreta, bem vestida e com uma franja cobrindo a testa. Elas tinham treze anos de diferença - a da franja, morena, ainda não completara vinte e a vamp, loira, uma mulher de quase trinta. 

Corte para um tempo depois. As duas se cruzam em uma feijoada do povo da bossa nova. Daí vem aulas de violão e as duas ficam amigas. As duas mulheres são Odete Lara (1929-2015) e Nara Leão (1942-1989). E quem conta a história é Odete em Minha Jornada Interior (1990), o segundo livro de memórias dela escrito dez anos depois de Eu Nua (1976), uma das primeiras autobiografias de uma estrela brasileira, "numa tentativa de dissecar o processo neurótico que me levou à beira da demência e do suicídio", nas palavras da autora. Ambos são excelentes. Abaixo o texto, que abre o capítulo intitulado "Com Vinicius, Nara e Baden"


 Nara por Odete: "Ela era reservada, observadora e retraída, como eu. Tocava violão, mas só atendia aos pedidos para cantar quando a insistência passava dos limites. Sua voz saía contida, quase inaudível" 


"Benê Nunes, cupincha e pianista preferido de Juscelino Kubitscheck, e Dulce, sua mulher, costumavam abrir seu apartamento da Gávea todos os sábados para o pessoal da bossa nova, com uma feijoada que se estendia até o domingo à noite. Além de compositores, músicos, intelectuais e artistas, lá se revezava uma constante variação de visitas esporádicas. 

Uma tarde, para minha surpresa,encontro entre os demais a moça que eu via todos os dias saindo do consultório do psicanalista. Eu ficava na sala de espera folheando uma revista atrás da qual entreescondia o rosto sempre que percebia que a porta ia se abrir para dar passagem àquela moça discreta, bem vestida, com vasta franja cobrindo a testa. 

Intrigada, ao vê-la essa tarde dedilhando um violão, perguntei a um músico quem era. "É Nara Leão, o pessoal se reúne muito na casa dela também."

Os livros de memórias de Odete Lara
Fiquei observando-a, querendo descobrir o que é que podia fazê-la ir ao psicanalista se aparentemente era normal. Mas aparentemente eu também não era normal? Ela era reservada, observadora e retraída, como eu. Tocava violão, mas só atendia aos pedidos para cantar quando a insistência passava dos limites. Sua voz saía contida, quase inaudível. 

Algum tempo depois a vi de novo numa reunião em torno de um piano de cauda na Avenida Atlântica. Era seu apartamento. Voltei lá várias vezes, e ainda que tivéssemos trocado algumas palavras, continuávamos distantes, observando-nos. 


Mais tarde, quando soube que ela dava aulas de violão, passei a ser sua aluna, e só aí, com o contato quase diário, nos tornamos amigas. Quando a confiança permitiu, nos divertíamos às gargalhadas, confessando uma à outra as fantasias que fazíamos quando nos cruzávamos no consultório. 

"Quem problema pode ter uma vamp de cinema diante de quem os homens devem tombar? Aposto que ela vai usar um negligé de cetim bem decotado para seduzir meu namorado se um dia ele for entrevistá-la para o jornal onde trabalha. Na certa o dr. Ivan quer se ver logo livre de mim para atendê-la..."

 "Que problema pode ter uma filhinha de mamãe como essa, a quem nada deve faltar? Deve fazer psicanálise porque não tem como preencher o tempo. Na certa, o dr. Ivan prefere dar mais atenção a ela, que é moça "bem", de família, do que a mim, uma bastarda...""

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...