segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Em pleno verão - Parte 1

Começou por acaso: passou minissérie da Elis Regina na Globo, lembrei de uma foto dela, do título do disco de 1970 e postei no Facebook. A partir daí fui garimpando vários outros artistas no calor do verão, a maioria no começo dos anos 70. As fotos vêm de várias publicações, algumas disponíveis no online da Biblioteca Nacional e outras de recortes que coleciono. Abaixo as primeiras dez (12 artistas) e na ordem em que foram pro facebook. Aqui elas ficam juntinhas e é mais fácil de achar. E vai ter uma segunda parte? Provavelmente, sei lá se com dez.

Elis Regina no verão 1969. Foto: Walter Firmo.

Caetano Veloso no de 1972, recém chegado do exílo londrino

Gal Costa nas Dunas da Gal, começo dos anos 70. Essa tem uma história: postei no twitter há vários anos. E segundos após a surpresa: Gal, que era assídua no twitter de então, curtiu a foto.

Antonio Pitanga e Vera Manhães: Verão 1975

A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo
Ana Maria Magalhães no verão 1971

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Joana Fomm e Leila Diniz no verão de 1967


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
Betty Faria no verão 1963

A imagem pode conter: atividades ao ar livre
Rita Lee no verão 1975, na Bahia
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Lídia Brondi no verão de 1977

A imagem pode conter: 1 pessoa
Gilberto Gil no verão 1981

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Houve um revólver na minha vida. E fuzil também

Um trezoitão foi personagem de minha infância. Episódio difuso, enigmático, envergonhado, repleto de sombras: só fui saber mais dele quando cresci um pouco.  Foi assim: era de meu pai e habitava as alturas, o topo de um guarda-roupas. Certo dia, alguém da família enfrentava as agruras do crescimento e recorreu a ele para acabar com os problemas que o afligiam. Quais? Nem sei, quer dizer, acabei descobrindo mais ou menos, mas isso não interessa aqui. O jovem desesperado não morreu, foi socorrido, a vida dele tomou outros (e religiosos) rumos e segue vivo após esses anos todos. Meu pai teve problemas por ser o dono da arma, mas tudo se resolveu.

A partir desse episódio, tomei horror de revólveres e afins. O trezoitão seguiu morando no fundo de alguma gaveta, eternamente descarregado e enferrujando. Lembro que diante de qualquer barulho no quintal quando estava em casa sozinha com os filhos, a mãe berrava: "Traz o revólver". Era simplesmente para assustar o pretenso ladrão. E isso - "traz o revólver" - virou meio um bordão nosso.

Quando adolescente, acompanhei certa vez um vizinho um ou dois anos mais velho para caçar aves, só que eu fazia barulho pra afastar a futura vítima (salvei várias perdizes) e nunca mais fui convidado. E houve depois o período forçado no quartel, treinamento de tiros com fuzil obrigatórios e eu odiava aquilo (os tiros e a vida militar). Geralmente era à noite e eu simplesmente dispensava o alvo e atirava pra cima pra ver o traçado da bala, muitas vezes cantando pra mim Imagine, o hino de John Lennon. Devo ter sido o pior dos atiradores da tropa e provavelmente o melhor apreciador daquelas linhas vermelhas, o vôo traçante das balas. O horror à armas de fogo segue firme, assim como o desprezo àqueles insanos que pretendem armar a população.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Quem não tem colírio usa óculos escuro na capa do disco

Algumas ficaram fora da seleção abaixo. Fotomontagem by B.
O título vem de Raul Seixas e isso aponta que ele, claro, merece abrir essa seleção de capas de discos com óculos escuros. Havia opções, mas adoro essa.


Bob Dylan também mereceria abrir aqui. Infidels é daquelas marcantes e o modelo usado por ele é chamado até hoje de "óculos Bob Dylan".


E Elton John? A imagem do homem de Rocket Man é muito associada aos óculos e ele os colecionava (ou coleciona?) os modelitos mais extravagantes., como o dessa coletânea oficial e dos primeiros anos de Elton.


E Lou Reed Walk on the wild side




E Marina Lima? Olha é das raras cantoras brasileiras a posar atrás de lentes escuras na capa de disco. 


Marina das raras sim, deve ter muito mais, claro. Aqui Nara Leão com o Pão de Açúcar como moldura em um de seus últimos discos. Maravilhosa.



Aquele de Cartola tomando um cafezinho numa xícara verde com pires rosa e segurando um cigarro é antológico, mas escolhi outro bem simpático. E em preto e branco.



Também em preto e branco o negro gato Luiz Melodia na capa maravilhosa.


Quem não tem colírio usa óculos escuro, né Bob Marley.


Difícil escolher a melhor das capas com óculos escuros de Stevie Wonder. Essa de Music of My Mind é divina.



Na linha soul, essa capa de Isaac Hayes é enfiar os cinco dedos :)


E Aretha Franklin, fazendo charme e meio Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo.



Diana Ross sob a lente anos 80 total.

E Patti Smith


Freddie Mercury solando e de regata branca no calor dos anos 80 

Cazuza disse que tinha que estar aqui. Está de óculos escuros numa coletânea cafona, mas vou quebrar a regra capa para incluí-lo aqui na contracapa de Ideologia. Ele merece.


Brown, Carlinhos: cheio de charme.



Chico César em estado de poesia

Beatle não pode ficar de fora. Né, George Harrison.


John Lennon é meu Beatle preferido. Não aparece nessa capa, que é do disco da Yoko, que também não aparece. o sangue nos óculos diz tudo.



