Quase fim da tarde. Numa Paulista aberta carnavalizada, topo com Carolaine.
Toda de preto, blusa decotada, sutiã roxo aparecendo. Tem algo de Madonna lá
nos primeiros tempos, uma Madonna das ruas. Está pedindo moedas, fugindo dos seguranças que a enxotam
sem dó. Eu, de óculos escuros, sentado no fio da calçada. Ela me olha, dou um
sorriso e a danada coloca os óculos que estavam equilibrando nos cabelos tingidos.
"É pra ficar igual a você, vou tapar os olhos", fala arrematando com
um "a loka". “E olhos lindos”, respondo. Cinzentos, vivos, sob
sobrancelhas pintadas. Caroline abre um sorrisão, diz um monte de obrigada
obrigada e senta ao meu lado. Amiga instantânea.
Em minutos, ela me conta que foi clubber quando menino, que agitou muito
na noite e que há sete vive nas ruas, desde que expulsa de casa pela mãe. Tem
27. Aos 13 frequentava o Atari, Bocage e outros endereços da noite gay
paulistana do início do século. Fala que queria ficar cheirosa e me pede pra
comprar pasta de dente, desodorante e sabonete. "Não precisa ser caro.
Tudo de menina", diz meio rindo e fazendo charme. Não quer ir comigo à
farmácia. Compro as encomendas de Caroline e, na volta, não a encontro no fio da
calçada. Espero um pouco e dou uma circulada - está sentada, apoiada numa
lixeira. Abre um sorrisão quando vê o pacote e mais ainda quando digo que tem um
chocolate também. Ganho um abraço bem apertado e fico ali, vendo Caroline se
afastando na avenida cheia de gente fantasiada e, toda toda, segurando a sacola
de plástico que vai lhe perfumar a existência. É, Carolaine, como já disse alguém, “ a vida é
assim...dura”.