quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A única capa de revista de Cleyde Yaconis


Fotos de Hélio Santos

Cleyde Yaconis completaria 90 anos hoje, 14 de novembro. Tive a honra de escrever Dama Discreta, o livro dela para a Coleção Aplauso, lançado em 2004 e, desde então, não nos perdemos de vista. Mesmo anos depois de o livro publicado, continuava buscando material sobre ela. E nesse tempo todo, a internet facilitou muito a pesquisa em jornais e revistas antigas.

Ainda nas entrevistas para o livro, me impressionou que Cleyde Yaconis nunca havia sido capa de revista. Bom, nas minhas lembranças há (será?) uma Manchete (ou Cruzeiro) dos anos 60 com ela dividindo a capa com a irmã Cacilda Becker na peça Maria Stuart. Na década de 70, um suplemento de tv da Amiga. Em 2009, ela e mais uma dúzia de paulistanos ilustravam a capa da Veja SP. E nesse mesmo ano, foi homenageada com uma bela capa da Olhares, da Escola Célia Helena, onde deu aulas. Mas capa de revista assim da grande imprensa só com Cleyde Yaconis nunca vi. E olha que ela foi uma das maiores atrizes desse país.

Ano passado, encontrei na rede um exemplar da revista A Cigarra, de setembro de 1959 e na capa, surpresa, estava Cleyde loira, jovem e linda. Corri ao telefone para avisá-la da “descoberta”, como fazia sempre – lembro de quando achei um jornal de dezembro de 1939 com a notícia da formatura ginasial dela. Descrevi as fotos, a reportagem (claro que ela não lembrava de nada) e fiquei de levar o material na próxima visita. Umas três semanas depois, Cleyde foi internada, era o dia do último capítulo de Avenida Brasil, que ela assistiu no hospital. Fui visitá-la no sábado final da manhã e levei a “capa”. Ela gostou muito e soube que mostrava para os médicos. Seis meses depois, Cleyde faleceu no dia 15 de abril desse ano, sem ter saído do hospital. Eu adoro essa capa de revista e o fato de que a encontrei e mostrei para ela. É a única capa de revista com a grande Cleyde Yaconis. Se outras existirem, adoraria conhecê-las.


Sobre a capa de A Cigarra: Cleyde tinha 35 anos de idade. A Criatura e a Personagem é o título da matéria de A. Accioly Netto. É em primeira pessoa e trata essencialmente de teatro. Funciona como uma palestra de Cleyde Yaconis e o que ela pensava mais de 50 anos depois não era muito diferente do que está ali publicado. É só ler O Amor Que Vem do Conhecimento, o primeiro capítulo de A Dama Discreta, para perceber as semelhanças. Abaixo, a matéria de A Cigarra.
                                                         
                                  A Criatura e a Personagem                        




- O teatro , como toda atividade artística, não é apenas fator de cultura. É muito mais que isso, pois o grau de civilização de um povo pode ser medido de acordo com o grau de desenvolvimento do seu Teatro. O “representar” faz parte do homem, está dentro de si, podendo ser considerado como sua mais primitiva necessidade. Ontem, como hoje e sempre, o homem fará Teatro. Observemos as crianças... Elas brincam? Sim, mas representando sempre! Eu, por exemplo, que nunca pensei, quis ou pretendi ser atriz, detestava declamar na escola, “brincava”, no entanto, de “casinha”, recebendo as visitas como dona de casa ou fazendo de modista para garotas de 4 a 10 anos, maquiladas e vestidas de “gente grande”, enrolando-nos em toalhas de mesa com franjas, de sapatos altos e nos dando nomes estranhos e inexistentes. Durante horas improvisávamos textos, inventávamos danças, compenetradas de que, de fato, éramos outras pessoas. Os garotos também se transformavam em bandidos, mocinhos, heróis, chegando à preocupação da escolha dos tipos para diferentes papéis. Com o correr do tempo, porém, poucos são os que se dedicam à arte teatral. A maioria fica constituindo o público. De ambos, porém, dependerá o futuro do Teatro, pois de nada adiantarão os esforços conjuntos dos autores e atores em fazerem bom teatro, se o público não os apoiar com sua presença. Mesmo procurando divertir, deverá o Teatro ter sempre em mira o “fator cultura”, do contrário fugirá da sua finalidade. Voltando ao princípio, portanto, essas crianças que representavam por insinto, quando tornadas adultos, indicarão, pelas suas exigências de arte e de teatro, o nível de cultura a que atingiram.