Mas só tem velharia? Só. Reclama não que aí vai uma Lady Gaga pro século 21 não ficar de fora.


Pra não dizer que a única século 21 é uma gringa, Anitta

E Caetano Veloso? Olha, dessa vez fica de fora. Ele até aparece de óculos na capa do disco de 1987, mas é de grau, não escuro e é preciso ter critérios pros escolhidos. 

Essa seleção podia não acabar: capa com óculos escuros não falta. Aqui alguns: o seu preferido ficou de fora? Acontece :)







quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A história das canções: Coração Selvagem

Belchior em 1978. Foto de Ricardo Azoury
A canção é em homenagem ao mito da adolescência do autor. Quem conta é o próprio Belchior, em depoimento a Ronaldo Bôscoli, publicado na revista Manchete em 1978, quando ele lançava o disco Todos os Sentidos. Coração Selvagem é faixa título do disco do que havia saído no ano anterior. Em 1999, ele a regravou no CD duplo Auto-Retrato, só com releituras de seus clássicos.

James Dean e Sal Mineo
"Hoje gravo na WEA, onde já realizei dois LPs, Coração Selvagem, em homenagem a James Dean, de quem esqueci de dizer que sou fã desde os tempos do nordeste. Coração Selvagem, canção dedicada ao mito de minha adolescência. Compus a música no aniversário de sua morte; aliás, no mesmo período, tempos depois, morria apunhalado Sal Mineo. James Dean era um profundo desespero interior e ao mesmo tempo uma grande delicadeza. Possuía também a estranha violência dos animais mortalmente feridos. De Dean só não cultuei a volúpia pela velocidade. Até hoje não tenho carro. Sou um poeta com os pés no chão... Cinema é uma arte que me fascina porque é total. Essa vontade de um dia ser ator vai acabar me matando."

A gravação original, 1977


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A história de duas gatas




Primeiro dia do ano em Parati, há três anos. Ele caminhava pelas ruas de calçamento irregular, maravilhado com tanta beleza. Não era sua primeira vez na cidade, mas voltava depois de muitos anos, mais de 30, e havia algo de descobrimento e memórias naquela caminhada. O olhar detido em um casarão onde fora muito feliz na primeira estada e, de repente, sente algo roçar em suas pernas. Era uma gata malhada e ele amava os felinos, criava alguns. O olhar abandonou as lembranças e passou a acarinhar a pequena, a conversar com ela, a falar dele, do ele que era e do que fora. Alguns minutos ali e foram interrompidos por alguém que o chamou. Seguir era preciso e ele se foi, sem olhar para trás, com a gata em seus pensamentos. No próximo quarteirão, viu que a gata o seguia, elegante, pelas ruas de pedras irregulares. Continuou caminhando e um tempo depois, sentado em um banco da praça, voltou a sentir um roçar, uma espécie de afago em suas pernas. Ela era, a gata tigrada. Seria um sinal? E ele era chegado a sinais.

Perto dali, e isso ele não viu, havia outra gata, mais pra preta e com alguns amarelados na pelagem, semelhante a seus olhos, que aproveitava a sombra de uma árvore para uma soneca. Ela abriu os olhos a tempo de ver a gata, sua amiga das ruas, e o homem em um papo firme e voltou a dormir. Nem percebeu que o homem decidira ali levar com ele a gata e no dia seguinte os dois estariam em São Paulo, num apartamento que já era habitado também por outros três gatos. Não demorou muito pra surpresa: a gata tigrada, que agora se chamava Maysa, estava prenha, ou grávida, como ele preferia dizer e menos de três meses depois teve cinco lindos filhotes. Ele até pensou em arranjar lar pros gatinhos, mas decidiu que ficariam juntos. Assim, Maysa tornou-se um caso raro: o de uma mãe felina vivendo com seus filhotes e vendo-os crescer na companhia de outros da mesma raça. Uma gatarada muito feliz e amada.

E a outra gata, a quase preta? Sem lar, continuou perambulando pelas ruas de Parati, ganhando um afago ali, um chute acolá. Um de seus lugares preferidos era um mercadinho e todo dia marcava ponto ali. Aos poucos, começou a se estabelecer uma amizade entre ela e o casal dono do mercado, que a alimentava, lhe deu o nome de Nina, a adotou, a castrou e a tornou uma gata com lar, paparicada pelos clientes do mercado.

Três anos depois, primeiros dias de 2019. Maysa, a gata tigrada segue feliz com seus filhos na cidade grande. Nina, a caiçara, também não podia reclamar da vida em Parati: era alimentada, acarinhada, o que ela não sabia era que esse viver quase tranquilo estava com os dias contados. E tudo começou assim: acordou de uma soneca em cima dos caixotes e resolveu dar uma andada pra espichar as pernas pelo mercado. O passeio foi interrompido por um forte pisão em seu rabo e Nina nem pensou duas vezes em lançar suas garras em direção aquele incômodo. Incomodada e com o rabo dolorido voltou a dormir em cima de um caixote de papelão e até sonhou. E nem percebeu quando uma lazarenta entrou no mercado, empunhando um pedaço de pau, nem a primeira paulada que veio inclemente. A segunda paulada a atingiu na cabeça, quando abria seus olhos amarelados, e tentava entender o que estava ocorrendo. Nina morreu minutos depois, a crueldade humana continua.

É tudo ficção. Maysa existe e está viva, linda e feliz com seus filhotes. Nina existiu também até encontrar a lazarenta.

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...