sábado, 27 de fevereiro de 2016

Os amigos Harper Lee e Truman Capote: O futuro imaginado não chegou

Truman Capote e Harper Lee em 1966
Só em janeiro li O Sol é Para Todos, um daqueles livros para se apaixonar e esquecer jamais. Harper Lee, a autora, morreu há uma semana, dia 19 de fevereiro. Cega, surda e debilitada, estava há vários anos num asilo de sua cidade natal, Monroeville (Alabama). Truman Capote também era de lá, foram amigos de infância e ele é um dos personagens de O Sol é Para Todos.

Em 1976, Paulo Francis entrevistou Capote para a revista Status: “Capote fala como bicha de anedota. Tem 1,55 m de altura e é balofo. Bebe sem parar.” No final da entrevista, Capote, que tinha 51 anos, imagina o fim de sua vida, bem velho. E Harper Lee estava junto, os dois morreriam rindo. A realidade fez que tudo fosse muito diferente (ele morreu perto de completar 60 anos, em 1984). Abaixo, fala Capote.

“Quando eu estiver bem velho, eu e minha amiga Harper Lee vamos montar casa numa cidadezinha do Sul. Não dou o nome, porque, se não, no dia seguinte Jackie Onassis estará lá, nos importunando, ou, mais horrível, Sammy Davis Jr. se oferecendo como servente.
Harper e eu vamos pescar, comer e beber bem e contar às crianças do que escaparam ficando lá, quietinhas, não se metendo nesse mundo idiota. E, fatalmente, ao nos ouvirem, as crianças, comprarão passagens de trem para Nova York, ou o que restar da cidade, depois que Gerald Ford, Jimmy Cartet, Reagan ou outros energúmenos, terminarem de destruí-la. E nós riremos muito. Morreremos rindo.”

E aqui, a voz de Harper Lee em O Sol é Para Todos.

“Coragem é quando você sabe que está derrotado antes mesmo de começar, mas começa assim mesmo, e vai até o fim apesar de tudo. Raramente a gente vence, mas isto pode acontecer.”

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