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Abertura da matéria da revista Manchete com a cobertura da morte de Sharon Tate |
Um dos assassinatos mais
brutais de Hollywood, o massacre que vitimou Sharon Tate e mais três pessoas ocorreu há quase
cinquenta anos, em 5 de agosto de 1969. E volta agora com Era Uma Vez em Hollywood, o filme de Quentin Tarantino exibido há poucos dias no Festival de Cannes.
Apontada como a Brigitte
Bardot americana, a substituta de Marilyn Monroe, o reinado de Sharon Tate foi
curto, pouco mais de dois anos. O Vale das Bonecas (1967) foi o filme que a
colocou entre as jovens atrizes mais promissoras da segunda metade dos anos 60,
junto com Raquel Welch, Faye Dunaway, Candice Bergen, Mia Farrow, Katharine Ross e outras. Contratada
com exclusividade, Sharon Tate ficou dois anos e meio "escondida" pelo estúdio,
que teria investido 1 milhão de dólares nela.
Baseado em um best-seller de
Jacqueline Susan que Hollywood comprou antes de ser publicado, O Vale das
Bonecas mostrava a trajetória de três garotas em busca de glória, dinheiro e
sucesso no show business e sendo praticamente engolidas.
Depois veio a vítima das criaturas das trevas de A Dança dos
Vampiros, filme do polonês Roman Polanski e o
encontro amoroso dos dois. O casamento (Sharon tinha 24 anos e
Polanski, 34) ganhou as páginas das revistas. "O diretor que se diverte
satirizando a sociedade burguesa conquistou uma das mulheres mais bonitas do
mundo", dizia a matéria da Manchete. E a revista descrevia Sharon como "o mais
suave rosto e o mais perfeito corpo da última safra feminina de
Hollywood", "a garota do milhão de dólares" (o valor que a Metro
teria investido para transformá-la em estrela).
Logo após A Dança dos
Vampiros, mas lançado antes, veio a loira escultural e inocente que deixava Tony Curtis embasbacado
na comédia Não Faça Onda. Com
"mini-saia de gala", descrição da Manchete, Tate foi uma das estrelas
do conturbado Festival de Cannes de 1968, o ano dos protestos estudantis na França, acompanhando o marido que lançava O Bebê de Rosemary,
estrelado por Mia Farrow. O filme causou escândalo por suas irreverências
religiosas e até chegou a ser proibido pela Liga Católica dos Estados Unidos.
O conto de fadas
hollywoodiano acabou em 9 de agosto de 1969, quando o bando de fanáticos de
Charles Manson a massacrou junto com amigos na mansão hollywoodiana. Sharon
estava grávida e teria o filho um mês depois. Roman Polanski não estava na casa, filmava em Londres. A autoria do assassinato só foi descoberta após
quatro meses. E depois desse banho de sangue, Hollywood nunca mais foi o mesma. A morte
de Sharon Tate praticamente antecipa o fim do sonho hippie de paz e amor. Como
o bando de fanáticos liderados por Manson era hippie, a imprensa usou e abusou
do termo. E agora viram personagens de Quentin Tarantino, um diretor que
não costuma ter carinho por suas personagens.
POLANSKI FALA DE SHARON TATE
Na autobriografia Roman (Record, 1984), Polanski fala de Sharon Tate e muito, claro. Abaixo, trechos sobre quando se conheceram, como ela era e sobre o enterro.

"Foi lá (numa festa) que fui apresentado a Sharon Tate. Demo-nos um aperto de mão, tivemos uma conversa cordial e trocamos nossos números de telefone, antes de seguirmos para nossos diferentes caminhos. Lembro de ter pensado nela como uma garota excepcionalmente bonita, mas Londres estava cheia de moças bonitas. Mais precisamente, ela era a beleza comum entre as americanas - não o que eu tinha em mente para A Dança dos Vampiros."
"Sharon era mais do que
estonteante de se olhar. Não era ingênua, nem burra, nem uma estrelinha clichê.
Seu passado era da classe média convencional, mas não com traços específicos.
Seu pai, um oficial do serviço secreto do Exército dos EUA, tinha sido lotado
na Europa e ela falava italiano fluentemente. Enquanto adolescente, havia
vencido vários concursos de beleza e sempre tinha ansiado por fazer carreira no
cinema, apesar do medo do seu pai de que Hollywood fizesse dela uma presa fácil
para machos devastadores, se não a tornasse uma prostituta de alta classe."
"Os assassinos tinham espalhado ondas de terror irracional por toda a comunidade de Hollywood. Apesar de seus temores, todas as estrelas foram ao enterro. Era como se fosse a estreia de um filme horrível. O único ausente foi Steve McQueen, um dos amigos mais antigos de Sharon. Nunca o perdoei por isso.
Seu enterro foi irreal, Eu tinha que ficar me lembrando de onde estava. Sentei-me ao lado da mãe de Sharon, abraçando-a e chorando. O padre proferiu uma mensagem muito comovente, mas enquanto ele falava, o mesmo pensamento voltou várias vezes: dentro daquele caixão estava o corpo de Sharon. Por mais que tentasse me concentrar, a única coisa que eu podia pensar era a cicatriz no joelho esquerdo de Sharon. Era uma cicatrizinha branca - o resultado de uma operação de cartilagem depois de um acidente de esqui. Durante todo o serviço, tudo que fiz foi visualizar a cicatriz que nunca veria de novo."