Importante dentro do teatro é toda obra completa, isto é, literatura, arquitetura teatral, conteúdo humano, obra social etc. Para mim, tanto é importante (no sentido exato da palavra) transmitir a cultura, como divertir, trazer alegria e bem-estar ao publico. Nos gêneros mais populares, portanto, também deveria ser exigido o melhor. O “boulevard” por si só não pode ser considerado importante como obra teatral. Possui, porém, certo valor dentro do teatro, quando executado primorosamente com a finalidade precípua de distrair, o que não deixa de ser importante. Quando levado à cena, tem que ser mais do que nunca “bom”. É preciso não esquecer que o grau de civilização de um povo também se pauta pela exigência que ele faz ao gênero “boulevardier”. Eu mesma, como público, aceito até a alta comédia. Contudo, quando cansada, nervosa, exausta da vida que levo, prefiro, às vezes, um filme musicado, leve, colorido, de final feliz... Mas principalmente nessas películas, sou intransigente no que diz respeito à sua qualidade. Como atriz, acho ótimo intercalar no repertório sério a comédia inconsequente, tipo “boulevard” de categoria, pelo descanso dos ensaior, mas estou sempre apavorada, com medo de que a peça “pegue” e fique quatro meses em cartaz! O ideal seria, dentro de um repertório pesado, difícil, árduo para os atores, uma peça leve que servisse como repouso para atores e público, mas que ficasse pouco tempo em exibição. No TBC, por exemplo, foi incluida entre a peça “Jornada”, de O´Neill e “Maria Stuart”, a peça de Hugh Mills, “Perigos da Pureza”. O fito da programação foi divertir o público e os atores. Apesar disso, a peça exigiu desses últimos, o maior de seus esforços para levar a cabo uma representação no estilo de uma época de fim de século, quando se combatia os convencionalismos da Comédie Française e do Teatro de “Boulevard”. Aliás, como todos sabem, esse sistema de intercalação de peças leves é usado nas melhores companhias do mundo inteiro. A elite do teatro poderá assistir a uma peça pelo prazer do texto, apenas como forma literária, mas a massa do público espera sempre mais alguma coisa e deve receber. Como atriz prefiro sempre os textos que contenham uma ideia, uma mensagem.



O ator só poderá chegar a viver integralmente o personagem quando a sua criação é o produto de estudo e composição. No estudo e na preparação de um personagem é necessário considerar o presente, o passado e o futuro, assim como as relações deste personagem com os outros. Quanto mais perto conseguirmos chegar, mais nos sentiremos como ele próprio. Tomando a Elizabeth, por exemplo, posso dizer que após três anos da primeira representação, reensaiando o papel, gradativamente sinto que a própria Elizabeth vai se aproximando de mim ou eu dela. Todos os problemas reais dessa criatura extraordinária vão interferindo no texto de Schiller. As razões políticas, religiosas e femininas que tanto influíram em seus atos cruéis, vão abrindo diante de meus olhos extasiados novas facetas para a representação dessa personagem. Esse mesmo fenômeno acontece quando contraceno com os meus colegas. Quanto mais próximo do personagem nos achamos, tanto mais nos identificamos com ele. Posso dizer, portanto, que chego a sentir verdadeiro ódio de Maria Stuart, quando contraceno com Cacilda Becker. Somos seres humanos, e não máquinas que se ligam à hora de entrar. Para qualquer artista são necessários, antes de sua apresentação, não somente a concentração, como também a abstração e o maior afastamento possível dos problemas que o afligem. Quando não o consegue completamente, a representação poderá, às vezes, se ressentir de falhas. Isso tanto no que diz respeito a preocupações, como ao mal estar físico, doenças, etc. Para qualquer ator, porém, pior do que 40 graus de febre ou dores tremendas, é a voz se achar afetada. As doenças, no entanto, desaparecem ou diminuem de 80% ao se entrar em cena. Do mesmo modo, não se sente, no palco, nenhum ferimento que resulte de queda, corte, pancada ou qualquer outro acidente.


A influência do personagem é exercida na vida comum, principalmente durante o estudo e a sua preparação, pois se dorme e acorda pensando no papel. Durante o dia, nesse período de busca contínua qualquer incidente com coisas ou pessoas constitui material para a construção do personagem. Quando a represento, ela não interfere diretamente no meu modo de agir ou de pensar. Continuo sempre sendo eu mesma, embora certos papéis possam me trazer, com a continuidade da representação, estados psicológicos diversos, tais como depressão, irritação, nervosismo ou mesmo uma certa euforia. Fatos de minha vida íntima também não interferem na apresentação da personagem que eu represento. Quando o papel é bom, não tenho preferências, tanto represento com prazer o cômico como o dramático. Papel bom não é exclusivamente o de protagonista e, sim, aquele que foi ideado pelo autor de tal forma que dê margem ao artista constituí-lo totalmente. Os papéis indesejáveis são, portanto, os mal idealizados, abandonados pelo autor, ou incluídos na peça sem outra finalidade senão a de prestar algum esclarecimento ao entrecho. Enfim, a minha preferência é decididamente para os papéis característicos, tanto no setor cômico como no dramático.

