sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eu Não Estava Lá

Não existe nada imperdível. É meio um mantra meu e acredito mesmo nisso. Show, peça, filme: nada, nada é imperdível, nada que se deixa de ver faz a menor diferença na vida. Não sou de lamentar o leite derramado, mas gosto de pensar em coisas que eu não vi porque não teria como e adoraria ter visto. O quê? Shows por exemplo. O mitico é um da Elizeth Cardoso com Jacob do Bandolim e Zimbo Trio, no João Caetano, em 1968. Ok, eu já havia nascido e até poderia ter estado lá, mas era criança demais pra entender o que deve ter rolado naquele palco e me deixa arrepiado ao ouvir a gravação tantos anos depois. Ao final, os aplausos pro bis emocionam até múmia. Se lá tivesse, teria vertido milagrimas.

O segundo é de alguns anos depois, John Lennon no Madison Square Garden de Nova York, em 30 de agosto de 1972. Também poderia ter estado lá, apesar da menoridade. Era o auge das inquietações de John que se apresentava com sua amada Yoko – ao contrário de muitos nada tenho contra ela e até acho que fez muito bem à cabeça perturbada do ex-Beatle. Voltando ao show: já me imaginei milvezes berrando quando John ataca de Mother, o acerto de contas com a mãe morta. Ou quando começa Woman Is The Nigger of The World, Imagine, Give Peace a Chance.

Poderia ficar nesses dois, mas daria os 30 segundos finais da minha vida para ter visto um espetáculo da Maria Bethânia no início dos anos 70, aqueles bem teatrais. Qual? Drama 3º Ato ou Rosa dos Ventos. Acho que esse ultimo, que leva o subtítulo de um show encantado e reza a lenda que algo baixava no palco. Ah, lembrei de mais um: Gal Fatal, no Teresa Raquel. Gal Costa na flor da juventude, pernas de fora, tocando violão e ensandecendo os hippies. E o show que reunia Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque e Miúcha? Bom, por esse acho que daria o minuto final da minha vida, ou até dois. Mas eu não estava lá. Paciência.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Hit Parade

Quase adolescente, costumava fazer minha parada de sucessos em sangaba. Ouvia rádio o dia inteiro e não dava paz ao dial na caça às músicas que eu mais gostava. Em folhas de caderno anotava os nomes e um traço ao lado a cada vez que eu a ouvia. No final da semana contabilizava e definia as minhas campeãs. Era uma coisa meio séria, mas com direito a pequenas fraudes para que minhas queridinhas ficassem no topo da lista. E quais eram minhas queridinhas? O tempo se encarregou de levá-las, mas três me vem sem dificuldade: Skyline Pigeon, Music and Me e My Eyes Adored You. Sim, eram praticamente todas em inglês e a maioria da trilha das novelas, bem de acordo com a época.

As coisas mudam sim, mas para permanecerem praticamente como eram. Continuo ouvindo música quase o dia todo, principalmente no computador, mas no rádio também e em qualquer aparelho. Não preciso mais escrever a relação delas, nem contabilizar, basta acionar as “25 mais tocadas” do i-tunes e vem imediatamente a lista precisa e sem fraudes. E quais são elas às vésperas do carnaval 2009?

Em quinto lugar, Ma Memoire Sale, tema do filme Canções de Amor. Na sequência, 10 Contados, com a Céu, tema do início de alguma coisa meses atrás marca um momento importante. Em terceiro, Doce Solidão, Marcelo Camelo, essa é mania atual e aquele assovio na introdução que me acompanha direto. Me Gusta Cuando Callas, poema de Neruda na voz veludo de Alejandro Sanz é a vice, por motivos exclusivamente ligados ao coração. Tem apenas cinco execuções menos que a campeoníssima Janta, Marcelo Camelo e Malu Magalhães, que é tão linda, mas tão linda que tem o poder de me transportar de volta à adolescência. É, nada muda tanto assim.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A morte do casarão no sábado gris

Havia um casarão antigo, amarelado, na esquina da alameda Santos com Hadock Lobo. Nada tinha de lindo, mas atiçava minha imaginação e me transportava para outros tempos e lugares, especialmente quando ali passava à noite. Atraído pelas sombras, muitas vezes parei para observá-lo e inventar mil histórias. Havia um quê de abandono, de descuido e a presença de vida era denunciada apenas por algumas luzes acesas. Quem moraria ali? Nunca vi ninguém.

Hoje, um sábado gris que em nada lembrava o verão de fevereiro, esse que era um dos últimos casarões da região, começou a ser demolido. Quando por ali passei, no final da manhã, não havia mais o teto e as paredes amarelas pareciam agonizar diante da garoa fina, aquela que caracterizava São Paulo em outras décadas. Era como se o casarão morresse num clima semelhante àquele de quando foi construído.

Não parei, não fiz questão de olhar muito, semelhante ao que faço quando topo com mortos e atropelados pelas ruas da cidade. Fiquei triste e ponto. Quero lembrar do casarão amarelo da Santos com a Hadock como ele era. Podia até ser feio, mas dava de dez na modernice lata fria do vizinho Renaissance, que em nada atiça minha imaginação. Sei lá o que devem construir lá, certamente um prédio, o que sei é que vou achá-lo pavoroso. Ah, vou sim e vai ser o meu protesto pelo casarão amarelado que morreu no sábado gris.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Decifrar a borra


Descobri a cafeomancia nesse fim de semana. Cafeo o quê? Então, uma tradição nos paises árabes, é a arte de adivinhar o futuro através da borra do café que fica nas paredes da xícara depois de bebê-lo. Quem me iniciou foi uma amiga querida, que aprendeu a prática com uma egípcia. É saborear o café, emborcar a xícara, esperar alguns minutos e começar a decifrar as imagens: árvore, coroa de rei, pássaros, animais, pessoas... Surge um mundo doidinho pra ser decifrado ali bem diante do nosso nariz. Em caso de dúvida, a foto acima ajuda a esclarecer. É só tomar alguns cuidados: pra borra ficar espessa e totalmente legível, tem que evitar o acúcar. Com adoçante funciona, mas se o café for bebido puro é o ideal. É diversão e precisão na certa.

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...