Revista Status, Maio de 1975 |
Status: Na
Revista do Globo, você é quem dava a linha política?
É. E era uma linha definida; eu fazia uma revista que lutava contra a ditadura
de Vargas, e que depois lutou pela libertação de Prestes, pela campanha do
petróleo é nosso...
Status: E
por causa disso, você acabou na Europa?
Eu fui para a Europa, logo depois da guerra, em 1946, por dois motivos:
primeiro, porque todo brasileiro tem certo atavismo, né? Mesmo em terceira
geração, vive olhando pra Europa. E eu, de tanto ler literatura francesa,
queria ir para a Europa. E o segundo motivo é que como não pude ir para os
Estados Unidos fui para a Europa. Proibido de ir para Siracuse fui para
Siracusa.
Status: o
motivo político
Eu tinha tomado umas posições de esquerda e estava, politicamente, muito ilhado
aqui. Foi quando recebi um convite do Ministério da Educação dos Estados Unidos
para dar um curso de literatura numa grande universidade de Nova York, a de Siracuse.
Aquilo era uma honra, sobretudo porque eu era um cara jovem. É que, durante a
guerra, tinha vindo ao Brasil um coronel - era um professor, mas vestido de
coronel - junto com o John Ford, aquele
diretor de cinema. Vieram fazer filmes documentários para esse negócio de
guerra e eu é que acompanhei os dois no Rio Grande do Sul. Depois, o tal
professor-coronel chegou a Ministro da Educação dos Estados Unidos. E quando a
universidade pediu pra ele um professor de literatura brasileira, ele se
lembrou de mim.
Status: E
você não pode ir?
Pois é. Teve até um banquete oferecido pela Assemblía do Rio Grande e eu aí me
enfeitei todo e disse vou-me embora. Pedi licença na Livraria do Globo, que já
tava querendo se livrar de mim porque eu estava fazendo uma revista praticamente
comunista, embora não fosse filiado ao partido e nem pensasse nisso. Tudo
pronto, fui pedir o visto no Consulado e o que aconteceu? Fui uma das primeiras
pessoas a ter visto negado pelos Estados Unidos. Em boa companhia: o Dante
Santoro, aquele compositor clássico, que tinha recebido um prêmio nos Estados
Unidos e ia buscá-lo; o Picasso, na França, que tinha pedido o visto e acabou
nunca embarcando, e eu.
Status: Você
foi considerado um inimigo do Estados Unidos?
Eu cheguei, pedi o visto e o cônsul me disse: "Não podemos lhe dar o visto porque você é inimigo dos Estados Unidos". Aí eu disse: "Poxa, eu passei a guerra toda lutando a favor da causa aliada, contra o nazismo, contra a gestapo no Brasil, o facismo, integralismo, o diabo a quatro, que negócio é este?" Ele então abriu uma gaveta e me mostrou um dossiê com tudo que era reportagem minha sobra a campanha do petróleo, Monteiro Lobato, essas coisas, e me disse esta frase: "Você pode dizer tudo o que quiser contra o Governo americano, mas você escreveu contra a Standard Oil, que é que eu posso fazer?" Era uma época em que a Standard Oil pagava páginas inteiras nos jornais do Brasil com histórias em quadrinho, "provando" o mau negócio que o Brasil faria se nacionalizasse a riqueza do subsolo.
Eu cheguei, pedi o visto e o cônsul me disse: "Não podemos lhe dar o visto porque você é inimigo dos Estados Unidos". Aí eu disse: "Poxa, eu passei a guerra toda lutando a favor da causa aliada, contra o nazismo, contra a gestapo no Brasil, o facismo, integralismo, o diabo a quatro, que negócio é este?" Ele então abriu uma gaveta e me mostrou um dossiê com tudo que era reportagem minha sobra a campanha do petróleo, Monteiro Lobato, essas coisas, e me disse esta frase: "Você pode dizer tudo o que quiser contra o Governo americano, mas você escreveu contra a Standard Oil, que é que eu posso fazer?" Era uma época em que a Standard Oil pagava páginas inteiras nos jornais do Brasil com histórias em quadrinho, "provando" o mau negócio que o Brasil faria se nacionalizasse a riqueza do subsolo.
Abaixo, alguns anúncios da Standard Oil (Shell) nos anos 40
Diario de Noticias, 1945 |
O Cruzeiro |
A Cigarra, 47 |
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