terça-feira, 30 de setembro de 2008

ACREDITE: O LULA ME SALVOU


A vida só tem de previsível a sua imprevisibilidade. Sempre intuí isso, mas a ficha caiu mesmo diante da catarse Ratatouille –um dos meus mais profundos de todos os tempos, emprestado pelo filho pequeno de uma amiga querida. Cito aqui pra falar de uns dias complicados que vivi. Não interessa o porquê. Só interessa o desfecho, ou a proximidade dele.

Vivo dizendo que drama não existe e no fim tudo vira comédia. Tudo, absolutamente tudo. Pois no auge da minha tragédia burguesa, quando a segunda-feira de incertezas anoitecia, tocou o telefone. Quase caí pra trás quando quem falava se identificou... o Lula! Sim, o presidente em pessoa ligou para a minha casa, pra pedir o meu voto (que seja), mas ele ligou. E ouvindo aquela gravação a tristeza foi dando lugar a gargalhadas. Era a voz do Lula sim, mas pra mim, ali naquele momento, era Deus, era Zeus, era uma epifania.

Obrigado, Presidente. Seria exagero dizer que o senhor salvou minha vida – e olha que sou exagerado -, mas me fez ver a comédia dessa vida, que só tem de previsível a sua imprevisibilidade. Não lembro direito de suas palavras, mas não vou esquecer a ligação. E ligue quando quiser, viu.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O cocô segundo Vinicius e Bôscoli


Uma amiga vive dizendo que tenho fixação em cocô. Tenho? Sei lá, mas que é um assunto divertido não há como negar. Lendo o livro de memórias do Ronaldo Bôscoli (Eles e Eu), topei com essa história dele e Vinicius de Moraes. E olha que doido: enquanto escrevo ouço musica no aleatório e não é que começa a tocar Vinicius... credo! Saravá! Eis a história do Bôscoli:

"Como eu, Vinicius achava a maior graça em casos escatológicos, negócio de coco etc. Ríamos pra cacete. Chegamos à perfeição de passar noites catalogando os mais diferentes tipos de cocô. Cocô Rita Pavone, aquele que mancha a latrina toda de sardas. Cocô Canto de Osanha, vai-não-vai, vou-não-vou. Cocô Nossa Senhora, aquele que desce e sobe com o papel. Cocô Siri, que morde o rabo antes de descer. Cocô Mergulhador, que cai e molha a bunda. Cocô Cortiça, que não desce, fica boiando. Cocô Carrossel, que fica rodando a latrina inteira. Cocô Monograma etc"

sábado, 20 de setembro de 2008

Mariposa de sueño

Conheço um moço que voa. Não a todo momento, que ele não é passarinho, mas “volando voy, volando vengo” vive o belo. Morro de inveja de ele ficar mais perto das estrelas, mas disfarço bem. Dia desses, corroído por minhas limitações celestiais, lhe pedi para dar um oizinho à elas por mim. Sem demonstrar a nítida intimidade que deve ter com as ditas cujas, falou como se fosse um ato corriqueiro: “Eu vou pensar em você e pedir pra uma bem legal te visitar na janela”. E até marcou hora para a presença estrelar.

Não duvidei nem por um segundo e, na hora combinada, lá estava eu, no silêncio da madrugada, luzes apagadas e com um cigarro, à espera. Por entre os prédios, uma nesga generosa de céu azul e nuvens imaculadas num desfile ensandecido. “Você vai ver que tem uma que brilha mais. É pra você”, ele avisara. E assim foi. De repente, por baixo das nuvens que se deslocavam agitadas, apareceram duas, meio apagadas, e logo uma outra, que brilhava, brilhava, brilhava insistente.

Com os olhos umidecidos fixos no céu, me preparava para agradecer ao moço que voa por acelerar meu coração quando, por trás do prédio imenso e espelhado, desponta uma lua absurda, amarela... cheia! Além das estrelas, descobri, o danado também é íntimo da lua. E depois de tanta beleza, fui dormir felizinho da vida.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

As Princesinhas do décimo andar


Foram chegando de mansinho àquele apartamento pequeno e cheio de coisas. Verdes, todas verdes e das mais diferentes tonalidades. Todo dia, logo após acordar era para elas que ele lançava o primeiro e sonolento olhar elas pareciam felizes em vê-lo. Abria a janela e deixava que o ar da manhã as alimentasse. Sentindo-se cuidadas, reagiam felizes e exultavam no parapeito da janela. Pareciam dizer para quem as olhasse tão esbeltas: “Somos as princesinhas do décimo andar”.

