Grande Otelo faria 99 anos
hoje. Ele foi imenso. Dia desses revi Macunaíma na televisão e não conseguia
tirar os olhos dele. Sempre que Otelo me vem à cabeça, penso em Joana Fomm
falando dele com muito carinho nas nossas conversas que resultaram no livro
Minha História é Viver (Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial de SP). Há pouco,
quando soube dos 99 dele, abri o livro e voltei a me deliciar com Joana falando
dele. Em Macunaíma, ela interpreta a feiticeira que transforma Grande Otelo em
Paulo José e o trecho abaixo eu tirei de um perfil dele (Otelo, o Grande, num
diálogo simples e franco) que Joana escreveu no jornal Última Hora, em dezembro
de 1969. Segue abaixo, exatamente como está no livro.
Joana Fomm e Grande Otelo em Macunaíma |
“Otelo fazia o papel de Macunaíma
quando criança, andava com uma camisolinha de neném e uma chupeta na boca pra
lá e pra cá. Ninguém notava, pois aquela figurinha já fazia parte do cenário.
Quando o diretor lhe pedia para fazer uma careta, a figurinha se transformava e
todo mundo em volta morria de rir.Agora chora, Otelo. E ele derramava lágrimas
e mais lágrimas, deixando-nos emocionados. Uma vez lhe perguntei: olha, eu sei
que a gente ri e chora, mesmo, quando é preciso. Concentra um pouco, pensa no
personagem, procura na memória alguma coisa parecida e manda ver. Mas você...
diz pra rir, ri; manda chorar, chora. Tudo num estalo, sem truque. Como é que
você consegue isso? Meu querido colega me olhou espantado e respondeu: Mas
Joana, eu estou fazendo isso há 50 anos. É a minha profissão. Eu vivo disso. O
que você queria? Foi a primeira vez que me passou pela cabeça que, dependendo das
necessidades, da intuição e talento, Stanislavski e companhia podiam ser nada.
Foi aí que comecei a conhecer o Grande – com ele não tinha porém.”
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