sábado, 24 de dezembro de 2011

Clarice, uma arqueologia


Véspera de natal, o interfone toca e a porteira me avisa que tem sedex me esperando. Abro o pacote e dou de cara com o livro Encontros / Clarice Lispector, da editora Azougue. Não resta dúvida, Clarice Lispector me enviou um presente de Natal e você vai ver que isso de fato ocorreu.

Lá por 2002, cavei um tempo livre para fazer aquilo que eu realmente estava a fim de fazer. Passei tardes e mais tardes na biblioteca Mario de Andrade às voltas com pesquisas que inventava. Foi assim que cheguei à Diretrizes, jornal de Samuel Wainer no final dos anos 30, começo dos 40. Os exemplares amarelados e amarrados com barbante não deixavam dúvidas: há muito tempo não eram folheados e, quando abertos, se desfaziam nas dobraduras, deixando lascas de papel sobre a mesa. Eu usava luvas plásticas, não podia xerocar e só copiar a lápis. Máquina digital ainda era coisa rara, pelo menos pra mim.

Bom, certo dia topei com a matéria “Os Estudantes Brasileiros e a Literatura Universal” e, para minha surpresa, uma das entrevistadas era Clarice Lispector, então terceranista de direito no Rio. Na única biografia da escritora até então – Uma Vida Que Se Conta, de Nadia Gotlib não havia referência a essa entrevista. Copiei os trechos relacionados a Clarice. Corte rápido para final de 2009, quando saiu Clarice, a bio escrita por Benjamin Moser. Comentei com Pinky Wainer, amiga no Twitter, sobre meu achado e ela contou a história no site da Cosac Naify. Outro corte rápido para Novembro desse 2011 que finda, Raquel Cozer, jornalista da Ilustríssima da Folha de S. Paulo me avisa da publicação da tal entrevista em livro e que Benjamin Moser me cita no prefácio como descobridor da primeira entrevista de Clarice.

Corte rápido e final para final da manhã de hoje, 24 de novembro de 2011. Algo em mim treme e festeja ao por os olhos pela primeira vez no livro com a entrevista publicada. “Acasos não existem. Está tudo ligado”, me vem a frase de Caio Fernando Abreu, clariceano de carteirinha. Feliz Natal. Merecemos.

Trecho do prefácio de Benjamin Moser no livro cuja capa está ao lado:

(A arqueologia de um livro como este, pouco visível para o leitor, é fascinante: esta entrevista foi recém-escavada pelo jornalista paulista Vilmar Ledesma. Teria adorado por este flash na minha biografia Clarice, mas enquanto o interesse por Clarice durar, novas descobertas se farão.)

P.S: Bom, na verdade nasci no Rio Grande do Sul. Moro em São Paulo faz 23 anos e me sinto paulista, paulistano (como saiu na matéria da Raquel Cozer). Até brinco com meus amigos gaúchos: "quem tem raiz é mandioca. Sou paulistano, ex-gaúcho". Farra, pura farra. Gargalho repetinho “Jornalista paulista”: até nisso tem a mão de Clarice, a danada.
  
E no post seguinte tem a tal primeira de Clarice inteira, do jeito que a encontrei naquela tarde há quase 10 anos.

4 comentários:

Sônia Barros disse...

Acasos não existem. Mesmo. Obrigada por partilhar este presente, que eu acabo de ler, na véspera de Natal.
Um abraço!

Fernando Nistico disse...

Adorei Vilmar! Viva a sincronicidade! Beijos!

Ricardo Costi disse...

Que maravilha, Vile. Ja quero o livro e ler a entrevista. Abraço

juliana g. disse...

Por favor, onde voce conseguiu comprar este livro?

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