sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Clarice Lispector responde a uma hater



Eles, os haters, sempre existiram e só tiveram sua ação facilitada em tempos de redes sociais. Aqui, Clarice Lispector responde a uma "leitora anônima" em sua coluna no Jornal do Brasil, em junho de 1968. Essas colunas com "respostas para leitores" ficaram de fora do recente Todas as Crônicas que reúne a produção da Clarice cronista (shttp://viledesm.blogspot.com/2018/08/livro-reune-todas-as-cronicas-de.html), o que é uma pena. Abaixo a maravilha de resposta de Clarice Lispector para F.N.M:

"F.N.M., você é uma raposa astuciosa, mas deixou o rabo aparecer mesmo para uma pessoa distraída como eu. Suas iniciais devem ser falsas também, acredito que você seja mulher de diplomata, pelo número de diplomatas que você cita. Você toma um ar de falsa piedade e me diz que soube que a depressão em que andei foi causada pelo casamento de meu ex-marido. Guarde, minha senhora, a piedade para si própria, que não tem o que fazer. E se quer a verdade, coisa pela qual a senhora não esperava, ei-la: quando me separei de meu marido, ele esperou pela minha volta mais de sete anos. Quando ele se casou, e bem casado, foi um alívio para mim, se é que a senhora compreende essas coisas: foi um alívio e uma alegria porque eu o sabia bem acompanhado e não mais sozinho e, portanto, eu não me sentia mais culpada. Continuo amiga da família de meu ex-marido, falo com ele e com sua nova esposa muito cordialmente. Perdoe, madame F.N.M., eu destruir o romance que a senhora construiu. Mas eu lhe dou o material para a senhora inventar outro: realmente passei por um período de depressão e, não só não me interessa contar-lhe o motivo, como não quero. Está bem, meu benzinho?"



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