quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A história da gata Ema. Parte 1 – A Perereca que veio com o Natal


Sei lá como foi. Só sei que de repente eu, um bebê, estava na rua de uma cidade do interior paulista. Era Natal. Não lembro quase nada, se miei, se estava apavorada, quase nada, nadica. Recordo apenas do instante em que ela apareceu saltitante e começou a puxar papo, num coaxado que não demorei para decifrar. Ela coaxava amigável, eu miava receptiva e íamos nos entendendo como se velhas conhecidas fôssemos. Era uma simpatia de perereca e se chamava assim, Perereca mesmo. Foi logo elogiando meus olhos azuis, o pelo claro, disse que não me preocupasse que ela daria um jeito na minha existência. Eu não estava entendendo nada, mas hoje quando já se passou um ano, sei que aquela perereca era meu anjo da guarda, que eles existem sim e nem sempre têm asas.

 “Vou arrumar uma casa para abrigar você, e uma casa bonita, bem rica”, coaxou a querida com um brilho protetor nos olhos. Eu só ouvia atenta os conselhos que jorravam do seu coaxado: “Você só precisa fazer cara de coitadinha e exibir tristeza nesses olhos azuis encantadores. Ninguém pode perceber que você é uma princesa jogada na rua por uma conspiração de coxinhas desalmados”. Princesa eu? Bom, se a pereca dizia... E fomos caminhando devagar, coaxando e miando por ruas praticamente vazias e de repente ela parou e setenciou: “É aqui”. Era uma casa imensa e iluminada, víamos pela porta de vidro imensa.


(Dia desses conto o resto. Tem um cachorro chamado Gucci, que foi um fofo. Tem fada madrinha, tem viagem, uma casa, outra casa, tem até as redes sociais conspirando para a minha felicidade). 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Há 40 anos morria o homem que ridicularizou Hitler



Homenzinho engraçado que fazia rir e chorar ao mesmo tempo que construía críticas corrosivas, Charles Chaplin morreu há quarenta anos, no dia de Natal. Ele, que nasceu num subúrbio de Londres, tinha 88 anos. Lembro vagamente das matérias na televisão e guardei capa e matéria com cinco páginas da revista Fatos & Fotos; Fotos (na foto, com minha assinatura de então e a data). O abre da matéria faz um bom resumo:

"Tranquilamente, enquanto dormia,, Charles Spencer Chaplin morreu na madrugada de domingo passado, dia de Natal, na sua residência em Corsier-sur-Vevey, aos 88 anos de idade. Seu enterro, no dia seguinte, foi simples, com a presença somente da família e dos amigos íntimos. A polícia impediu a entrada de qualquer curioso ou representante da imprensa. A atmosfera não poderia ter sido mais pacífica, apesar dos cordões de isolamento estendidos ao redor do túmulo vigiado por guardas. O corpo de Carlitos recebera as últimas reverências na própria mansão de Manoir de Ban, de 20 quartos, onde vivera os últimos 25 anos."

Nesses anos todos já li muito sobre Charles Chaplin, mas nenhuma biografia respeitada, o que está nos planos pra 2018 - e assistir os filmes dele enquanto leio também. Abro livros de Billy Wilder e François Truffaut atras do que eles contam do gênio do cinema mundo.

Em E o Resto é LoucuraBilly Wilder atrás do que ele conta de Chaplin - há 14 referências no índice remissivo. Escolho essa:

"Sempre amei e admirei Charlie Chaplin da época do cinema mudo, e quando era adolescente em Viena assistia aos seus filmes inúmeras vezes. Eles me davam alegria como quase nenhum outro filme. Vi O Vagabundo seguramente uma vinte vezes. (...)  Mais tarde vi A Corrida do Ouro o mesmo número de vezes. Algo semelhante só me ocorreu posteriormente com pouquíssimos filmes. 
Para mim, Chaplin foi o maior mestre do cinema mudo. Infelizmente, acho que foi desmascarado como banal quando os filmes começaram a ter diálogos. Os diálogos dele eram tremendamente superficiais, ele não conhecia literatura e tinha, por isso, uma relação amadora com os textos falados: quando encontrava uma fala que pudesse exprimir o que o comovia, ficava como um jovem de dezoito anos que faz versos para a Nona de Beethoven."

Em Quem é Charles Chaplin, texto que escreveu em 1974 e está no livro Os Filmes de Minha Vida,  François Truffaut começa assim: "Charles Chaplin é o mais famoso cineasta do mundo, mas sua obra esteve prestes a transformar-se na mais misteriosa da história do cinema, À medida que os direitos de exibição de seus filmes se esgotavam, Chaplin proibia sua difusão, decepcionado, é importante observar, com os inúmeros relançamentos piratas e isso desde o início de sua carreira". As novas gerações, ele lembra, só conheciam os clássicos de Chaplin de ouvir falar, isso até 1970 quando "ele decidiu recolocar em circulação a quase totalidade de sua obra".