Antes que ele saísse para trabalhar, eram retiradas do parapeito, uma por uma e chamadas pelo nome. Às vezes, quando ele acordava de bem com o mundo, até ganhavam beijinhos. Fu, a mais velha, preferia o abrigo das grossas listas telefônicas ocultas atrás de um móvel pequeno onde o aparelho de som reinava. Ela fazia vistas grossas às dezenas de fios por ali espalhados e desconfio que pensava que eram trepadeiras em preto e vermelho. Do, escolheu o cantinho do tapete, a poucos centimetros de Fu, regorgeava ao encontro da luz do sol. Sá, por um desses caprichos do destino, só ficava calminha quando instalada ao lado da jibóia, uma trepadeira gigante que insistia em se apoderar daquela saleta. E Li, a mais novinha, não teve dificuldades em encontrar seu recanto. Embora caçula, era a única com frutos em seu ventre. Orgulhosa da prole, insistia para ficar no meio das outras. As quatro formavam um belo triângulo naquele cantinho de sala ao lado da janela que as reconfortava com luz, muita luz.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Brincadeira com livros


Tem uma brincadeira que adoro: ir a estante, pegar livros ao acaso e ler apenas a primeira frase deles. O incrível é que, na maioria das vezes, faz sentido. Acabei de fazer a prova dos nove com cinco volumes. Eis o resultado:




Acordou, abriu os olhos. Mrs Dolloway disse que ela própria iria comprar as flores. Hoje, mamãe morreu ou talvez ontem, não sei bem. Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da central um rapaz aqui do bairro que eu conheço de vista e de chapéu. Era um momento estranho.

O texto acima junta os começos de O Céu Que Nos Protege (Paul Bowles), Mrs. Dolloway (Virginia Woolf), O Estrangeiro (Albert Camus), Dom Casmurro (Machado de Assis) e A Cidade e o Pilar (Gore Vidal). E foram escolhidos ao acaso, juro.

Sempre deixo de fora alguns livros, por saber de cor a primeira frase. Um dos meus começos preferidos é de Anna Karenina. Olha só como Tolstói começa: Todas as famílias felizes se parecem entre si, as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. Não dá vontade de começar a ler o romance agora mesmo?


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

De uma certa agenda





No ônibus, de manhã, a caminho do trabalho. Um turbilhão na cabeça. Só pensamentos bacanas; E loucos, completamente malucos. Algo conduz a outro algo mais doido e, assim, sucessivamente. Viver pode ser bem divetido.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Aniversário de DudaSP



Marisol é a versão lésbica e adulta da Monica dos quadrinhos. Mora em Bauru, tem 19 anos, o sotaque de lá, é gordinha, tímida, caminha encurvada e morre de medo que a família descubra sua “tendência”. O pai é conhecido na cidade e o irmão, professor de cursinho. Pra não levantar suspeitas, freqüenta a igreja.


Carente, gente boa, compensa as frustrações amorosas dedicando-se aos estudos. Saca tudo de biologia. A paranóia com suas “tendências” é tanta que vive com medo de tudo. Primeiro dia de aula, uma bichinha colega, senta ao seu lado e diz “você é do babado?”. Sai em disparada e rezando para que ninguém tenha ouvido semelhante absurdo. Mas com o tempo ficam amigos e ela sempre avisa “pega leve que meu irmão é professor conhecido, tem extensão no telefone daqui de casa” e outras paranóias assim.


Freqüenta os bate-papos da internet, conhece a sapataria toda e tem um fascínio especial por DudaSP, a rainha da turma. Depois de meses de papo, foi convidada, junto com as meninas do site, para os 26 anos da gostosa DudaSP. Sábado, numa boate de meninas, a Ypsis. Cheia de maus pensamentos, vem a São Paulo para conhecer as meninas e se hospeda num hotelzinho da Augusta. Com o coração aos saltos, antes das dez toma um táxi e ruma para a Ypsis.


A casa é linda, cheia de escadas, brilhos e está praticamente vazia. Ainda é cedo, mas quem disse que a inexperiente na noite Marisol sabe disso. Nada de DudaSP e, impaciente, decide explorar o piso superior. Mais ou menos na metade da escada iluminada, sente uma ferroada na perna direita. Em poucos segundos tropeça e rola degraus abaixo. Algumas gatas pingadas viram, mas nenhuma vem socorrê-la. Arrasada, decide se mandar. Antes da meia-noite já está no hotel e passa a noite chorando, enquanto ouve barulho de sexo por todo lado, que a Augusta ferve.

