Amazônia em chamas e não me sai da cabeça este texto, que me veio via Maria Bethânia, sempre ela. Era parte do show Estranha Forma de Vida, de 1981.
É o texto-carta de um chefe índigena americano que, há mais de 150 anos, “antevia toda a salada ecológica que o homem branco começava a preparar”, nas palavras de Fauzi Arap, que dirigiu o show de Bethânia.
Abaixo o "texto-carta" do chefe indígena americano.
TEXTO DO ÍNDIO
Em 1854, há mais de 120 anos atrás, o presidente dos Estados Unidos fez uma oferta aos índios para a compra de uma grande extensão de suas terras, oferecendo em troca a concessão de uma outra reserva. A resposta do chefe índio, recentemente difundida pelas nações unidas, é considerada um dos mais belos pronunciamentos já feitos em defesa do meio ambiente.
"Como se pode comprar ou vender
o firmamento? Essa ideia é desconhecida para nós. Se não somos donos da
frescura do ar e do fulgor das águas, como poderão ser comprados? Cada porção
dessa terra é sagrada para o meu povo. Cada brilhante mata de pinheiros, cada
grão de areia nas praias, cada gota de orvalho nos escuros bosques, cada colina
e até o som de cada inseto, tudo é sagrado ao passado e à memória do meu povo.
Os mortos do homem branco esquecem o seu país de origem quando empreendem seus
passeios entre as estrelas. Os nossos mortos, no entanto, não podem nunca
esquecer essa bondosa terra, pois que ela é a mãe dos pele-vermelhas. Somos parte da terra, assim como ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os escarpados penhascos, os úmidos
prados, a grande águia, o calor do corpo do cavalo, o homem, todos pertencemos
a mesma família.
Por tudo isso, quando o grande chefe
de Washington nos envia mensagem de que deseja comprar nossas terras, ele nos
está pedindo demasiado. Também nos diz o grande chefe que nos reservará um
lugar onde possamos viver confortavelmente entre o nosso povo. Ele se
converteria em nosso pai e nós em seus filhos. Por isso consideraremos a oferta
para comprar nossas terras, mas se lhes vendermos a terra devem ensinar a seus
filhos que são sagradas. Os rios são nossos irmãos e também são seus. Portanto
devem tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão. Mas isso talvez
seja porque o índio é um selvagem e não compreende nada. Que o barulho somente
parece insultar nossos ouvidos. Depois de que serve a vida se o homem não pode
escutar o grito solitário do noite bó? O ar...O ar tem um valor inestimável
para um pele-vermelha já que todos compartilham do mesmo alento, a besta, a
árvore, o homem: todos respiramos o mesmo ar.
O homem branco parece não ter
consciência do ar que respira, como um moribundo que agoniza durante dias
insensível ao fétido odor. Eu vi milhares de búfalos apodrecendo nos prados,
mortos a tiros pelo homem branco de um trem em marcha. Eu sou um selvagem e não
posso compreender como uma máquina fumegante pode importar mais que um búfalo
que nós matamos apenas para sobreviver. O que seria do homem sem os animais? Se
todos fossem exterminados o homem também morreria de uma grande solidão
espiritual. Porque tudo que suceder aos animais também sucederá ao homem. Tudo
está entrelaçado. O homem não teceu a trama da vida, ele é somente um rio. Tudo
que ele fizer com a trama ele fará a si mesmo. Tudo está entrelaçado. Tudo que
correr à terra ocorrerá aos filhos da terra. Contaminem os seus leitos e uma
noite perecerão afogados em seus próprios resíduos. Aonde está a floresta
espessa de escuridão? Onde a grande águia nos apareceu termina a vida e começa
a sobrevivência." (E Bethânia emenda o texto com Rosa dos Ventos).
O SHOW
Há alguns anos o show Estranha Forma de Vida estava no Youtube, fui procurar agora e não encontrei - só esse trecho:
Nenhum comentário:
Postar um comentário