Nasci em um parque e lá vivi feliz alguns dias agarradinha aos meus. Foram apenas alguns dias, não sei precisar quantos, até que num certo domingo ensolarado e quente, quente demais, apareceram uns dedos sedentos e me extraíram do seio famíliar. Foi apavorante, tremeliquei toda e tive medo pelo que me esperava. Fui parar em uma sacola de lona, junto a alguns objetos – garrafa de água, óculos escuro, caderneta de anotações, caneta – e duas semelhantes a mim, também raptadas. Não sabia onde estava e minhas folhinhas balançaram dentro de algo em movimento durante alguns minutos.
Só fui libertada dentro de um espaço que me pareceu agradável – depois vim a saber que era um apartamento. Aquelas mãos que me haviam raptado, cuidadosamente me fixaram numa terra nova. Tremi de prazer, foi meu primeiro contato direto com a terra. Agora eu não era mais um bebê, estava pronta a me tornar uma planta adulta e espalhar minha espécie pro mundo. Em uma semana fiquei assim e tô bem feliz em meu novo lar. Pertinho de mim, uma das manas que saiu do parque cresce feliz. Foi bom ter vivido alguns dias ao ar livre, mas não sinto a menor saudade.
quarta-feira, 11 de março de 2009
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