O diretor francês termina seu texto assim: "Sua obra divide-se claramente em duas partes: a) o vagabundo; b) o homem mais célebre do mundo. A primeira se pergunta: "será que existo?" A segunda esforça-se para responder: "quem sou eu?" Em sua totalidade, a obra de Charles Chaplin gira em torno do tema maior da criação artística: a identidade.

Mais uma de Truffaut: no livro de entrevistas com Hitchcok, numa das perguntas ele inclui "Na Inglaterra, há muitos intelectuais, muitos grandes poetas, muitos bons romancista, mas desde que o cinema nasceu há setenta anos, só se encontra dois cineastas cuja obra resiste à prova do tempo: Charles Chaplin e Alfred Htichcock". Para situar: as entrevistas para esse livro foram nos anos 60.





domingo, 24 de dezembro de 2017

Ava Gardner e a sorte de nascer na véspera de Natal



Ava Gardner estaria completando hoje 95 anos. Ela morreu com 67, em 1990 e contou sua vida numa delícia de biografia, lançada aqui pela LPM – Ava – Minha História. E no primeiro capítulo, Ava narra o que significa rivalizar com Jesus Cristo no dia do aniversário, um trauma para muita gente. Abaixo:

“Nasci na véspera de Natal do 1922 mem Grabtown, Carolina do Norte. Não em Brogden ou Smithfield como dizem os livros, mas na pobre e velha Grabtown. Sabe-se lá o porquê do nome: lá não havia nada para agarrar e quase nem havia cidade (Grab no original é agarrar). E vejam que sorte a minha de nascer em Capricórnio. Muitas vezes achei que era um mau sinal, mas isto não vem ao caso. Nunca foi meu estilo deixar que coisas pequenas como estrelas se metam no meu caminho.

Falando de sorte, o que me dizem de passar a infância com o meu aniversário e o Natal sendo comemorados quase juntos? Isto significa que eu teria gostado de não ser enganada com um presente em lugar de dois que eu sabia que merecia. E pior ainda: parecia que havia uma outra pessoa, um tal de Jesus Cristo, cujo aniversário muita gente confundia com o meu. Para mim era como uma ofensa pessoal. Passou muito tempo até eu perdoar o Senhor por isto.

(...)


Como criança, o que eu adorava no meu aniversário era a árvore de Natal com velas acesas e o fato de que todos os parentes vinham para a minha festa. Minhas irmãs mais velhas e seus maridos. Tias e tios. Uma porção de crianças. E mesmo quando éramos pobres demais para ganhar dois presentes, mamãe sempre insistiu em fazer dois bolos especiais só para mim. Um era de chocolate, o outro de coco branco. Minha mãe compreendia que podia ser muito triste ganhar apenas um presente de aniversário e de Natal.”

      Gracias pela lembrança, Cleiton 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Os natais de Jorge Amado no estrangeiro e os de sua infância em Ilhéus

O escritor Jorge Amado tinha 46 anos quando escreveu essas recordações para a Revista da Semana. Era 1958, o ano em que foi lançado Gabriela, Cravo e Canela. Aqui, ele lembra liricamente os natais passados no estrangeiro - França, Rússia, China, Tchecoeslováquia -, enquanto rememora os distantes natais de sua infância em Ilhéus, tempos de pastorinhas, bumba-meu-boi, presépios nas salas de visita. No final, link para Visita ao Presépio de Quinquina, conto natalino pouco conhecido dele que a revista O Cruzeiro publicou em 1939. Quinquina, 20 anos depois, vira personagem de Gabriela, o presépio também. "Quando reencontrarei o natal de minha infância?": abaixo é tudo Jorge Amado. 



                                                       Natal do viajante
                                         Jorge Amado

Quando reencontrarei o natal de minha infância? Não vinha Papai Noel, figura europeia desconhecida nas terras do sul da Bahia, mas deixávamos crianças nossos sapatos na porta do quarto e nele deviam ser depositados presentes. Não havia Papai Noel mas, em compensação, iniciavam-se os folguedos populares – ternos de pastorinhas, bumba-meu-boi, reizado – estendendo-se até as festas dos Reis em janeiro. E os presépios nas salas de visitas das casas de famílias eram visitados e admirados pelos olhos curiosos dos meninos. Não tinha o natal esse caráter de festa estritamente familiar, acontecendo no interior das casas onde os parentes se reúnem e confraternizam, a neve lá fora caindo em flocos, o frio rondando cidades e campos, o fogo aceso nas lareiras, como na Europa. Ao contrário, as ruas estavam cheias: a caapora, o boi e o vaqueiro, as belas pastorinhas dançavam e cantavam, todo mundo saía de casa, ia-se em romaria aos presépios, esperava-se a missa noturna.

