terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Caricaturas raras de escritores no Suplemento Literário Diretrizes, o jornal revista de Samuel Wainer

Montagem by B.

Lá por 2002, numa das pesquisas que adoro inventar, tive o prazer de topar com uma coleção de Diretrizes, o jornal/revista de Samuel Wainer do final dos anos 30, começo dos 40. Por um daqueles acasos, a coleção viera no dia anterior do depósito de Santo Amaro e esperava por mim na Biblioteca Mario de Andrade (o funcionário de lá ficou pasmo quando perguntei se eles tinham Diretrizes). Era a coleção em papel. Os exemplares amarelados e amarrados com barbante não deixavam dúvidas: há muito não eram folheados e, quando abertos, se desfaziam nas dobraduras, deixando lascas de papel sobre a mesa. Eu usava luvas plásticas, não podia xerocar e só copiar a lápis. Máquina digital ainda era coisa rara, pelo menos pra mim. Foi nessa época que, já contei aqui no blog, encontrei a primeira entrevista de Clarice Lispector, ainda estudante de direito. (Link abaixo)

Os anos correram e certo dia topei com a coleção digitalizada de Diretrizes no acervo da Biblioteca Nacional. Foi uma festa e, olha o avanço, eu podia salvar as imagens. Mas algo continuava inédito e eu queria muito conhecer: o famoso Suplemento Literário de Diretrizes, onde colaboravam os principais escritores da época.

No finalzinho do ano passado, a surpresa: o Suplemento estava disponível e digitalizado no site da  Biblioteca Nacional. Não todos os números, que algo sempre há de ficar para ser buscado. Lá estão nove dos 18 exemplares (será que são apenas 18?) - o primeiro saiu em 1939 e os outros no ano seguinte. Desse mundo literário a ser explorado, separei algumas caricaturas dos escritores da época, a maioria no traço de Augusto Rodrigues. As três primeiras, não por acaso, são daqueles que me fizeram descobrir o prazer de ler, ainda adolescente: Erico Verissimo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. E tem mais: Carlos Drummond de Andrade, Adalgisa Nery, José Lins do Rego, Anibal Machado, Oswald e Mario de Andrade (esse por Di Cavalcanti).






Mario de Andrade por Di Cavalcanti





Oswald de Andrade sem autoria
E aqui a primeira entrevista de Clarice Lispector em Diretrizes, ainda estudante de direito

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Ricardo e Vânia, a vida assim com ela é. E não devia de ser


A reportagem do Chico Felitti que tirou os véus de mistério sobre o "fofão da Augusta" (Ricardo era o nome dele) é daquelas raras. Agora sai o livro reportagem Ricardo e Vânia - O maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor. O ponto de partida é a premiada matéria. Só o ponto de partida.

Chico Felitti segue a história para a frente e para trás e traça o perfil de dois garotos moídos pela cidade grande (e pela pequena), ali pelo final dos anos 70, começo dos 80. Ricardo morreu (em dezembro de 2017) e Vânia, "o grande amor dele", vive, em Paris.

A história de Vânia, contada mais pro meio do livro, é tocante, assim como a de Ricardo - o outro lado de uma moeda com dois lados praticamente iguais.
É doloroso de ler sim, assim como era a reportagem (link abaixo, se é que alguém ainda não leu). 

E depois de devorar as 190 páginas do livro pode ser bom voltar à matéria do buzzfeed. O caderno de fotos do livro é excelente, praticamente todas do arquivo particular de Vânia. E na matéria tem os retratos de Ricardo, menino, com a família, que ficaram de fora deste Ricardo e Vânia. 

Aqui, a matéria premiada do Chico Felitti 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Clarice Lispector responde a uma hater



Eles, os haters, sempre existiram e só tiveram sua ação facilitada em tempos de redes sociais. Aqui, Clarice Lispector responde a uma "leitora anônima" em sua coluna no Jornal do Brasil, em junho de 1968. Essas colunas com "respostas para leitores" ficaram de fora do recente Todas as Crônicas que reúne a produção da Clarice cronista (shttp://viledesm.blogspot.com/2018/08/livro-reune-todas-as-cronicas-de.html), o que é uma pena. Abaixo a maravilha de resposta de Clarice Lispector para F.N.M:

"F.N.M., você é uma raposa astuciosa, mas deixou o rabo aparecer mesmo para uma pessoa distraída como eu. Suas iniciais devem ser falsas também, acredito que você seja mulher de diplomata, pelo número de diplomatas que você cita. Você toma um ar de falsa piedade e me diz que soube que a depressão em que andei foi causada pelo casamento de meu ex-marido. Guarde, minha senhora, a piedade para si própria, que não tem o que fazer. E se quer a verdade, coisa pela qual a senhora não esperava, ei-la: quando me separei de meu marido, ele esperou pela minha volta mais de sete anos. Quando ele se casou, e bem casado, foi um alívio para mim, se é que a senhora compreende essas coisas: foi um alívio e uma alegria porque eu o sabia bem acompanhado e não mais sozinho e, portanto, eu não me sentia mais culpada. Continuo amiga da família de meu ex-marido, falo com ele e com sua nova esposa muito cordialmente. Perdoe, madame F.N.M., eu destruir o romance que a senhora construiu. Mas eu lhe dou o material para a senhora inventar outro: realmente passei por um período de depressão e, não só não me interessa contar-lhe o motivo, como não quero. Está bem, meu benzinho?"



Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...