Eles, os haters, sempre
existiram e só tiveram sua ação facilitada em tempos de redes sociais. Aqui, Clarice
Lispector responde a uma "leitora anônima" em sua coluna no Jornal do
Brasil, em junho de 1968. Essas colunas com "respostas para leitores"
ficaram de fora do recente Todas as Crônicas que reúne a produção da Clarice
cronista (shttp://viledesm.blogspot.com/2018/08/livro-reune-todas-as-cronicas-de.html), o que é uma pena. Abaixo a maravilha de resposta de
Clarice Lispector para F.N.M:
"F.N.M., você é uma
raposa astuciosa, mas deixou o rabo aparecer mesmo para uma pessoa distraída
como eu. Suas iniciais devem ser falsas também, acredito que você seja mulher
de diplomata, pelo número de diplomatas que você cita. Você toma um ar de falsa
piedade e me diz que soube que a depressão em que andei foi causada pelo
casamento de meu ex-marido. Guarde, minha senhora, a piedade para si própria,
que não tem o que fazer. E se quer a verdade, coisa pela qual a senhora não
esperava, ei-la: quando me separei de meu marido, ele esperou pela minha volta
mais de sete anos. Quando ele se casou, e bem casado, foi um alívio para mim,
se é que a senhora compreende essas coisas: foi um alívio e uma alegria porque
eu o sabia bem acompanhado e não mais sozinho e, portanto, eu não me sentia
mais culpada. Continuo amiga da família de meu ex-marido, falo com ele e com
sua nova esposa muito cordialmente. Perdoe, madame F.N.M., eu destruir o
romance que a senhora construiu. Mas eu lhe dou o material para a senhora
inventar outro: realmente passei por um período de depressão e, não só não me
interessa contar-lhe o motivo, como não quero. Está bem, meu benzinho?"
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