Só homem feito eu iria viver o Natal europeu e adaptar-me a ele, incorporá-lo ao meu calendário. Esse Natal que meus filhos conhecem, tão diferente daquele que encheu minha infância, cuja lembrança carrego dentro de mim, eco de vozes perdidas, visão de cores tropicais, a beleza das pastoras, a poesia dos presépios.

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Paris é a cidade do conhecimento fácil, onde se multiplicam as relações, onde uma parte da população parece em férias permanentes, onde se encontram homens e mulheres dos mais diferentes países. Foi em Paris onde primeiro dei-me conta do significado do Natal europeu, dessa festa de família onde não cabem estranhos. Muitos são os meus amigos franceses, gente de condição diversa e – nem sei mesmo porquê – sempre esperei que pelo Natal afluíssem os convites. Via Paris vestindo-se para a festa, a multiplicação das árvores de Natal, as vitrinas alegres de presentes. Recordava o Natal de Ilhéus, tão diferente: naquela altura do ano estariam as pastorinhas preparando os vestidos, ensaiando as cantigas, as velhas tias armando os presépios.

Tanto nos convidavam em Paris e para tantas coisas... Só para o Natal ninguém nos convidou e no hotel dos estudantes, ao lado do Boulevard Saint- Michel, um grupo de brasileiros nos reunimos mais ou menos tristemente para recordar a Pátria e os parentes distantes.

Foram por acaso diferentes os outros natais passados na Europa? Não creio que houvesse diferença fundamental pois para mim era a noite quando desapareciam todos os amigos, cada qual em sua casa, com seus familiares, na ceia tradicional.

Com Guillen (sentado à direita de Jorge): China, 1952
Passei um natal no transiberiano, viajando para a China. Lá fora era a estepe gelada, o frio de quarenta graus abaixo de zero, aquela paisagem vazia de gente, onde de raro em raro surgia uma casa, a fumaça de uma lareira. Na interminável viagem perdíamos a conta dos dias. Íamos dois casais, o poeta cubano Nicolás Guillen e sua esposa eram nossos companheiros de viagem. Já no fim da tarde, o poeta descobriu ser noite de Natal. Foi um Natal de recordações de infância, eu a contar das festas da zona do cacau, ele a recordar o fim do ano em Cuba. Falávamos de comidas e de canções, lembrávamos pequenos detalhes, sentíamos de repente toda a imensa distância a nos separar de nossas pátrias do outro lado do mundo. Davomo-nos conta subitamente de como estávamos longe, montanhas e oceanos nos separavam de nosso chão, de nossos habitas, de nossa gente. A noite gelada da Sibéria nos cercava. Mas canções de Cuba e do Brasil encheram a cabina do trem.

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A bailarina Ulanova
Em Moscou um ciclo de festas nas ruas e nos clubes se desenrola no fim do ano. O Pai Nicolau ergue-se nas praças junto aos pinheiros carregados de lâmpadas multicolores e lantejoulas. Nos clubes de cultura, nos palácios de pioneiros, nas ruas sobre tablados, dançam moços e velhos. Recordo de ter ido num domingo de fim de ano ao Palácio das Colunas, no centro de Moscou, a uma festa onde eram distribuídos brinquedos para as crianças. Uma enorme árvores de Natal no centro da sala imensa. Os palhaços mais célebres do circo moscovita, Karandachi entre eles, os mais célebres bailarinos, Ulanova entre eles, artistas conhecidos, divertiam a criançada. Festa semelhante assisti em Leningrado numa casa de pioneiros.

Mas o Natal propriamente dito, a noite de Natal, essa era reservada para a família. Lembro-me de como minha intérprete nesse Natal soviético, solicitou-me que a dispensasse naquela noite e pediu-me que lhe emprestasse o automóvel para ela transportar para casa a árvore de Natal (vendiam-se numa praça pinheiros de todos os tamanhos). Também em Moscou, na noite de Natal, cada um está com a sua família, no recesso do seu lar.

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Passei em outros países, em distantes cidades, vários natais. Para mim significavam sempre saudade, lembrança da pátria, evocação de festas do nordeste, de líricas pastores, do bumba-meu-boi nas ruas das prquenas cidades.