No dia seguinte, oito da manhã, já está no ônibus que vai levá-la de volta e chora durante toda viagem. À noite, entra na rede e todas comentam o aniversário, que tinha sido “do babado, uma coisa”. “Pq v. não apareceu?”, pergunta JôGuarulhos. Ainda aos prantos, Marisol soluça, mas seus dedos não hesitam em escrever: "Tinha outro compromisso”.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Rourke e Laurie




Neste fim de semana rencontrei duas criaturas que nos anos 80 me encheram de alegria: Mickey Rourke e Laurie Anderson. Ele estava em todos os jornais que anunciavam sua "ressurreição" no festival de Veneza. Laurie fez um show lindo no Sesc Pinheiros.
Rourke nas manchetes de novo? Talvez nem ele mesmo esperasse por isso. "É muito doloroso quando você não consegue mais fazer algo que conseguia e quem percebe isso não é você, mas outra pessoa que vem te dizer", disse o homem que pra mim é mito desde O Selvagem da Motocicleta, um dos trocentos filmes da minha vida. E jogou fora sua carreira há 15 anos atrás por sua culpa, ele reconhece. Ver seu rosto atual - deformado, como Chet Baker antes e depois da queda - não é das coisas mais agradáveis.
Já Laurie Anderson (na foto com o maridão Lou Reed) bem que poderia cantar "Time is on My Side". Símbolo da vanguarda novaiorquina nos tempos de Home of the Brave, ela segue inteiraça, cantando como então e sempre inquieta. Aquela voz marcante segue calando fundo.

Tempestade visual


Caleidoscópio. Rebelião de cores, formas, tons e sombras. A um simples toque de meus dedos, tudo muda e a tempestade visual impera. É uma visão nova, uma verdadeira e rápida transformação. Mistério, feito o de viver. Se eu o chamasse de caleidoscópio, você pensaria no objeto, mas se algum código entre nós existisse, este significado seria ampliado muitas vezes.


Tento fazer de minha vida um caleidoscópio, uma antena a captar sensações e não desperdiçar emoções. E este viver assim, atento a pequenos detalhes, me traz um quê de plenitude e de que há muito para ser feito e, o que é melhor, eu posso fazê-lo. Essa sensação me provoca arrepios - e arrepios que valham a pena. É sempre hora de despertar para as sensações.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Por Onde Andam Meus Pés






A idéia surgiu no escurinho do cinema, bom, quase no escurinho, que o filme ainda não tinha começado. Ah, e se eu começasse a fotografar meus pés? Sem pensar duas vezes fiz a primeira foto. E virou mania, logo vieram outras, outras, mais outras....

Telesflor Laperoz


Alguém que eu adoro tem um anão que tem nome e tudo e é muito lindo. Na verdade eu nem o conheço pessoalmente - o anão, não o alguém - só o vi pela câmera do computador uma vez, mas é lindo sim, como costumam ser os autênticos anões de jardim. E esse, vou chama-lo Robert, acompanha seu dono e senhor há uns bons anos, companheiro fiel. E anda precisando de uma pintura, disse-me o alguém. O tempo costuma ser implacável, inclusive com os anões de jardim.

E existe um anão que habita minhas memórias e volta e meia retorna, até em sonhos. Tem vezes que desaparece, depois ataca outa vez. E nos reencontramos faz pouco tempo, durante uma viagem à cidade onde nasci. Ele vive num belíssimo jardim de uma casa centenária e, só de sacanagem, vou chamá-lo Telesflor Laperoz, o nome de meus dois avós - isso é verdade. O centenário TF (melhor abreviar) é de uma simpatia assustadora e nos conhecemos desde a minha meninice. Adorei reencontrá-lo e de uma certa forma fazê-lo habitar também outro jardim. Qual? Bom, isso é melhor manter em segredo. Mas que ele tá lindo lá, tá sim.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Eu e o Buda Nagô


Faz quase um mês que Dorival Caymmi se foi. E sua mulher Stella, há poucos dias. Adorava Caymmi e tive a honra de entrevista-lo por telefone em 1994, pouco antes de ele completar 80 anos. O papo tinha tempo marcado - 20 minutos - mas a primeira coisa que ele perguntou foi quanto tempo eu precisava para uma boa entrevista. E nossa conversa rolou durante uns 40 minutos. Desliguei o telefone emocionado. Era perto do meio-dia, lembro bem.

Soube da morte de Caymmi no aeroporto de Porto Alegre, voltando para casa depois de uma visita à minha família que não via há anos. Era sábado, final da manhã de sábado e fiquei emocionado. Encontrei agora a matéria que escrevi para a revista Audio News. É uma das minhas preferidas, acabo de reler e vou copiar um trecho:

Dorival adora falar de família e dos amigos até bem mais que de música. Quando o assunto é música, adora contar histórias divertidas e elabora teorias engraçadíssimas, como esta: "Violão é um instrumento muito suspeito, sempre ligado à cachaça e mulher. Violão não é para a sala. É para ficar no quintal, na copa, no armário", diz rindo. Mas qual instrumento que pode ficar na sala, Dorival? "Só harpa e apenas para enfeitar, não para tocar", ri mais ainda. O primeiro violão, lemba, era do pai, que ele define como "músico caseiro" que também tocava bandolim. "Mas o primeiro de verdade mandei buscar no Rio, custou 18 mil réis na loja Guitarra de Prata".

E tem uma outra frase dele na entrevista que adoro: "o lado de botequim mais o lado família são duas das coisas fundamentais da vida"

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...