Desencavaram uma entrevista
de Bernardo Bertolucci em 2013 com sua “confissão” de que Maria Schneider,
enganada por ele e Marlon Brando, entrou de gaiata na famosa cena da manteiga
em O Último Tango em Paris.
Ela tinha 58 anos quando
morreu em 2011 e abordou o tema várias vezes em suas entrevistas. “Meu Deus, eu
não sabia no que estava me metendo”, disse para Garth Pearce, do Sunday Times,
em matéria que foi capa do Caderno 2 do Estadão em junho de 1998: “Lições do
último Tango”. E na 2ª página, após, o
título “Maria Scheneider não perdoa Bertolucci até hoje” vinha “A atriz acha
que caiu numa armadilha ao fazer Último Tango e reclama que foi usada pelo
cineasta. De Marlon Brando ela não tinha mágoas.
A ótima entrevista não se
detinha apenas no Último Tango, abordava outro escândalo na vida da atriz: o
caso com Joana Townsend, “o primeiro em que uma atriz famosa por sua sensualidade
nas telas veio a público declarar-se lésbica. Só em 1997, quando Anne Heche declarou-se
apaixonada pela comediante Ellen DeGeneres, ocorreu algo da mesma magnitude”. Outro
tema é a paternidade: Ela não conheceu o pai, o ator francês Daniel Gelin, até
os 16 anos.
Abaixo alguns trechos:
“Parece que Hollywood e os
agentes das atrizes não aprenderam nada depois de tudo o que ocorreu; eles
continuam a escalar atores velhos para contracenar com atrizes novinhas, nunca
ao contrário. Nunca se leva em conta o efeito que essas cenas poderá ter sobre
essas jovens e, acredite em mim, mais cedo ou mais tarde esse efeito aparecerá.”
“Nunca perdoei Bertolucci
por isso e nunca mais falei com ele. Ele tem uma personalidade forte e
manipulativa, nunca tive um bom relacionamento com os homens e, olhando para
trás, Bertolucci me usou. Na época eu achava que a nudez era bela e não tinha
problemas para tirar a roupa, mas acabei caindo numa armadilha por causa dessa
fantasia.”
Maria Scheneider, porém, não
sente a mesma animosidade em relação a Marlon Brando, a despeito do fato de ele
ter ganho US$ 3 milhões para fazer o filme, enquanto ela recebeu meros US$ 3
mil. “Nós conversamos pelo telefone regularmente e tenho enorme respeito por
Marlon Brando, tanto como ator como qualquer pessoa. Nunca houve atração sexual
entre nós. Pessoas que eu nem conhecia vinham me perguntar se fizemos sexo de
verdade naquelas cenas, o que é absolutamente ridículo.”
Na maior parte do tempo,
conversar com Maria é o mesmo que falar com alguém que enfrentou toda uma vida
dura de pobreza, infelicidade profunda e promessas não cumpridas. O dinheiro
que ganhou no início da carreira foi todo gasto em cocaína e, por pouco tempo,
também com heroína. “Eu tentava esquecer quem eu era, no que tinha me
transformado. Não estou usando a minha fama em O Último Tango em Paris como
desculpa, mas estou aberta a sugestões e
de qualquer forma as drogas são coisas do passado e eu me livrei delas.”
Aqui, duas matérias anos 70, ambas da revista O Cruzeiro. A primeira sobre o relacionamento lésbico citado aqui. Abaixo

Aqui, quando ela esteve no Brasil em 1980. Vale ler a abertura, quer dizer, um bullying vergonhoso. e olha que a revista era "séria": "Como na Geni da música do Chico Buarque, atiraram muitas pedras na Maria Schneider: "Ela não tem nada a mostrar, parece mais trombadinha do que artista de cinema, parece que não sabe que a escova de cabelo já foi inventada..." Chegando ao Brasil para participar, em São Paulo, da semana do cinema francês, Maria Schneider provocou decepção quase geral. A atriz de O Último Tango em Paris, conhecida também como a "menina da manteiga", "não é mais aquela", disseram. Seu corpo de mulher "boa", conforme a linguagem daqueles para quem mulher é algo consumível, sumiu, desapareceu. O que sobrou? Para a maioria das pessoas, sobretudo para os homens que se aproximaram, muitos com propósitos não confessáveis, não sobrou nada. Aliás, sobrou algo que não tem nada a ver com a mulher desejada: alguma coisa sem forma, magrinha, feinha. Indignaram-se: "Mulher, e artista por cima, com aquele ar de moleque desajeitado, onde já se viu? E, além de tudo isso, ela tem a suprema ousadia de esnobar jornalistas. Devia se dar feliz por tudo mundo correr atrás para entrevistá-la."
