sábado, 27 de agosto de 2011

Banco Safra comete atentado urbano



Paulista com Augusta: a esquina é nobre, praticamente a nova Ipiranga com São João, aquela que Caetano Veloso canta. É quase quintal da minha casa e passo direto no pedaço. Nos últimos dias existe algo atravancando o meu caminho. Explico: o banco Safra resolveu gradear seu portentoso prédio localizado bem ali, pra delimitar bem o espaço onde acaba a propriedade e começa a calçada. Que eu saiba, a sólida instituição não está sendo ameaçada por nenhum ataque (será???) e, então, aquelas grades só tem um significado: afastar o povo.

E que povo é esse? Jovens que ali ficam como se uma praça de interior ali fosse. Numa cidade hostil feito São Paulo (tente encontrar um banco pra sentar na região), a saída é buscar algum espaço vazio para espairecer. Mas os donos do PIB nacional parecem não gostar dessa intimidade, então, dá-lhe grades para deixar bem claro: esse espaço do gradeado pra lá é nosso e só têm acesso a ele aqueles que deixam seus $$$$$$ aos nossos cuidados, gentalha.

Durante o fim de semana todo e nos dias úteis, assim que acaba o horário comercial, surgem as malditas grades pra atravancar caminhos e olhos cansados de feiúra desumanidade urbana. Toda vez que passo em frente ao tal Safra gradeado, sinto ganas de cometer um atentado contra tamanho mau gosto e demonstração gratuita de poder. 

Como é assim que as coisas se espalham, logo logo outro prédio de poderoso começa a ter a mesma idéia. Isso se não começarem a pedir documentos  pra circular pela cidade inóspita que o atual prefeito chama de limpa.

P.S: Do outro lado da rua existe outra propriedade Safra e a estreitíssima calçada vive em reformas deixando espaço para apenas um pedestre transitar. Coincidência??? Pode ser.

domingo, 14 de agosto de 2011

Uma mulher sobre influência

Assim que ouvi Climax, da Marina Lima, fiquei doido por Lex, que tem subtítulo: My Weird Fish. Peraí: Weird Fishes é uma do Radiohead, de In Rainbow, aquele disco que eles colocaram na rede muito antes do lançamento nas lojas? É. A canção homenagem da Marina é um primor de sons e palavras (“queria mesmo morar às margens to teu Alentejo”). E quando o show foi pro Rio, ela incluiu de surpresa Creep, um hino Radiohead (Na estréia em SP ela tocou Beatles – In My Life)


Resolvi lançar radiohead marina lima no Google e achei uma entrevista de dois anos atrás pra Webradiofm http://bit.ly/oA8nci quando Marina apenas pensava no disco novo. “Radiohead é o que há! Sabe que um dos guitarristas já veio algumas vezes ao Brasil e tinha reparado que, volta e meia, há coisas de harmonia que parecem Chico Buarque? Como é que eles conhecem isso? Eles misturam tudo. Usam a eletrônica, acordes do estilo dos ingleses e reinventam muito, acho maravilhoso…”


Também acho Radiohead maravilhoso, talvez a última banda a influenciar geral. Já li músicos tão diferentes, como Vitor Ramil, se revelando ouvinte atento. E o uruguaio Jorge Drexler tem uma versão pra High and Dry que me pega.


Bom, mas eu falava de Radiohead e Marina Lima e ela tem algo em comum com a banda de Thom Yorke: é uma misturadora, reinventadora ousada e faz muito atenta às eletronices. Lex coloca Radiohead lado a lado (e sem a menor estranheza) com os sambas afros de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
E sempre foi assim: já houve os tempos de Donald Fagen (Doida de Rachar versão para Maxine) e Stevie Wonder (Pé na Tábua, versão para Ordinary Pain). Nirvana é outro. E não só medalhões: Algo me Pegou é versão para Something´s got me da Lori Carson e Não Estou Bem Certa, de Terence Trent D´Arby, uma fugaz promessa soul. E nem só estrangeiros: ecos daquela sonoridade Elizete Cardoso em várias de suas canções mais harmoniosas.

Na entrevista que citei acima, ela falava de regravar You´re My Thrill, da Billie Holiday, que acabou fora de Climax. Mas Billie Holiday não ficou fora da discografia da cantora: Lady Sings the Blues é destaque do Show Todas (1986). São as revisitações de Marina Lima, sem nada de saudosismo e sempre atenta aos novos tempos. Ueba!






terça-feira, 26 de julho de 2011

Um livro pra quem é doido por livros

Capa da 1ª edição
O futuro do livro como o conhecemos tem sido muito discutido. Muitos apostam no seu fim. Bom, não é sobre isso que quero escrever. Topei na livraria com Um Certo Henrique Bertaso (Companhia das Letras), um Érico Veríssimo que eu nem sabia que existia. E Érico foi uma das paixões da minha adolescência quando praticamente devorei  suas obras completas.

