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Há um conto, o sexto dos oito de Anos de Chumbo, chamado "Para Clarice Lispector, com Candura" - com candura, palavra linda - e nele o protagonista é um poeta, doido pela escritora, que deixa seus manuscritos na portaria dela e depois é recebido. É Chico Buarque contando sua visita a Clarice quando foi entrevistado por ela? É e não é, é também, é literatura. O poeta da ficção é universitário, tem 19 anos, Chico tinha 24, já era famoso (e Clarice tinha 47 anos). O personagem é universitário, filho de uma pintora e professora de artes (Maria Jansen) que dá lições pra Clarice, o Chico de então estudava teoria musical com Vilma Graça, conta Clarice no abre da entrevista.
Não quero adiantar a trama, bem inventiva, e que chega até os dias de hoje. O que interessa aqui é a entrevista de Clarice com Chico Buarque, publicada na Manchete em 14 de setembro de 1968. Já saiu em livros, mas nunca vi com a reprodução da página e isso de ver como saiu, pra mim, é fundamental. E tem fotografia do Chico de então.
Ah, é de quando Clarice escrevia Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, o livro que começa com vírgula e acaba com dois pontos e é praticamente personagem do conto - e uma das perguntas que Chico responde também: "O que é amor?"
Um trechinho da introdução de Clarice na entrevista: "Ele não é de modo algum um garoto, mas se existisse no reino animal um bicho, pensativo e belo e sempre jovem que se chamasse Garoto, Francisco Buarque de Holanda seria da raça montanhesa dos garotos"