De um Natal me recordo, o triste Natal do viajante. Estava na Europa e calculei meu tempo de modo que deveria chegar ao Brasil na véspera de Natal. Já me adaptara ao Natal como festa de família, entre os meus, na alegria dos parentes reunidos. Era um inverno especialmente duro, a noite chegava antes do tempo no meio da tarde, não havia visibilidade nos aeródromos e meus cálculos de viagem arruinaram-se. Dois, três dias, sem sair aviões. Eu estava em Praga. Na véspera de Natal mais uma vez estive quase o dia inteiro na expectativa de saída do avião. Mais uma vez ele falhou. Voltei para o hotel pela tarde. Um cartaz na portaria avisava que naquela noite o hotel não serviria jantar, os hóspedes que o desejassem deviam pedir com o tempo uma ceia fria para a noite. Foi o que fiz e dormi. Acordei pelas nove horas da noite. Vesti-me e saí. Não havia uma pessoas nas ruas cobertas de neve. Estavam todos em suas casas, festejando. No hotel mal iluminado, apenas um empregado. Andei sem rumo pela cidade. Não encontrava ninguém. Tudo fechado. Nem mesmo os vendedores de salsichas assadas, nem mesmo os bebedores de cerveja. O silencia e a neve. Uma tristeza sem fim me envolveu. As janelas iluminadas e lá dentro a festa, a alegria. Eu andava sem rumo e jamais senti tanto o significado do Natal.

                               Revista da Semana, 27 de dezembro de 1958

Abaixo o link para Visita ao Presépio de Quinquina, conto natalino pouco conhecido de Jorge Amado, que saiu na revista O Cruzeiro, em 1939, quando ele tinha 26 anos.




terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Conto natalino de Erico Verissimo inédito em livro

Há dois anos topei com um conto de natalino de Erico Verissimo, publicado na revista O Cruzeiro, em 1939. Erico faz um passeio pelos bairros da Porto Alegre de então - Floresta, Bonfim, Cidade Baixa...O texto, descobri, nunca havia saído em livro. Bom, acabou sendo publicado no jornal Zero Hora naquele ano (link no final). Abaixo, o conto e com a grafia fim anos 30 



                                   Noite de Natal em Porto Alegre
                                               
    Erico Verissimo


As estrelas caíram no Guaíba. Piscam luzes nas ilhas escuras. O motor duma lancha bate surdo e alto como um enorme coração medroso. Junto do caes ha uma floresta desgalhada de mastros. A àgua marulha, molle, bate no costado dos barcos adormecidos. Na prôa de um navio alemão que veiu de Hamburgo recorta-se o vulto dum homem. Dou uma estrella pelos seus pensamentos: talvez ganhe, em troca, um lindo poema. Dou duas estrellas... três estrelas... todo o céo... Olhe que vou bater... Todo o céo, meu romântico marinheiro, inclusive a lua, as nuvens e os cherubins... O homem continua immovel. Nada feito. Sigo adiante, passo pelos guindastes que não têm natal. Páro para contemplar um veleiro, vejo luzes lá dentro, ouço vozes, o som duma cordeona. Depois é uma barcaça de carão, uma draga, de novo um navio mercante. Um caíque se aventura rio em fóra, um vulto rema serena, a noite é tão silenciosa ali no caes que julgo ouvir a suave batida dos remos ferindo a água. Decerto aquele homem vae pescar estrellas. É preciso uma grande rede para pescar estrellas. (Quando é que a gente se livra do fantasma de Tagoro?) Jogo o meu cigarro no rio, desejo-lhe um “Feliz Natal!” e sigo para a cidade.


DIÁLOGO
- No Norte, o Natal é diferente.... - dizia meu amigo pernambucano.



- Este enthusiasmo pelo Natal – expliquei – este costume de enfeitar pinheirinhos e fazer que o papae Noel appareça na véspera de Natal, nos foram trazidos pelos immigrantes allemães. Ensinaram-nos também muitas outras coisas. Algumas boas, outras más...

- É curioso. A filha da dona de minha pensão dá a papá Noel um nome exquisito.

- Pelznickel... Era assim que muitas das crianças de meu tempo lhe chamavam... Christkindchen é o Menino Jesus... E não eram só as crianças de sangue allemão que conheciam e usavam esses nomes...

Pausa. Continuamos a andar. Aproximamo-nos da rua dos Andradas. Mergulhamos no clarão dos combustores e dos letreiros luminosos. A rua está negra de gente. Dos cafés vem o clamor de vozes, risadas, música...

Meu companheiro para debaixo dum grande anuncio a gaz-neom. Por um instante seu rosto fica purpureo e eu penso no conto de Poé “A Máscara da Morte Vermelha”...


BAR ALLEMÃO

Em cima do balcão de marmore, perto da machina registradora, ergue-se uma minuscula árvore de Natal. As velas coloridas estão accesas e os penduricalhos lampejam, reflectindo as luzes da sala.


As mesas acham-se quasi todas occupadas. Sentamo-nos perto do aquario. Um dos peixinhos japonezes encosta o focinho no vidro, á altura de minha cabeça e fica me olhando.



- São conhecidos? – indaga o meu companheiro.


- Ah... conhecemo-nos de cumprimento.



Um garçom se aproxima. Pedimos chopps.


