sexta-feira, 14 de junho de 2013

O cerco da polícia à Paulista


O começo do cerco na Paulista
Estava na Paulista quando ela começou a ser fechada pela polícia para evitar que manifestantes tivessem acesso a ela. Isso mesmo: a polícia fechou a avenida para evitar o acesso dos manifestantes e isso não é piada, não tem graça nenhuma e é triste, muito triste. Vi o começo do cerco. Saí do metrô na Consolação antes das oito da noite e desci a avenida, que tinha trânsito nos dois lados, para acompanhar a manifestação, ver o que estava acontecendo. Andei umas duas quadras, parecia que a manifestação estava distante e resolvi voltar pra Paulista. Encontro o acesso à Paulista e Consolação pela Rebouças fechado pela polícia. Na esquina da Paulista com a Consolação, uma barreira com montes de policiais. Na pracinha, carros da polícia meio que camuflados.

Não havia trânsito de carros naquele quarteirão, apenas pessoas circulando com jeito de quem volta do trabalho. E nem sinal de "manifestantes". Vejo policiais revistando jovens, qualquer cara jovem era suspeita. De repente, mais policiais fecham o acesso à Paulista pela Bela Cintra. O número de carros da polícia aumenta muito e até um furgão gigante da Tropa desfila fazendo barulho. Nada de "manifestantes", repito. Volto andando pra Consolação, já sem carros e com muitas pessoas saindo do trabalho, nos pontos de ônibus, muitas apavoradas. Um policial diz a uma senhora em desespero pra ela ir pela Paulista e descer pela Peixoto Gomide que "eles ainda não chegaram lá" e que dava para circular. Entendi que o "eles" eram os manifestantes. Ou seria a polícia? 

Desço o primeiro quarteirão da Consolação. E de repente, começo a ouvir o som de bombas que parecem estar sendo detonadas na altura do cemitério. Além do barulho, volta e meia, clarões. Em volta, gente assustada, uns garotos skatistas, o cheiro das bombas e de repente começa uma correria. Volto pra Paulista, mas é impossível dobrar a esquina. Carros, uns dez, em alta velocidade, cruzam a avenida no sentido Angélica. E uma tropa de choque com seus escudos marcha assustadoramente. É impossível virar a Paulista. O cerco estava se completando e logo bombas na esquina do Riviera, muitas bombas, som assustador. Logo bombas do outro lado da rua também. 


Fico em frente ao Belas Artes e logo uma bomba explode no meio da rua, bem no ponto de ônibus. Pessoas correm apavoradas sem saber para onde. O som das bombas agora é intenso na entrada da Paulista e não vejo "manifestantes", não ali, só se estivessem dispersados. Paro numa marquise, ao lado de um senhor mais velho, uns garotos com mãos pra cima. De repente, três policiais pela calçada "circulando, circulando", mandam. "Pra onde, está tudo cercado", eu digo. O policial me diz pra descer em direção à estação de metrô, que a ação agora seria pra cima, na Paulista. Dito e feito, consigo entrar no metrô, cheio de gente no saguão, usado praticamente como abrigo anti-bombas. E lá fora, bombas, bombas pra todo lado, aquele som assustador. Uns 15 minutos depois, a coisa parece ter acalmado e vou em direção a Paulista, tomada por policiais, mas com circulação permitida. E sim, agora tem muita gente por lá nas calçadas, jovens quase todos.

Quase na esquina da Consolação, repórteres entrevistam um policial que está vestido feito Robocop. São quantos os que entrevistam? Uns 20. E o povo que passa, grita: "entrevista quem tava lá", "entrevista eu", "fascistas". Sigo pela Paulista e após a Bela Cintra o povo ocupa a rua vazia de carros com gritos de "sem violência". Ao longe, o som das bombas, que logo chegam até ali. Correria. Gente tossindo e berrando "filhos da puta". Mais bomba. Acompanho os que fogem das bombas pela Hadock Lobo, lado Jardins, são dezenas. Os olhos ardem. O som das bombas continua. O som de quantas bombas ouvi? Mais de 50? Pode ser. Talvez mais.


Alguns minutos depois, já em casa, o barulho das bombas na Paulista continua. E até umas onze da noite, o massacre segue, com a polícia (e seus cachorros e cavalos) "caçando" manifestantes. Dá uma vergonha de ter visto aquilo tudo e saber que aqueles policiais foram comandados, mandados a rua para bater. Disso não tenho a menor dúvida. E tudo pra quê? Pra defender do povo a gloriosa avenida Paulista, como se uma donzela imaculada ela fosse.

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