sábado, 17 de novembro de 2018

Dois amigos, a vida e um sítio



Começo da década de 70. Dois amigos da classe trabalhadora, ambos ali pelos 30 anos,  sonham junto com outros companheiros um partido popular. Em volta deles, a vida acelerada: casamentos, filhos, a amizade, as crises do país, a política, o sindicato.

E não é que no começo dos 80 a fundação do partido vinga? Mais lutas, prisões, filhos, política, o país em crise e isso se acentuando. No começo do novo século o tal partido assume o poder e um deles é eleito presidente.dois amigos lá do início já não estavam no mesmo partido, o convívio diário pertencia ao passado, mas as famílias deles seguiam unidas. Os filhos de um se consideravam irmãos dos filhos do outro, as mulheres eram amicíssimas. ~~ Família, família / Papai, mamãe titia ~~~: assim era e pouco importavam os laços sanguíneos.

E a vida correndo acelerada. Um dos amigos adoece, há um reencontro entre os dois e a convivência é retomada. Um sítio, comprado pelo amigo que não chegou à presidência, serve de ponto de encontro para as famílias dos dois, quando a velhice batia à porta. O amigo que fora presidente transformou o país, diminuindo as diferenças sociais, saiu do governo com altos índices de popularidade e começou a sofrer uma perseguição.

O sítio, lugar de convívio das duas famílias, vira um caso de polícia, manchetes diárias de jornais e TVs, local de lavagem de dinheiro da corrupção. O amigo dono do sítio, agora com quase 80 anos, sofre de Parkinson e quase não sai do apartamento no litoral paulista. O outro amigo, 73 anos, o melhor presidente que esse país já teve, está preso por uma arapuca semelhante: um triplex mais pra puxadinho. Em comum entre o sítio e o triplex o fato de que o tal amigo que virou presidente não é o proprietário de nenhum dos dois.

Depois de sete meses no cárcere, foi depor no tal processo do sítio. E essa história dos amigos Lula e Jacó Bittar, o dono do sítio de Atibaia, tirei do depoimento do eterno presidente, pleno de coerência em todas as falas, mesmo que juízes não queiram. A amizade de 40 anos cinicamente tratada como se associação criminosa fosse. E fiquei imaginando o que teria acontecido com Getúlio Vargas se não tivesse se suicidado. Ou com Juscelino Kubitschek se o tal acidente não tivesse acabado com sua vida. Teria eles sofrido tal perseguição? Teriam ido presos? Teriam aguentado?



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