Elis Regina e Caio Fernando Abreu |
"Sempre acho que a gente pode continuar querendo agradar a quem já morreu. Gosto de pensar que quem já morreu fica lá num lugar quentinho, que a gente não vê, cuidando de quem ainda não morreu. E se você quiser agradar a essa pessoa, é só fazer coisas que ela gostava. Aí ela fica ainda mais quentinha e cuida ainda melhor da gente"
Está lá, logo no começo do
infantil As Frangas, um Caio Fernando Abreu fundamental e dos meus preferidos do
escritor. E hoje seria o dia dos 75 anos de Elis Regina, Caio F., que era três
anos mais novo, a adorava e adoraria homenageá-la. Para agradar a Ele e a Ela, catei a foto dos dois juntos lá em cima e acho que a copiei da Paula Dip que, acredito, deva ser a Paula citada logo abaixo. E vou copiar um trechinho da relação dos dois, que tinham três anos de diferenças.
É um parágrafo da crônica escrita logo após a morte de Elis Regina (no fim)
"Mas se ainda ontem,
todo domingo de manhã, eu ia ao cinema Castelo assistir você cantando no
Programa Maurício Sobrinho, da Rádio Gaúcha. Você vinha, com aqueles vestidos
repolhudos, cantar Banho de Lua e aquelas versões tipo Fred Jorge (Vixe, como
tô velho, guria!). No fim, todo mundo aplaudia em pé, dançava, e cantava junto.
Depois, feito a Janis Joplin fez com Port Arthur, você saiu de Porto Alegre.
Foi ser estrela na vida. Falavam mal, então, como falavam mal: porque isso,
porque aquilo, que você chiava feito carioca, que era metida, que nem parecia
ter saído ali do Partenom, que parecia que tinha Deus na barriga (descobri
depois que você tinha mesmo, não na barriga, mas na voz). Nunca mais te vi ao
vivo, só no finzinho do ano passado, no Anhembi. De repente você disse que
queria falar com Deus. Eu me arrepiei. Parecido com quando você cantava Atrás
da Porta. Ou quando, naquele inverno comprido, eu atravessava noites bebendo
conhaque, ouvindo As Aparências Enganam. Uma vez, a Paula bateu na porta
enquanto você cantava sobre esses enganos, essas aparências."
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