segunda-feira, 12 de abril de 2021

Enfim, imagens raríssimas de Cacilda Becker na TV

Cacida, Homero Kossac, Mauro Mendonça, Fabio Junior

É praticamente sinônimo da profissão atriz o nome de Cacilda Becker. E nome ligado ao teatro, são pouquíssimas as imagens de Cacilda - a principal é Floradas na Serra, filme de 1954. Pois bem: a TV Bandeirantes "descobriu" em seus acervos 60 horas de gravações da atriz e ontem, na esteira do centenário de Cacilda, em 6 de abril, exibiu - infelizmente sem muito alarde - Breve Encontro, no Arte 1, canal pago do grupo Bandeirantes. 

Breve Encontro foi uma das edições do Teleteatro, programa que Cacilda comandava na emissora, gravado e exibido entre março e setembro de 1968 e que acabou com ela dispensada da emissora (e por carta) por interferência da censura. A implicância não era com os textos - clássicos da dramaturgia - mas com Cacilda, com a atuação política dela. Os programas eram para "maiores de 18 anos" e exibidos pelas onze da noite. "Mas o que se pode esperar de uma censura que proíbe Casa de Bonecas, de Ibsen, alegando que a mesma tratava de pederastia, tomando como base o título?", disse ela em matéria publicada pela Folha em 14 de setembro de 1968.

Nessa época, o videotape havia chegado há poucos anos, as novelas ainda investiam em textos estrangeiros adaptados. Logo começaria a virada rumo á modernização com Beto Rockfeller, na TV Tupi, que estreou em novembro de 1968. A Globo só investiria em tramas mais atuais no ano seguinte, com Véu de Noiva, de Janete Clair, que em junho de 1969 substitui a "capa e espada" Rosa Rebelde, também de Janete. E falando em novelas, Cacilda só participou de Ciúme (1966), das qual só existem raríssimas fotos. 

Breve Encontro é adaptação de Still Life, peça de Noel Coward sobre dois amantes ali perto dos 40 anos, ambos casados, com o peso e a culpa daquela relação, que teve pelo menos duas adaptações famosa no cinema. A primeira foi Desencanto (Brief Encounter), pelo então jovem David Lean em 1945, com Celia Johnson e Trevor Howard. Mais de 40 anos depois, em 1984, a história foi revivida em A Difícil Arte de Amar (Falling in Love), de Ulu Grosbard, com Meryl Streep e Robert De Niro. Há também o telefilme, Ligações Proibidas (Brief Encounter), de 1974, estrelado por Sophia Loren e Richard Burton. 

É uma bela (e moderna, atual) atuação de Cacilda, então com 47 anos (a personagem tem 38), e foi um prazer assistí-la por uma hora e meia. No elenco, Homero Kossac (o amante), Mauro Mendonça (o marido), Elizabeth Hartman (a amiga faladeira) e Fabio Junior, que tinha então 14 anos, em uma cena apenas, como filho de Cacilda. 

Cacilda Becker em Breve Encontro

A Bandeirantes está digitalizando o "acervo" de Cacilda e promete exibir as 60 horas de gravação. O Teleteatro de Cacilda Becker na Bandeirantes era dirigido por Walter George Durst (1922-1997), que assinou a adaptação de Gabriela com Sonia Braga, por exemplo. Na equipe também Ody Fraga (1927-1987), que se transformaria num dos diretores mais interessantes e criativos das pornochanchadas da Boca do Lixo. 

No livro Fúria Santa, a excelente bio de Cacilda escrita por Luis André do Prado e publicada em 2002, há uma relação das peças gravadas pelo programa e com avaliações de Durst. E com a observação: "os originais permanecem preservados no acervo da emissora". Só faltava dizer que à espera de restauração, o que só ocorreu agora. Abaixo a lista: 

A Grande Mentira (**); 39 Degraus (*), A República dos Cinco (Cacilda não atua); A Vaidosa (***), A Despedida de Solteiro (Cacilda não atua); Inês de Castro (***), Breve Encontro (***); Casa de Bonecas (**); Anastácia (-); Sempre Carmem (**), Vitória Amarga (**); Nunca é Tarde (-).             Avaliação: * = Fraco; ** = Bom; *** = Ótimo

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