Datada de 18 de abril de 1989 - sim, 25 anos, meus deuses -, a carta amarelada retorna volta e
meia às minhas mãos e olhos. Foi escrita por um amigo da cidade onde nasci, uma
daquelas pessoas fundamentais em minha vida. Ele morreu faz muito tempo e essa
carta é a lembrança que guardo e também um quadro, um dos espantalhos em muitos
tons de cinza que costumava pintar. Entre notícias de amigos em comum, ele
falava da situação política daquele final de década e de um homem sombrio que segue aí, firme, a
atormentar governos progressistas. É meio o ovo da serpente. Eis o trecho:
“Esta semana resolvi incitar um pessoal para fazer umas
pichações contra a UDR. Deu certo, os muros da cidade amanheceram pixados.
Agora eu e outros camaradas, vamos fazer uns panfletos de fabricação caseira
com dizeres do tipo:
“Ruralista garanta sua terra
empreste sua mulher pro Caiado”
empreste sua mulher pro Caiado”
Aqui as mulheres têm ataques , enlouquecem quando veem o
Caiado. E os maridos só ficam olhando conformados. Afinal, é o Caiado. Um
fiasco, gritam, se escabelam. Lembram até as histerias dos anos 60.”
P.S: Uma estilista, moça fashion, deu entrevista pra folha se revelando doida de amores por Moro e Cunha. E foi ela que me levou a essa carta, à juvenilia de Caiado.
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