Capa da nova edição
Naquele seu jeito de escrever – direto e cativante – Érico, feito o Woody Allen de Meia Noite em Paris, leva o leitor à lendária Editora Globo, de Porto Alegre, onde ele trabalhou por muitos tempos e lá seus livros foram editados. Bertaso era o editor. O livro foi escrito em abril de 1972, logo após ele finalizar Incidente em Antares e antes que começasse a mergulhar em suas memórias, nos dois volumes de Solo de Clarineta. E funciona como uma introdução à biografia do autor.


A história começa em 1922, quando Bertaso, depois de uma briga familiar, é obrigado a trabalhar na empresa da família. Erico tinha 17, morava no interior e também enfrentava alguns perengues. Oito anos depois, o destino de ambos se cruzava e começa aí, anos 30, a história da editora que de Porto Alegre, longe mais das capitais, tornou-se influente no mercado editorial, a vanguarda brasileira das décadas de 30 e 40. Um Certo Henrique Bertaso é história de homens e livros, de homens apaixonados por livros.


Tá no livro:

Fantoches, o primeiro livro de Erico Verissimo saiu em 1932, com 1.500 exemplares. E vendeu, segundo ele, “uns 400 e poucos”

Sylvia Sidney
A ilustração na capa da primeira edição de Clarissa (7.000 exemplares que levaram cinco anos para se esgotar ) inspirava-se na atriz Sylvia Sidney, “pois era assim que eu imaginava minha heroína, diz o autor

 "Mas ninguém pode conquistar Paris. Paris não é uma cidade e sim um estado de espírito": Mario Quintana para Erico Verissimo quando da ocupação nazista.

Nos anos 30, uma coleção policial da Globo, a Coleção Amarela lançou livros de Edgar Wallace, Agatha Christie, A. C, Bentley, Oppenheimer, Van Dine, Mason, Rinehart, Fletcher, Rohmer, Hammet, Chandler.

Somerset Maugham e Aldous Huxley, entre muitos, foram “descobertas” da Editora Globo. E entre os “foras” está a não publicação de dois best-sellers que estiveram com a editora: E O Vento Levou e O Pequeno Príncipe.


Todos os livros de Erico Verissimo saíram pela Editora Globo. E quando ele assinou o contrato? “Nunca, mas nunca mesmo assinei qualquer contrato com a Globo. E tinha já mais de vinte e quatro livros publicados!. Tudo era feito “no papo”.









domingo, 24 de julho de 2011

Um mistério de Clarice decifrado

Clarice Lispector
“O fofoqueiro que habita em mim tem a maior curiosidade em decifrar de quem Clarice Lispector fala nessa crônica publicada no Jornal do Brasil em 14 de setembro de 1968”.

Assim começava o post que aqui escrevi em fevereiro do ano passado. A tal crônica (que posto abaixo) tratava de um cantor e compositor baiano que ligava pra ela de madrugada. Pra mim, desde a primeira vez que li, era Caetano Veloso. Só podia ser.

Dedé e Caetano Veloso
Bom, agora lendo a coluna de Caetano no Globo (sobre Clarice) ele me confirma. “Há um texto curto de Clarice, escrito para jornal, em que ela relata os primeiros telefonemas que lhe fiz. Honra-me que ela tenha demonstrado surpresa pelo tanto que eu conhecia (e entendia) de seus livros (“Baianos são assim?”, ela se pergunta. Mas assombra-me que ela tenha tido uma reação de starlet mídia-freak: atribui a Dedé, minha namorada na época, um ataque de ciúme que não se deu absolutamente. Ela era bem mulher. Misóginos e amantes das mulheres me entenderão igualmente aqui”.

Pronto: consegui decifrar um dos mistérios de Clarice. “Será que era Caetano??? E Ana, que era ferina com Clarice, Quem será essa Ana??? Quem souber que me conte. Por favor”, assim encerrava o meu post. E porque a vida é louca, porque tudo tá ligado e não existe mistério nenhum nisso, foi o próprio Caetano Veloso quem me contou. Por vias indiretas, certo, mas que Caetano contou pra mim contou.

P.S: Opa, resta ainda uma dúvida: quem era Ana, que estava na reunião e era ferina com Clarice, Caetano?

A crônica de Clarice Lispector:
“Um dia acordei às quatro da madrugada. Minutos depois tocou o telefone. Era um compositor de música popular que faz as letras também. Conversamos até seis horas da manhã. Ele sabia tudo a meu respeito. Baiano é assim? E ouviu dizer coisas erradas também. Nem sequer corrigi. Ele estava numa festa e disse que a namorada dele – com quem meses depois se casou – sabendo a quem ele telefonava, só faltava puxar os cabelos de tanto ciúme. Na reunião tinha uma Ana e ele disse que ela era ferina comigo. Convidou-me para uma festa porque todos queriam me conhecer. Não fui.”