Uma victrola arremassa para o salão os compassos duma valsa de Strauss. Aceitamo-la como se aceitam as coisas inevitáveis.



Olha em torno. Talvez sejamos os únicos brasileiros puros (puros?) no bar. Só vejo epidermes claras, algumas caras apopléticas, cabelleiras que vão desde o castanho bronzeado e chegam, via-ruivo e cor-de-palha até o louro de platina. Um minuto de silêncio em homenagem a Jean Harlow.


- Prosit! – diz meu companheiro.



- Prosit – respondo. E, depois do primeiro gole, ainda com um bigode de espuma, accrescento – Qual! O de que nós dois precisamos é de uma bela nacionalização...


As conversas crescem, sobem como ondas quentes. Faz calor. Um senhor gordo passa o lenço pela nuca vermelha, lustrosa e pregueada. Uma vasta senhora cyclópica, abana-se com um leque, bate com elle nos seios fartos que decerto já amamentaram algum siegfried.

As paredes do bar estão eriçadas de pontas de cervo. Viva a falta de malícia germânica!

Os peixes nadam por entre algas. Faz de conta que elas são as suas arvores-de-natal. Mas... nada de sentimentalismos em torno de peixes.



Strauss retirou-se de scena. Agora saem da victrola os acórdes duma doce melodia conhecida. Há como que um vácuo na sala: um subito buraco de silencio se abre. E de repente, sem o commando dum maestro, todos começam a cantar “Sttile Nacht, Heilige Nacht...” Parece que se sentem felizes. Mas duma felicidade triste. Lembram-se decerto de Vaterland. E no entanto muitos deles são apenas netos de allemães, nunca viram a Allemanha a não ser em cartões postaes.


- Raça... Uma grande coisa, amigo! Mas que perigo!



Pegamos o chopp e saímos.

COMISSÃO JULGADORA
Concurso de arvores de natal instituído por uma grande empresa. Lá vae serenamento dentro dum Lassale a comissão julgadora. Poetas, jornalistas, pintores, esculptores e um senhor do commercio local. Visitam as casas que se inscreveram no concurso. São recebidos com amabilidades, doces e bebidas. Na primeira casa, tudo optimo. Uma linda arvore. Crianças adoraveis. Um casal muito sympathico. Passam para a segunda casa. A mesma scena. Mais bebidas. Já o mundo, para a commissão julgadora, passa a ser um estranho logar cheio de alegrias fumegantes, de gente adorável e da mais absoluta e excitante alegria. Terceira casa. “Agora queremos oferecer aos senhores alguma coisinha para beber...”. optima idea. E lá se vae a comissão julgadora. Quarta casa. O presidente da comissão entra na sala, olha a arvore de Natal e depois chama o secretario para um canto e, com voz arrastada e grossa, lhe pergunta:


- Senhor secretario... não acha... não acha... que é um esbanjamento inutil... fazerem... du... duas arvores de Natal?


O secretario, que já não pode com o peso das palpebras, fixa o olhar no pinheiro enfeitado e protesta:



- Perdão, Senhor presidente... Duas não... Três!

NA FLORESTA

Passamos por uma casa de janellas illuminadas. Relanceio os olhos para dentro da sala. Basta aquela visão rapida para eu recompor depois mentalmente a scena. O dono da casa deve se chamar Shultz ou Schmidt. Trabalha numa firma allemã da rua Sete. Tem tres filhos: Willy, Karl e Trude. Estão esperando o Pelznickel... A arvore de Natal vem exercendo suas funcções regularmente há seis annos, desde que Willy nasceu. Frau Shultz ou Schmidt fez uma linda cuca. Há dois barris de chopps na area. Os rapazes da firma vão aparecer. “Que farra!” – antegoza o senhor Shultz ou Schmidt. Cantarão abraçados canções engraçadas. Pelznickel vae trazer uma boneca para Trude, soldadinhos nazistas para Karl e um avião de bombardeio para Willy.

NA RUA DUQUE
É uma casa alta e antiga, com azulejos. Família tradicional. Grande arvore de Natal na varanda.


O dono da casa é medico. Tem quatro filhos. Os dois primeiros acreditam em papai Noel, os outros dois não.


O radio enche a casa de musica. Vozes alegres se escapam pelas janellas escancaradas.



Dona Maria vae buscar os gelados no refrigerador. Na grande mesa alinham-se pratos com sandwiches, nozes, avelãs, castanhas e passas. Ouve-se o estouro de uma garrafa de champagne que se abre.

Não há canções tradicionaes.



O senhor nacionalista conversa com um tenente do exercito:


- Pois é. Precisamos acabar com esses estrangeirismos. Nada de papá Noel ou de Pelznickel. Vovô índio... É... Vovô índio. Que diabo! Temos neve? Temos pinheiro? Isso é coisa para a Europa.