Eu entrei para o teatro por acaso. Fiquei como meio de vida e continuei por vocação. Comecei no TBC, em 1950, onde permaneci até 1957. Saí para formar a companhia com gente já conhecida do TBC. No TBC aprendi tudo que sei graças as oportunidades e aos diretores excelentes que tive: Ziembinski, Celi, Salce, Bollini e Vaneau. Nestes mais de sete anos representei em mais de 30 peças e recebi três prêmios: 1953 – Governador do Estado – Senhora Frola, 1956 – Saci – Conjunto das interpretações do ano, 1957 – Medalha de Ouro da ABCT do Rio de Janeiro – Leonor de Mendonça. Meus papeis favoritos até hoje: Senhora Frola em “Assim É, Se Lhe Parece”, direção de Celi; Luci, em “Mortos Sem Sepultura”, direção de Bollini; Elizabeth, em “Maria Stuart”, direção de Ziembinski; Coroba em “O Santo e a Porca”, direção de Ziembinski; Elisa, de “A Rainha e os Rebeldes”, direção de Vaneau. O papel mais difícil é o que me dá mais trabalho, continua sendo Elizabeth. Acidentalmente entrei para o teatro e nele continuo. Não posso saber se poderia viver longe dele, antes que isso aconteça. Sempre desejei ser médica e sinto ainda a vaga melancolia de um sonho não realizado. Nenhuma outra profissão, pelo fato de ser rendosa, me afastaria do teatro e, se enriquecesse subitamente, hoje aplicaria ¾ da fortuna no teatro e ¼ reservaria para um outro desejo: propriedade agrícola, pois já possuo até uma pequena chácara. Amanhã, talvez, minhas ideias não sejam as mesmas a respeito de aplicação de capitais... O meu futuro, dentro dos meus planos, não vai além da excursão do TBC à Europa, porque 24 horas do meu dia estão tomadas com os preparativos para essa viagem. Não me sobra tempo para divagações...

sábado, 9 de novembro de 2013

Diretor de elenco: uma profissão à procura de reconhecimento


O documentário Casting by (Diretor de Elenco), de Tom Donahue, estreou no começo do mês nos Estados Unidos. E por aqui, está sendo exibido nos canais da HBO e disponível no NOW para os assinantes net. Como o título explicita, trata de uma profissão importante, mas ainda sem reconhecimento na indústria do cinema - a única categoria dos créditos principais,  que não concorre ao Oscar. Através da história da pioneira Marion Dougherty, que começou na TV no final dos anos 40 e que por cinco décadas trabalhou na escalação de atores para filmes, o documentário conta a história da profissão.

Marion Dougherty e o cartaz de Golpe de Mestre (The Sting)
James Dean, Clint Eastwood, Jon Voight, Christopher Plummer Jack Lemmon, Robert Duvall, Bette Middler, Glenn Close, Dustin Hoffman são alguns astros que, nos primórdios, passaram pelo olho clínico de Marion Dougherty. É ela estrela de Casting by, ao lado de colegas como Lynn Stalmaster e Juliet Taylor. Enquanto Marion atuava em Nova York, Lynn era o homem para elenco em Los Angeles. E Juliet Taylor, a mulher que escala o elenco para Woody Allen desde o final dos anos 70, começou como assistente de Marion. A Primeira Noite de Um Homem, Perdidos na Noite, Butch Cassidy, Taxi Driver, A Última Sessão de Cinema, Máquina Mortífera, O Mundo Segundo Garp têm seu processo de seleção de elenco contados no documentário e algumas histórias deliciosas. No roteiro, o parceiro de Mel Gibson em Máquina Mortífera não era negro, mas Marion Dougherty não hesitou em indicar Danny Glover para o papel. 

E nos depoimentos estão Martin Scorsese, Woody Allen, Clint Eastwood, Robert Redford, Al Pacino, John Travolta, Glenn Close. Marion Dougherty morreu em 2011 e o filme é dedicado a ela. No começo dos anos 90, um elenco de estrelas fez campanha para ela ser homenageada pelo Oscar, mas isso não aconteceu. Com histórias deliciosas, Casting by é documentário pra ser visto e reflete as transformações na indústria do cinema. Para muita gente, a época de ouro do cinema já passou e perdeu lugar para as séries de TV e isso também está na parte final do documentário, em um depoimento de Linda Lowy, a diretora de elenco de Grey´s Anatomy. Casting by está disponível no NOW e tem exibição na HBO HD na próxima terça, às 14:25.

Woody Allen escreveu um artigo para o Hollywood Reporter pedindo o reconhecimento dos diretores de elenco e falando da participação decisiva de Juliet Taylor em seus filmes. Ele cita vários atores que foram lhe apresentados por Juliet, inclusive Meryl Streep que, ainda desconhecida, fez um pequeno papel em Manhattan. Abaixo o link com o artigo de Woody Allen.




Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...