Patricia Highsmith e William Burroughs. Arte by B. |
"Tudo me leva a crer
que em breve terei um gatinho", ouço de minha amiga Marcia. Ela escreve no
Instagram, como comentário a uma foto de Nina, a gata aqui de casa. "Pra
se decidir, se ainda não leu, aí vão dois livros", respondo. E são esses os dois livros maravilha que indiquei: Os Gatos,
da Patricia Highsmith e O Gato Por
Dentro, de William Burroughs. Ambos saíram na série pocket da LPM e são
facilmente encontráveis em qualquer banca de revista - e por preços
convidativos. Leitura rápida. Quer dizer, leitura rápida a primeira. Já voltei
a eles muitas vezes. Gateiros vão se deliciar e quem ainda não os descobriu, pode
encontrar um mundo novo.
Quem já se encantou por eles
sabe que Highsmith (O Talentoso Ripley,
Carol) e Burroughs (Almoço Nu, Junky) não eram o que se pode chamar de escritores convencionais,
pessoas "certinhas" - e quem o é?
Os
Gatos, o livro de Patricia Highsmith tem três histórias (e que
histórias) protagonizadas por felinos, três poemas (e que poemas) e acaba com
um ensaio (Sobre Gatos e Estilos de Vida) simples, divertido e elucidativo. Dois
trechinhos e um poema.
"Se me pedissem para
completar a frase: "Eu gosto de gatos porque...", duvido que ganhasse
algum prêmio, mas sei o que gosto neles e por quê. Gosto de gatos porque eles
são elegantes e silenciosos, e têm efeito decorativo: uns leõezinhos razoavelmente
dóceis andando pela casa."
"Os gatos escondem um
senso de travessura por trás da expressão serena. Já vi ambos os meus gatos
procurarem o colo de um visitante que é alérgico, ou que detesta gatos abertamente."
O
filhote
Tudo no mundo
foi feito para eu brincar:
Gafanhotos, pés de cadeiras, petit-pois,
Sombras, bolas de poeira e meu próprio rabo.
Há tantos cantinhos, portas entreabertas,
E forros de coisas para olhar,
Tantos lugares para ir, que fico doido
De não poder estar em todos eles ao mesmo tempo.
E então me canso.
Tudo no mundo
foi feito para eu brincar:
Gafanhotos, pés de cadeiras, petit-pois,
Sombras, bolas de poeira e meu próprio rabo.
Há tantos cantinhos, portas entreabertas,
E forros de coisas para olhar,
Tantos lugares para ir, que fico doido
De não poder estar em todos eles ao mesmo tempo.
E então me canso.
O Gato Por Dentro, o de William Burroughs, é muito bem resumido no comentário da Harper´s Bazaar estampado na capa: "Um livro sobre o convívio com gatos pôs Burroughs em contato com seu próprio eu." É isso mesmo. E tudo em textos curtos e encantadores de tão intimistas e confessionais. Trechinhos:
"Nos últimos anos,
tornei-me um dedicado amante de gatos, e agor reconheço a criatura claramente
como um espírito felino, um Familiar."
"O gato não oferece
serviços. Ele se oferece. Claro que ele quer carinho e abrigo. O amor não é de
graça. Como todas as criaturas puras, os gatos são pragmáticos."
"Há quinze anos sonhei
que tinha pego um gato branco com linha e anzol. Por algum motivo, estava prestes
a rejeitar a criatura e jogá-la de volta, mas ela começou a se esfregar contra
mim e a miar de um jeito comovente."
"Muito mais tarde eu
descobriria que fui escalado para o papel do Guardião, para criar e alimentar
uma criatura que é parte gato, parte humana e algo ainda imaginável, que pode
resultar de uma união que não acontece há milhões de anos."
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