- A America para os americanos – obtemporou o official.


O senhor nacionalista fica um instante pensativo e depois continua:

- E porque não promovemos o nosso Negrinho do Pastoreio a Papae Noel? Ficava admiravel. Em vez de pinheiro, um umbu... ou outra arvore menor... Bastava acender uma vela para o Negrinho e ficar a pedir um presente...


Ficou sorrindo não para o tenente mas para a propria idéa.

CIDADE BAIXA
Aqui nessa zona de casas melancolicas, pequenas e velhas começou a cidade. Olho indiscretamente para dentro de uma casa de porta e janella e vejo uma arvore de Natal solitaria no centro da pequena sala. Luz amarellada a allumiar meia duzia de caras tristes. Casa decerto de um modesto funcionario publico que não foi contemplado no reajustamento. Elle, a mulher, a filha solteirona, a filha noiva ao lado do eterno noivo (que decerto tambem não foi contemplado em coisa nenhuma nesta vida). Estão tristes e graves, parece que a arvore de Natal é uma criança morta e elles estão ali em silencio, velando o anjinho...

NOS NAVEGANTES
Para as famílias que moram nas velhas barcaças encalhadas na praia dos Navegantes não há Natal.

NOS MOINHOS DE VENTOS

Palacete dum industrialista allemão que ficou rico com a guerra (a primeira). Grande parque com palmeiras, pinheiros e outras arvores que a escuridao e a falta de conhecimento de botanica me impedem de classificar.

Janelas fechadas. A “fraulein” que cuida da casa saiu com o namorado, um mecanico ruivo e athletico. Decerto a esta hora estão bebendo num bar qualquer.

Os donos da casa foram passar o Natal na Allemanha.

NO BONFIM
O Bonfim é o “ghetto”. Lojas, cafés, dois cinemas, judeus velhos sentados nas frentes das casas, barrete negro na cabeça, longas barbas grisalhas ou completamente brancas. Mocinhos e mocinhas a passear nas calçadas. O centro social israelita. Salões de bilhar. Aqui e ali uma casa de família brasileira.


Para esta gente Christo ainda não nasceu.



Mas aquella meninazinha que ali está na calçada, de dedo na boca, e que se chama Lea, deita olhares compridos de inveja para a arvore de Natal que scintila na casinha da família brasileira.


COLONIA AFRICANA

Uma zona em que as fronteiras do “ghetto” e da colonia Africana se misturam. Começamos a ver negros e negras endomingados para festejar o Natal. Alguns deles foram ao “cabellizador” alisar a carapinha, muitos botaram na cabeça, no lenço, na lapela uma loção que tem um cheiro que lembra o de doce de batatas.


A rua é de terra batida cor de rosa. A casa, de taboa. A familia é grande e há muitos convidados. A maioria delles se acha no terreiro, debaixo das árvores. Um mulato cabellizado toca um violão. Um preto começa a tocar um samba. O refresco corre a roda (Framboeza, naturalmente). Na sala de visitas há um presepio encardido. E também um pequenissimo e esmirrado pinheirinho cheio de curiosos enfeites: vidros de iodo vasios, lampadas electricas queimadas, colares de contas coloridas, vidrilhos e flores de papel de seda.



Tudo indica que a festa vae acabar em macumba.

DUVIDA

Nas ruas alguns homens se abraçam e quasi todos parecem alegres. Desejam-se bom Natal e muitos aproveitam o pretexto para tomar tremendas bebedeiras.


- Eu só queria saber uma coisa...


- Que é? – indagou o companheiro.


- É se essa gente realmente se lembra que hoje se festeja o nascimento de Jesus...



O amigo parou, franziu a testa numa careta de estranheza e exclama:


- Mas é mesmo, rapaz! E eu que nem me lembrava disso!?

NOTA SENTIMENTAL
O Natal do poeta solitario que não tem família nem esperança e que anda pelas ruas como cachorro sem dono a olhar para as estrellas?

Oh! Não... Mil vezes não!

                       Revista O Cruzeiro, 23 de dezembro de 1939


Aqui, o conto quando publicado por Zero Hora, há dois anos
https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2015/12/confira-conto-natalino-de-erico-verissimo-inedito-em-livro-4934187.html

domingo, 10 de dezembro de 2017

Eva Todor, uma mulher de teatro e carreira de 80 anos




Eva Todor em Anastássia, 1956


“Nunca tive fracassos, períodos de declínio na minha carreira. Dos papeis de menina, passei para as velhas, sem traumas e choques, sempre numa curva ascendente”. Essa afirmação de Eva Todor foi numa entrevista em que fiz com ela quando fazia a peça Como se Tornar uma Supermãe em Dez Lições e havia acabado de gravar a novela Top Model. Eva Todor morreu hoje, aos 98 anos. Ela nasceu na Hungria, desembarcou no Brasil aos oito anos e com 14 já estava no palco. Foram mais de 70 anos de carreira e muitas, muitas peças – no começo encenava uma peça a cada mês. A Senhora da Boca do Lixo (Jorge de Andrade), Em Família (Oduvaldo Viana Filho) e o musical Chiquinha Gonzaga são algumas de suas principais montagens.  Locomotivas (1977) Te Contei (1978), Coração Alado (80), De Corpo e Alma (92), Olho no Olho (93) e  América (2005) são algumas das principais novelas em que atuou. Eva fez poucos filmes, Meu Nome não é Johnny (2006) foi dos últimos.

