sábado, 30 de abril de 2016

De espantalhos em muitos tons de cinza

Datada de 18 de abril de 1989 - sim, 25 anos, meus deuses -, a carta amarelada retorna volta e meia às minhas mãos e olhos. Foi escrita por um amigo da cidade onde nasci, uma daquelas pessoas fundamentais em minha vida. Ele morreu faz muito tempo e essa carta é a lembrança que guardo e também um quadro, um dos espantalhos em muitos tons de cinza que costumava pintar. Entre notícias de amigos em comum, ele falava da situação política daquele final de década e de um homem sombrio que segue aí, firme, a atormentar governos progressistas. É meio o ovo da serpente. Eis o trecho:

“Esta semana resolvi incitar um pessoal para fazer umas pichações contra a UDR. Deu certo, os muros da cidade amanheceram pixados. Agora eu e outros camaradas, vamos fazer uns panfletos de fabricação caseira com dizeres do tipo:

“Ruralista garanta sua terra
empreste sua mulher pro Caiado”



Aqui as mulheres têm ataques , enlouquecem quando veem o Caiado. E os maridos só ficam olhando conformados. Afinal, é o Caiado. Um fiasco, gritam, se escabelam. Lembram até as histerias dos anos 60.”

P.S: Uma estilista, moça fashion, deu entrevista pra folha se revelando doida de amores por Moro e Cunha. E foi ela que me levou a essa carta, à juvenilia de Caiado.

Nenhum comentário:

Um perfil escrito por Antônio Maria para celebrar o dia dos 110 anos de Aracy de Almeida

19 de agosto: o dia que seria o dos 110 anos de Aracy de Almeida. E Aracy é uma paixão: as canções, o jeitão, as tiradas, as histórias. Esse...