sábado, 27 de julho de 2019

Dois livros encantadores sobre gatos

Patricia Highsmith e William Burroughs. Arte by B.

"Tudo me leva a crer que em breve terei um gatinho", ouço de minha amiga Marcia. Ela escreve no Instagram, como comentário a uma foto de Nina, a gata aqui de casa. "Pra se decidir, se ainda não leu, aí vão dois livros", respondo. E são esses os dois livros maravilha que indiquei: Os Gatos, da Patricia Highsmith e O Gato Por Dentro, de William Burroughs. Ambos saíram na série pocket da LPM e são facilmente encontráveis em qualquer banca de revista - e por preços convidativos. Leitura rápida. Quer dizer, leitura rápida a primeira. Já voltei a eles muitas vezes. Gateiros vão se deliciar e quem ainda não os descobriu, pode encontrar um mundo novo.

Quem já se encantou por eles sabe que Highsmith (O Talentoso Ripley, Carol) e Burroughs (Almoço Nu, Junky) não eram o que se pode chamar de escritores convencionais, pessoas "certinhas" - e quem o é?

Os Gatos, o livro de Patricia Highsmith tem três histórias (e que histórias) protagonizadas por felinos, três poemas (e que poemas) e acaba com um ensaio (Sobre Gatos e Estilos de Vida) simples, divertido e elucidativo. Dois trechinhos e um poema.


"Se me pedissem para completar a frase: "Eu gosto de gatos porque...", duvido que ganhasse algum prêmio, mas sei o que gosto neles e por quê. Gosto de gatos porque eles são elegantes e silenciosos, e têm efeito decorativo: uns leõezinhos razoavelmente dóceis andando pela casa."

"Os gatos escondem um senso de travessura por trás da expressão serena. Já vi ambos os meus gatos procurarem o colo de um visitante que é alérgico, ou que detesta gatos abertamente."

O filhote
Tudo no mundo
foi feito para eu brincar:
Gafanhotos, pés de cadeiras, petit-pois,
Sombras, bolas de poeira e meu próprio rabo.
Há tantos cantinhos, portas entreabertas,
E forros de coisas para olhar,
Tantos lugares para ir, que fico doido
De não poder estar em todos eles ao mesmo tempo.
E então me canso.

O Gato Por Dentro, o de William Burroughs, é muito bem resumido no comentário da Harper´s Bazaar estampado na capa: "Um livro sobre o convívio com gatos pôs Burroughs em contato com seu próprio eu." É isso mesmo. E tudo em textos curtos e encantadores de tão intimistas e confessionais. Trechinhos:

"Nos últimos anos, tornei-me um dedicado amante de gatos, e agor reconheço a criatura claramente como um espírito felino, um Familiar."

"O gato não oferece serviços. Ele se oferece. Claro que ele quer carinho e abrigo. O amor não é de graça. Como todas as criaturas puras, os gatos são pragmáticos."

"Há quinze anos sonhei que tinha pego um gato branco com linha e anzol. Por algum motivo, estava prestes a rejeitar a criatura e jogá-la de volta, mas ela começou a se esfregar contra mim e a miar de um jeito comovente."

"Muito mais tarde eu descobriria que fui escalado para o papel do Guardião, para criar e alimentar uma criatura que é parte gato, parte humana e algo ainda imaginável, que pode resultar de uma união que não acontece há milhões de anos."



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