A trajetória da atriz está em Eva Todor – O Teatro da Minha Vida, escrito por Maria Angela de Jesus e publicado na Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial de SP. No final, o link.

Abaixo, alguns momentos da grande atriz Eva Todor

1953
Revista O Cruzeiro, 1958
Revista O Cruzeiro, 1958
Revista O Cruzeiro, 1957

 
Peças dos anos 40
Peças dos anos 40

Revista A Scena Muda, 1941
Revista A Scena Muda, 1949



A Scena Muda, 1929

E aqui o link para o livro O Teatro da Minha Vida, que pode ser baixado gratuitamente

Sobre o amor, um texto de Luiz Carlos Maciel

Colunas de Luiz Carlos Maciel na Revista Ele & Ela
Por meninice minha, a coluna Underground do Pasquim que Luiz Carlos Maciel escrevia no Pasquim me chegou com alguns anos de atraso. E eu adorava uma coluna que ele mantinha na revista Ele & Ela no final dos anos 70. Sim, naqueles tempos as revistas de “mulher pelada” também eram pra ler e através delas eu, garoto interiorano, fui descobrindo um mundo. As revistas se foram após esses anos todos, as colunas de Maciel não – as páginas arrancadas passaram a habitar os livros dele, que volta e meia voltava a ler. Fiquei em dúvida de qual postar aqui: Sobre o Amor, Carta Sobre o Mistério e A Mentira do Tempo, são as preferidas e não sei se foram publicadas em livro. Optei por Sobre o Amor. Acho que ele gostaria. Ah, éramos amigos no Facebook e quando ele aceitou minha solicitação de amizade foi uma alegria tão grande, como se eu o tivesse conhecido, o que não ocorreu. E hoje, quando soube de sua morte, bateu uma tristeza imensa.


                                              Sobre O Amor
                                            Luiz Carlos Maciel

Maciel, o gato Antonico e sua mulher Maria Claudia nos posters: contracapa do livro Negócio Seguinte (1982)
Meu Amor, resolvi escrever, hoje cedo, quando acordei, uma declaração de amor. Acordei em paz e achei que seria fácil escrever coisas bonitas – pois parece que se escrevem, naturalmente, coisas assim, quando se está em paz. Considerei, com espontâneo bom senso, que, afinal, de contas, não pode existir melhor literatura do que aquela  que puder fazer um bem qualquer, mesmo um momento de alegria ou simples prazer, a nosso semelhante. E quem é meu semelhante? Você, vida, a quem julgo amar, o tempo todo, como a mim mesmo e, em certas circunstâncias, nas quais pareço experimentar, na plenitude, o que chamam de paixão, até mesmo mais do que isso.

Em seguida, porém, pensamentos posteriores, de ordem histórica, lançaram sombras sobre o sol nascente. Não, raciocinei, não vivemos um tempo de declarações de amor, mas de bens, de imposto de renda e, até, de princípios. Declarações de tudo, menos de amor. Eis uma força, sem dúvida real, cantada pelos poetas, venerada pelos religiosos, especulada, quase sempre com susto, pelos filósofos que, no entanto, não é reconhecida pela ordem formal das coisas. O amor nos parece, oficialmente, um acidente mais ou menos marginal, uma perturbação imprevista pelas leis, uma tempestade tão incontrolável quanto qualquer tempestade, e contra a qual – segundo o normal, o socialmente aceitável – é necessário alguma espécie de proteção.

Sim, na ordem social em que vivemos, a magia da paixão é um estado considerado um tanto ou quanto patológico, e nós procuramos, através de feitiçaria disciplinadora de nossos costumes, instituições, preceitos e preconceitos, substituí-la pelo medo e a necessidade de segurança. Amor não dá camisa a ninguém – esta é a conclusão da ideologia dominante, introjetada pela educação e outros meios de coação social em cada um de nós. O amor não dá, ao contrário do cálculo, da representação cotidiana ou do trabalho compulsivo e neurótico que nos acenam com promessas de camisas, calças, sapatos, sobretudos e outras miragens diabólicas. Talvez essa não seja uma maneira muito natural de viver, mas não nos importamos com isso, desde que que resolvemos que o ser humano é aquele cuja natureza, por uma contradição chocante, mas que não nos surpreende, é a de se sobrepor à própria natureza, conquistá-la, dominá-la e, por fim – como é inevitável, por uma questão de automática justiça – assassiná-la dentro de cada um de nós.

