sábado, 11 de julho de 2009

Quase amigo


Um amigo bem jovem assistiu Pode Ser Que Seja Só o Leiteiro Lá Fora e se encantou com o verbo de Caio Fernando Abreu. Ele ficou meio assim quando falei que conheci o cara, era meu vizinho, me abraçava quando cruzavamos na rua e eu gostava de observa-lo de longe a escolher cenouras no supermercado. Quase amigos fomos.


Faz doze anos que Caio F. morreu e continua firme nas mentes e corações juvenis. É só olhar o roteiro do jornal: dificilmente não tem peça baseada em seus escritos.


Na PUC de Porto Alegre dos anos 80, andávamos com um livro do Caio debaixo do braço. Quando mudei pra São Paulo, resolvi ligar. Ele foi gentil, agradeceu eu gostar dos seus livros e perguntou “como essa cidade tá te tratando?”. Voltei a ligar várias vezes e sempre ouvia a mesma pergunta.


Um dia, dei de cara com Caio na Augusta e me apresentei. Ele riu, me deu um abraço forte, conversamos, uma cena bem Caio F: dois forasteiros se encontram ao acaso na metrópole que os acolheu.


Um pouco antes de morrer, Caio veio a SP lançar Ovelhas Negras, na livraria Cultura, no Conjunto Nacional. Fui, ganhei um autógrafo lindo, um abraço. Mais tarde, o vi com amigos numa mesa do Viena e fiquei alguns minutos a observá-lo à distância, como quando o via escolhendo cenouras no supermercado.


Lembro do Caio direto ao cruzar por alguns lugares muito ele: a Paulista tarde da noite, a Augusta lado centro ao anoitecer, o relógio no alto do conjunto nacional, o prédio da Hadock Lobo onde ele morou. E confesso: tenho uma certa inveja do meu jovem amigo que começa a descobrir o universo de Caio F.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, eu vi essa peça e também achei muito bom. O texto, o casting, a iluminação e a trilha... tudo em harmonia.

O horizonte me distrai... disse...

Vilmar... nnao acredito. Que coisa mais doida. Eu li sobre ele no blog da Cynthia e pirei.
lindo, lindo, lindo.

Dani Cascaes disse...

“Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.” Amei o post Vilmar!
Abracos, :)

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