Ando numa fase completamente
Gilberto Gil, que começou a partir da presença dele no programa do Jô. Gil cantou
várias do novo Concerto de Cordas e Máquina de Ritmo e sereno, sábio, aos 70
anos, contou histórias incríveis. Com Gil na cabeça, separei alguns discos dele
(em LP) que não ouvia há um bom tempo. Gil e Jorge (o prazer e a liberdade de tocar no encontro com Benjor), Gil em Concerto (com
participação de Jorge Mautner, retrospectivo) e O Eterno Deus Mudança, que acabei de escutar.
Daí me veio uma entrevista que fiz com Gil na época (1994, credo quase 20 anos!)
do disco Unplugged MTV, que tinha o título de O Mais Zen dos Baianos (ao lado a
capa da revista).
Gosto muito desse trecho: “Diz o I
Ching e Gil fica atento, pois é admirador do oráculo considerado o mais antigo
livro chinês. O observador mais atento vai encontrar hexagramas do I Ching nas
capas dos discos Luar, Um Banda Um,Extra e Diadorim Noite Neon. Ele conta que
antes de começar o projeto comemorativo (excursão e disco) Tropicália, jogou o
I Ching e recebeu o hexagrama 35 que assim recomenda: um governante esclarecido
e um servo obediente, eis os requisitos para um grande progresso. Gil
reconheceu ali sua porção “servo obediente) e entregou-se ao que chama de “doce
liderança” de Caetano. “Ele é mais racional, mais iluminista. Lidera o processo
e eu vou a reboque. Ao longo de todo relacionamento, tem sido assim”.
Vem cá, alguém que faz essa
análise tem que ser muito seguro de si, né? Nunca esqueci essa parte da entrevista, que é
das minhas preferidas e feita num longo papo telefônico a maior parte. Ah, e nela Gil falava também do rejeitado
pelo público e arrasado pela crítica Eterno Deus Mudança, que chegou a ser
chamado de “disco de vereador”, gravado em 1989, quando estava na Câmara de
Salvador. Justamente o disco que acabei de ouvir e me interessaram várias das
10 faixas. Doidas essas voltas do tempo. No ritmo dele, Gilberto Gil vai construindo
uma carreira impressionante – e não só de cantor e compositor, sua participação
como Ministro da Cultura do governo Lula abriu caminhos e vai ficar para a
história, assim como suas canções. “Minhas músicas são como parentes distantes
que você não pode visitar com frequência”: outro trecho da entrevista.
E no tal Eterno Deus
Mudança, topo com uma daquelas músicas que vale por um disco inteiro e até mais
que um. É Cada Tempo em Seu Lugar (abaixo), para mim uma canção oração – chamo assim
aquelas mais reflexivas que você vai cantando e parece estar a rezar. Exemplos?
Tempo Rei e Retiros Espirituais (Gil), Clarisser (Vitor Ramil), Oração ao Tempo
e Boas Vindas (Caetano), Amor de Índio (Beto Guedes), Tocando em Frente (Almir
Sater, com Bethânia), Everybody Hurts (R.E.M.) e mais algumas e raras que nunca canso de ouvir e nunca
sem lacrimar um bocadinho. Daquelas canções que aclaram e acarinham. Sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário