segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um dia na vida de João Gilberto 30/01/1960


30 de janeiro de 1960. João Gilberto recebeu a reportagem do Última Hora em sua casa no Rio de Janeiro. O fotógrafo Rodolpho registrou tudo. João, a mulher Astrud, o violão, um gato, a televisão e familiares.



Deve ter sido um dia intenso para João. Ele tinha 29 anos, em março do ano anterior lançara o disco de estréia (o antológico Chega de Saudade) e vivia de shows. Era um homem a caminho do estrelato, que logo gravaria O Sorriso, o amor e a flor, o segundo disco.


Astrud faria 20 anos dois meses depois e há pouco trocara o Weinert da família alemã pelo Gilberto do marido recente. Era amiga de Nara Leão, que apresentou os dois. Em Eles e Eu, seu livro de memórias, Ronaldo Bôscoli, namorado de Nara na época, diz que foi ele o cupido, mas numa espécie de contra-ataque: “Profundamente insinuante, malandro, mulherengo (embora negasse), ele arrastou uma asa para Nara que me deixou muito a perigo. Arranjei para ele uma moça que era amiga de Nara, chamava-se Astrud e adorava música”.


Astrud e João “se casaram no começo de 1960. Foi uma cerimônia rápida, simples e civil , num cartório em Copacabana, tendo Jorge Amado como padrinho”, conta Ruy Castro no livro Chega de Saudade. E Ruy conta mais, muito mais: um filho estava a caminho e os dois foram morar num apartamento em Ipanema, na Visconde do Pirajá. Paf: é esse das fotos


Então, é olhar os retratos e observar o primeiro apartamento do casal João-Astrud, que tem jeito de um quarto-e-sala. A televisão de destaque na sala, e o gato. Pera lá, o gato: será que é esse que, conta a lenda, teria se jogado pela janela, depois de ouvir João cantando pela zilhonéssima vez O Pato? Será???


É o felino da foto sim, um vira-lata chamado Gato, mas a história contada por Ruy Castro é outra. Em 28 de março de 1960, no estúdio, gravando O Amor, o sorriso e a flor, João recebeu um telefonema de Astrud dizendo que Gato caíra da janela.



“Gato havia cochilado no parapeito e despencado, vários andares abaixo, como João temia que um dia acontecesse – e por isso vivia recomendando a Astrud que não deixasse a janela aberta. João ficou desesperado, interrompeu a gravação e voou de táxi para casa. Astrud recolhera Gato ainda com vida e eles o levaram ao veterinário, mas o bichano morreu no caminho. Naquele dia, no estúdio, os músicos da orquestra inventaram a história de que o gato de João Gilberto se suicidara porque não aguentara mais ouvi-lo ensaiando “O pato”.



Taí o Gato feliz com João e Astrud, dois meses antes da tragédia num dia que deve ter sido um dia feliz para a família Gilberto: 30 de janeiro de 1960.

3 comentários:

Pérola disse...

Que bom que inventaram as redes para janelas!

Ivana Arruda Leite disse...

Ah, que incrível! Adorei! Beijos

vitinho disse...

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