Leio sobre a morte de Jonas Mello. Ele tinha 83 anos, faleceu na tarde de ontem, de causas naturais em seu apartamento no bairro paulistano de Santana. Logo me veio uma tarde na primeira década do século, quando conversamos para Disciplina e Liberdade, a biografia de Geraldo Vietri que escrevia para a Coleção Aplauso.
Foi no teatro amador em sua Santos
natal os primeiros passos do ator Jonas Mello. E antes de engrenar na profissão,
deu duro por lá: foi feirante, estivador e trabalhou no pronto socorro.
"Ensinaram-me que
enchendo a boca de pedras a gente melhorava a dicção. Não tive dúvidas, todo
dia ia até a praia e treinava, começando a falar alto.Quando o tempo estava
bom, o pessoal me olhava como se eu fosse maluco. Acredito que esse recurso é
que me ajudou a vencer o concurso em São Paulo para ator, onde me inscrevi com
mais de cem pessoas. Ali comecei profissionalmente, atuando na peça Lisístrata,
ao lado de Ruth Escobar e Isabel Cristina", Jonas contou ao repórter
Rogaciano de Freitas em uma matéria da revista Amiga, em 1976, quando já era
ator consagrado.
Desde Lisístrata (1967) foram
muitas peças. Só para citar algumas
atuações em clássicos: o Jasão de Medéia (1970) com Cleyde Yaconis , Leonardo, o ex que
reaparece em Bodas de Sangue (1973), com Maria Della Costa e o Teseu de Fedra (1986)
na montagem com Fernanda Montenegro.
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Jonas e Maria Della Costa em Bodas de Sangue |
Na TV, atuava em Os Inocentes,
quando Geraldo Vietri o viu nos corredores da Tupi. O autor e diretor buscava o
intérprete para o papel título de Meu Rico Português (1975), Jonas usava um
bigodão e Vietri deve ter achado que ele tinha o tipo ideal para sua personagem
e o chamou para teste. Resultado: foi o protagonista e também das duas próximas
e últimas de Vietri na Tupi e as três com Márcia Maria como par romântico.
Jonas Mello e Marcia Maria em Meu Rico Português |
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Com Sandra Bréa, Bambolê |
E no cinema, Jonas começou
no udigrudi do fim dos 60 - Hitler 3º Mundo (1968), de José Agripino de Paula. Alguns
dos filmes que tiveram Jonas Mello no elenco: Um Anjo Mau (1971), de Roberto
Santos, Que Estranha Forma de Amar (1977), de Geraldo Vietri e Um Céu de
Estrelas (1996), de Tata Amaral.
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Jonas e Adriana Prieto no fime Um Anjo Mau |
Quando entrei em contato com Jonas para o livro do Vietri, ele foi extremamente solícito, fez questão de uma conversa longa e veio até minha casa. Passamos uma tarde de muitas histórias. Por vezes olhava aquele homem que então andava pelos 70 anos e me parecia estar conversando com Marlon Brando. Pode ter sido viagem minha, claro, mas havia algo (o porte, a voz marcante) de Brando em Jonas Mello. Alguns anos depois, em 2010, Jonas Mello esteve no lançamento do livro.