Começo da década de 70. Dois
amigos da classe trabalhadora, ambos ali pelos 30 anos, sonham junto com outros companheiros um
partido popular. Em volta deles, a vida acelerada: casamentos, filhos, a
amizade, as crises do país, a política, o sindicato.
E não é que no começo dos 80
a fundação do partido vinga? Mais lutas, prisões, filhos, política, o país em
crise e isso se acentuando. No começo do novo século o tal partido assume o
poder e um deles é eleito presidente.dois amigos lá do início
já não estavam no mesmo partido, o convívio diário pertencia ao passado, mas as
famílias deles seguiam unidas. Os filhos de um se consideravam irmãos dos
filhos do outro, as mulheres eram amicíssimas. ~~ Família, família / Papai,
mamãe titia ~~~: assim era e pouco importavam os laços sanguíneos.
E a vida correndo acelerada.
Um dos amigos adoece, há um reencontro entre os dois e a convivência é
retomada. Um sítio, comprado pelo amigo que não chegou à presidência, serve de
ponto de encontro para as famílias dos dois, quando a velhice batia à porta. O
amigo que fora presidente transformou o país, diminuindo as diferenças sociais,
saiu do governo com altos índices de popularidade e começou a sofrer uma
perseguição.
O sítio, lugar de convívio
das duas famílias, vira um caso de polícia, manchetes diárias de jornais e TVs,
local de lavagem de dinheiro da corrupção. O amigo dono do sítio, agora com
quase 80 anos, sofre de Parkinson e quase não sai do apartamento no litoral
paulista. O outro amigo, 73 anos, o melhor presidente que esse país já teve,
está preso por uma arapuca semelhante: um triplex mais pra puxadinho. Em comum
entre o sítio e o triplex o fato de que o tal amigo que virou presidente não é
o proprietário de nenhum dos dois.
Depois de sete meses no cárcere,
foi depor no tal processo do sítio. E essa história dos amigos Lula e Jacó Bittar,
o dono do sítio de Atibaia, tirei do depoimento do eterno presidente, pleno de coerência em
todas as falas, mesmo que juízes não queiram. A amizade de 40 anos cinicamente tratada
como se associação criminosa fosse. E fiquei imaginando o que teria acontecido
com Getúlio Vargas se não tivesse se suicidado. Ou com Juscelino Kubitschek se
o tal acidente não tivesse acabado com sua vida. Teria eles sofrido tal
perseguição? Teriam ido presos? Teriam aguentado?
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