domingo, 15 de fevereiro de 2009

A morte do casarão no sábado gris

Havia um casarão antigo, amarelado, na esquina da alameda Santos com Hadock Lobo. Nada tinha de lindo, mas atiçava minha imaginação e me transportava para outros tempos e lugares, especialmente quando ali passava à noite. Atraído pelas sombras, muitas vezes parei para observá-lo e inventar mil histórias. Havia um quê de abandono, de descuido e a presença de vida era denunciada apenas por algumas luzes acesas. Quem moraria ali? Nunca vi ninguém.

Hoje, um sábado gris que em nada lembrava o verão de fevereiro, esse que era um dos últimos casarões da região, começou a ser demolido. Quando por ali passei, no final da manhã, não havia mais o teto e as paredes amarelas pareciam agonizar diante da garoa fina, aquela que caracterizava São Paulo em outras décadas. Era como se o casarão morresse num clima semelhante àquele de quando foi construído.

Não parei, não fiz questão de olhar muito, semelhante ao que faço quando topo com mortos e atropelados pelas ruas da cidade. Fiquei triste e ponto. Quero lembrar do casarão amarelo da Santos com a Hadock como ele era. Podia até ser feio, mas dava de dez na modernice lata fria do vizinho Renaissance, que em nada atiça minha imaginação. Sei lá o que devem construir lá, certamente um prédio, o que sei é que vou achá-lo pavoroso. Ah, vou sim e vai ser o meu protesto pelo casarão amarelado que morreu no sábado gris.

Um comentário:

Anônimo disse...
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