Truman Capote e Harper Lee em 1966 |
Só em janeiro li O Sol é Para Todos, um daqueles livros
para se apaixonar e esquecer jamais. Harper Lee, a autora, morreu há uma
semana, dia 19 de fevereiro. Cega, surda e debilitada, estava há vários anos
num asilo de sua cidade natal, Monroeville (Alabama). Truman Capote também era
de lá, foram amigos de infância e ele é um dos personagens de O Sol é Para
Todos.
Em 1976, Paulo Francis entrevistou Capote para a revista
Status: “Capote fala como bicha de anedota. Tem 1,55 m de altura e é balofo.
Bebe sem parar.” No final da entrevista, Capote, que tinha 51 anos, imagina o
fim de sua vida, bem velho. E Harper Lee estava junto, os dois morreriam rindo.
A realidade fez que tudo fosse muito diferente (ele morreu perto de completar
60 anos, em 1984). Abaixo, fala Capote.
“Quando eu estiver bem velho, eu e minha amiga Harper Lee
vamos montar casa numa cidadezinha do Sul. Não dou o nome, porque, se não, no
dia seguinte Jackie Onassis estará lá, nos importunando, ou, mais horrível,
Sammy Davis Jr. se oferecendo como servente.
Harper e eu vamos pescar, comer e beber bem e contar às
crianças do que escaparam ficando lá, quietinhas, não se metendo nesse mundo
idiota. E, fatalmente, ao nos ouvirem, as crianças, comprarão passagens de trem
para Nova York, ou o que restar da cidade, depois que Gerald Ford, Jimmy
Cartet, Reagan ou outros energúmenos, terminarem de destruí-la. E nós riremos
muito. Morreremos rindo.”
E aqui, a voz de Harper Lee em O Sol é Para Todos.
“Coragem é quando você sabe que está derrotado antes
mesmo de começar, mas começa assim mesmo, e vai até o fim apesar de tudo.
Raramente a gente vence, mas isto pode acontecer.”
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