Assim são as coisas – e não adianta espernear. E aprender o jogo, segundo as normas vigentes, a dançar conforme a música, parece ser uma condição sine qua non de sobrevivência, num mundo em que a violência também parece crescer, sem impedimentos maiores, a partir da suposição tácita de que a hostilidade mútua, o ódio em todas as suas manifestações, das mais grosseiras às mais sutis, é verdadeiro regulador de nossas relações interpessoais e a base de nossa coexistência. Por isso, até nos sentimos vagamente bem, quando temos raiva de alguém ou alguma coisa, porque tal sentimento nos adapta ao mundo tal como ele funciona, não nos sentimos estrangeiros ou marginais quando ele nos domina mas, pelo contrário, cheios de razões e direitos, enquanto o amor é sempre tingido de culpa pelas ferozes artes do sistema.

A primeira regra do jogo social, observa Alan Watts, é fazer de conta que não se trata de um jogo. Apontar a farsa como farsa, denunciá-la, mostrar que o jogo, ainda que as apostas sejam feitas com o sangue de cada um, é uma audácia que desqualifica o jogador e deve ser devidamente punida. Confesso que já tentei esse lance, meu amor, como muitos de nós tentaram – e sei que sempre é possível tentar de novo, desde que não nos abandonem a imaginação e a coragem – e transgredir algumas de suas regras, na certeza de que um jogo, qualquer que seja, mesmo os que são diabolicamente apresentados em nome de ordem e da justiça humanas, é um jogo e que, portanto, suas regras só podem ter sido feitas para serem mudadas, a qualquer momento sempre que for necessário. Tentei – e não me dei muito bem. Tentei – e posso tentar de novo. Talvez esteja até tentando, sem saber, como se não nos restasse mais nada, senão tentar, e reiterar as tentativas, até que o jogo, por um milagre incalculável – pois só quem pode aspirar a esse momento é o coração, e não a cabeça -, consentisse em nos mostrar a verdadeira face e recuar para seu verdadeiro lugar, que é atrás, e não na frente do amor. Não há mais nada a fazer senão tentar, mesmo não tentando – um truque, aliás, recomendado por muitos sábios, desde Lao Tsé, pelo menos -, pois a aspiração por um mundo melhor parece ser o impulso fundamental  de nossa natureza, o avatar mais amplo e luminoso do próprio amor. Tentar é, por isso, amar ao próximo como a si mesmo, como outro sábio recomendou. E como eu te amo, meu amor. Agora, amor, coloque-se no lugar do amor, e veja o que você faria num quadro desses em que toda espontaneidade é suspeita e toda maquinação cultuada como um deus. É possível que você simplesmente silenciasse e abrisse, no vazio desse silêncio, o espaço para uma carinhosa estratégia. É isso, me parece, que o amor faz, está fazendo, o tempo todo, diante dos dentes cegos da repressão. Ele se cala e, no silêncio, alimenta as próprias energias, em calma, em paz. Em silêncio.

Desmentir as regras do jogo é deixar que elas, simplesmente, se desmintam como com efeito o fazem – para quem vê bem – todos os dias, a todo instante. A vida, filha do amor, o auxilia sem descanso nessa tarefa desmistificadora e também silenciosamente cria suas surpresas, seu terror e sua maravilha. Por isso, como dizia ainda o velho Lao Tsé, não sabe aquele que fala e cala aquele que sabe.

Tudo, não apenas o resto, é silêncio, desde que o amor, fonte da vida, é silêncio. Não precisamos misturar declarações de amor com as de bens, rendas ou princípios. Basta-nos olhar. Assim, nos olhos. Basta-nos sorrir. Basta-nos dar as mãos. Basta-nos o silêncio.

Mostrar que o jogo é um jogo, tentar, é não tentar: abrir um espaço, abraçar o vazio, para que, atrás ou na frente, fique quem deve estar lá. Não vamos deixar que o mundo, as exigências, e repressões do mundo usurpem o lugar de nosso amor e substituam com sua feitiçaria, tão cheia de promessas quanto de traições, a magia primordial que é a origem desta nossa ilusória existência. Calemo-nos. Vamos amar em silêncio. Que o carinho anteceda o discurso, que a compreensão silencie o argumento e a sensação acalme o pensamento enlouquecido que manipula o grande jogo do mundo. Não há nada a discutir, não há nada a dizer. Não há nada a pensar.

O amor, deixe que eu repita, é o silêncio.


                  Publicado na revista Ele & Ela, março de 1978

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