O link pro meu post original:

http://viledesm.blogspot.com/2010/02/clarice-e-o-misterio-do-compositor.html


O link pra coluna do Caetano em O Globo:

http://bit.ly/oF9MRr

terça-feira, 12 de julho de 2011

Querido, sequestrei o seu filme





Há filmes que simplesmente desaparecem depois de ter feito um estardalhaço. Foi assim com Os Delicados (Staircase), que Richard Burton e Rex Harrison estrelaram no em 1969 com direção de Stanley Donen (Cantando na Chuva). Os dois eram famosíssimos (meio os Brad Pitt e George Clooney de então) e interpretavam um casal de cabeleireiros, uma ousadia. Nunca assisti e tenho a maior curiosidade por Os Delicados, que só conheço de fotos.

No site do jornal espanhol ABC, descubro que Os Delicados foi restaurado e vai voltar aos cinemas de lá, depois de ter sido vítima da censura da ditadura de Franco. E o mais maluco: o filme permaneceu tanto tempo no limpo (sem poder ser exibido em nnehum formato) graças ao fato de ter sido “sequestrado” pela última mulher de Burton, Sally Hays, para “proteger a imagem do marido”.

Pra se ter idéia do hype de Os Delicados, o filme chegou a ter uma espécie de versão nacional: Os Machões, estrelado por Reginaldo Faria (também o diretor), Flavio Migliaccio e Erasmo Carlos. Na linha comédia maliciosa, mostra três garotões dando pinta como cabeleireiros pra pegar mais mulheres na zona sul carioca. Sim, a mesma temática de Shampoo, que deu o Oscar a Warren Beatty e rodados três anos depois.







segunda-feira, 13 de junho de 2011

Direto dos anos 70

1970 - Um quarteto da pesada na praia, no Rio

Carlos Vereza, Renata Sorrah, Dina Sfat, Djenane Machado

1973 - "Ela vem meio preguiçosa, falando mole, num tom de voz macio e gostoso, muito quente, muito manso". Ela é Gracinha,

Gal Costa


1974 - O jovem cantor e compositor curtia férias na Bahia

Caetano Veloso

1976 - "O homem mais bonito do cinema nacional", 21 anos, 15 filmes e acabava de filmar Xica da Silva

Stephan Nercessian

1974 - O cara liderava o elenco jovem que cantava e dançava em Godspell, o espetáculo pop da vida de Jesus


Antônio Fagundes

1977 - A jovem promissora, 17 anos, era Beatriz, a filha de Glória Menezes na novela Espelho Mágico


Lídia Brondi



domingo, 5 de junho de 2011

Delícia de baú: comerciais de casais

De repente você vê ali na revista o par do momento – Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert ou Adriana Esteves e Vladimir Brichta, por exemplo – atiçando o consumismo de cada um que os assiste. Sim, a relação casais e publicidade existe desde que fama é fama.
.Biblioteca de Alexandria: um vídeo vai levando a outro, a outro e a “brincadeira” pode durar horas.

Foi assim: primeiro topei com um comercial estrelando Cacilda Becker e Walmor Chagas, no início dos anos 60. E imagens de Cacilda – são raríssimas, me pegam. Ei-la com duas frigideiras fazendo uma demonstração de óleo para Walmor, com teste de fumaça e tudo. Coisa de diva!





Não disse que um vídeo leva a outra descoberta? Então, logo veio Tarcísio Meira e Glória Menezes no início dos 70, faturando no auge da novela Irmãos Coragem. Ela, loura de cabelos compridos e ele, galã total, propagandeiam a “roupa com duas calças da Ducal, em nycron ou tergal”.




Daí lembrei de Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli. Digitei o nome deles e, feito mágica, lá estavam os dois num clima sensualidade para vender colchões. Sem data, mas não resta dúvida: anos 80 na cabeça.




Eva Wilma e Carlos Zara, a dupla do seriado Alô Doçura, viraram o casalzinho do Brasil, quando a TV apenas engatilhava no país. Abaixo, final dos anos 50, os dois a passear ao ar livre e refrescar-se com um sorvete: é comercial do desodorante Mum (delícia de nome). E um quarto de século depois, em 1984, quando Eva e John já não formavam um casal na vida real, eles voltaram a faturar juntos num comercial de televisores.


 

Um perfil escrito por Antônio Maria para celebrar o dia dos 110 anos de Aracy de Almeida

19 de agosto: o dia que seria o dos 110 anos de Aracy de Almeida. E Aracy é uma paixão: as canções, o jeitão, as tiradas, as histórias. Esse...