segunda-feira, 26 de março de 2012

De ruas, jardins e moradores de rua

Paulista quase Consolação, já noitinha. De volta para casa sou parado por uma travesti que me pede um cigarro. Acendo o cigarro para ela, que me enche de agradecimentos e sigo meu caminho, mas com ela no pensamento. Bem nova (não mais que 20), quase bonita e com sinais de quem anda morando nas ruas e não há muito tempo.

“Concentração de morador de rua “assusta” bairro nobre”: de repente me vem a matéria do jornal de domingo,  a Folha. É sobre a tentativa da Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) dos Jardins de acabar com um centro de convivência ali na Rebouças quase alameda Jaú – pertinho de onde estou e de minha casa. A aglomeração de moradores de rua em busca de refeições e banho na Ong aterroriza alguns moradores, como Sergio de Rose, dono de uma escola de Yoga por ali (a De Rose). Mas que pensamento torto o desse educador, penso. Sim, há também vozes de moradores contrários na reportagem.

Será que eles vão conseguir? Bom, não faz muito tempo uma associação de moradores dos jardins conseguiu exterminar a vida noturna que por ali existia, fechando bares e locais para dançar pelas bandas da alameda Itu que eram tomadas por jovens em busca de diversão e sem muito dinheiro no bolso. A zona gay por excelência da cidade virou passado e migrou pro outro lado da Augusta, uma zona “menos nobre”. Atualmente dá medo andar por aquelas ruas quase desertas que abrigam uns pubs meio metidos frequentados por gente mais endinheirada.

Impossível pensar em morador de rua e não lembrar de Renato Rocha, o baixista do Legião Urbana que perambula pelas ruas do Rio de Janeiro. A TV mostrou a via crucis do cara, numa espécie de Reality, meio A Fazenda sem glamour algum. O olhar do cara, o jeito perdidão de ser em seu corpo, fala e gestos: de assombrar. Doida vida, as escolhas, o escambau. Num texto sobre o assunto em seu blog, Nina Lemos vai direto ao ponto: “Tenho medo de virar o Renato Rocha um dia. E quem não tem?”.

Tenho uma amiga (quase a mesma idade e perfil profissional) que enlouquece mansamente na cidade, perdida em suas paranóias e faz muito tempo. Amigos fizeram de tudo para ajudá-la, mas quem disse que conseguiram. Pelo que sei, ainda não mora na rua, mas não me surpreenderia se alguém me dissesse que está lá.

“Viver é foda, morrer é difícil”, lembro da canção do Legiao Urbana (Vamos Fazer um Filme) que volta e meia me pego cantando. E me vem outra, essa da Amy Winehouse: Help Yourself, a que mais me toca entre todas dela. ~~ I Cant´t Help you if you won´t help yourself, I Cant´t Help you if you won´t help yourself~~  Repetindo o refrão chego em casa, quase rezando pra que aquele jovem travesti não se descaminhe nessa cidade tão dura que é São Paulo.

Link para o blog de Nina Lemos: "O Abandono de Renato Rocha da Legião, o sensacionalismo e a tristeza"

http://blogs.estadao.com.br/nina-lemos/145/


link para a matéria de Afonso Benites na Folha






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