terça-feira, 29 de março de 2011

Bete Mendes 29/3/71



Foi há exatos quarenta anos.  A moça da foto para o registro do Serviço de Segurança Nacional tinha 21 anos e fora presa pela segunda vez.  Uma daquelas tristes histórias dos anos de chumbo da ditadura militar, e com um incrível diferencial: a moça era Bete Mendes, atriz em alta nas novelas da TV Tupi, como Beto Rockefeller (ao lado com Luiz Gustavo) , Super Plá e Simplesmente Maria. Ela também estudava Sociologia na USP e integrava, sem que ninguém soubesse os quadros da Var-Palmares:  “Trabalhava, atuava, estudava, fazia revolução – e tinha só 18 anos”, ela disse em O Cão e A Rosa, livro da Coleção Aplauso, escrito por Rogério Menezes. E sobre essa prisão, o livro registra o seguinte: “desculpe, não posso continuar conversando sobre isso: só posso dizer que fui presa, torturada e saí da prisão 30 dias depois completamente AR-RE-BEN-TA-DA! AR-RE-BEN-TA-DA!


Já conhecia a história de Bete Mendes, mas não lembro de ter visto a foto acima. Dia desses, encontrei outro livro sobre ela: “Álbum de Retratos” e, ainda na livraria, abri justamente na tal página. Fiquei impressionado. E logo me veio à lembrança a foto da Presidenta Dilma, no mesmo registro, que virou um ícone na recente campanha presidencial. Sim, duas mulheres, da mesma geração, e com trajetórias de luta semelhantes.  Hoje, Dilma comanda os destinos da nação e Bete Mendes, das grandes atrizes desse País, interpreta uma dona de casa completamente do bem na novela Insensato Coração.

Esperei o dia exato pra postar a foto aqui pra que esse horror, que não pode ser esquecido, nunca mais se repita. Pode até parecer chavão, mas nunca é demais repetir: Ditadura Nunca Mais. E Viva Bete Mendes, sua linda.

ATUALIZAÇÃO
Hoje, 26 de maio de 2013, a Folha publica um depoimento de Bete Mendes de leitura obrigatória. "Sobrevivi à Tortura", é o tíulo e ela falou pra Eleonora de Lucena. "Fui torturada (em 1970) e denunciei (o coronel Ustra). Isso me marcou profundamente. A tortura física éa pior perversidade da raça humana."

Aqui, um trecho. E mais embaixo o link para a matéria na íntegra.
 "Não dá para ter raiva (de quem me torturou). A gente é tão humilhado, seviciado, vilipendiado que o que se quer é sobreviver e bem. Estou muito feliz, sobrevivi e bem. E não quero mais falar desse assunto.
Superei isso com tratamento psicológico e com trabalho. Agradeço à família, à classe artística, aos amigos que forammeu alicerce.
Carlos Zara me convidou para fazer a novela "O Meu Pé de Laranja Lima", e isso me salvou. Continuei o trabalho artístico, fui fundadora do PT, fui deputada federal duas vezes e secretária da Cultura de Sâo Paulo."

Link para Sobrevivi à Tortura, depoimento de Bete Mendes para Eleonora de Lucena, da Folha deS.Paulo.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1285003-minha-historia-fui-torturada-em-1970-e-denunciei-o-coronel-ustra.shtml
E aqui, o link para O Cão e A Rosa, o livro que Rogério Menezes escreveu para a Coleção Aplauso (Imprensa oficial)

http://aplauso.imprensaoficial.com.br/livro-interna.php?iEdicaoID=63&leia=1

sábado, 26 de março de 2011

Elizabeth Taylor e o filhote

A foto e o texto abaixo são de "Quatro Gatos", postado aqui em 12 de fevereiro. E vão de novo pra homenagear Elizabeth Taylor, star e mulher bacana, que morreu essa semana.



Elizabeth Taylor é o melhor retrato do star system hollywoodiano. É só observar seus retratos e comparar com o das celebridades atuais - Angelina, por exemplo. É outro mundo, claro, mas Liz Taylor só uma. E aqui, quase um luxo, de dona de casa que esqueceu o bichano no bolso do vestido petit-pois. Chiqueria total.

terça-feira, 22 de março de 2011

Disciplina é Liberdade - Geraldo Vietri


Sabe quando um nome assume um certo ar de grandeza? Pois é assim com o de Geraldo Vietri que, aos meus ouvidos, soa como Cecil B. DeMille ou outras figuras míticas hollywoodianas. Deve ter sido o primeiro nome de novelista que relacionei à profissão, ainda menino, bem menino. Devo ter visto algum capítulo de Antônio Maria, mas não guardo na memória. De Nino, O Italianinho, sim, ficaram cenas inteiras, personagens, situações. Essa novela era acompanhada e adorada por toda a minha família e eu, garoto de tudo, não fiquei imune ao estardalhaço que se refletia em capas de revistas e conversas, como se aqueles personagens existissem de verdade.
Assim começa a introdução de Disciplina é Liberdade, o livro sobre Geraldo Vietri (1927 – 1996) que escrevi para a coleção Aplauso, da Imprensa Oficial. Foram alguns anos – com interrupções – para levantar a história do autor e diretor. Um dos homens mais importante na história na televisão brasileira e diretor de 13 filmes,  infelizmente a carreira brilhante (de quase 40 anos) de Geraldo Vietri é praticamente desconhecida pelos mais jovens.  No vídeo abaixo, ele fala dos primórdios das novelas.
Fui atrás do homem. Buscas em bibliotecas, várias entrevistas com aqueles que conviveram com ele – alguns já mortos, como Nair Bello e Geórgia Gomide. Uma informação ou uma pessoa levavam à mais informações e pessoas.
Bom, o que interessa é que Disciplina é Liberdade está pronto. O título, que demorou a aparecer, saiu de Há Tempos, música da Legião Urbana. Um toque pop ao reservado Vietri? Sim, isso mesmo e ele também foi pop, no fim dos anos 60, escreveu e dirigiu Os Reis do Iô Iô Iô, sátira à jovem guarda. E nos 80, escreveu e dirigiu uma novela em espanhol (O Duende Azul) para uma dupla argentina hit daquela época, a Pimpinella – entrevistei Joaquín Galán, a parte masculina da dupla. No fim da página, um vídeo com a abertura de El Duende Azul.
O lançamento de Disciplina é Liberdade (e mais 20 títulos novos da Coleção Aplauso, é na segunda, dia 28, a partir das sete da noite, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.



segunda-feira, 21 de março de 2011

O Rei Roberto e o Conde Visconti


Luchino Visconti, o diretor italiano, é exemplo de arte requintada. Roberto Carlos, o cantor brasileiro, é sinônimo de popular. O cineasta nasceu em berço nobre e com o título de conde. Roberto nasceu pobre e com o sucesso virou rei. Visconti era um homem de esquerda e a política não é papo para Roberto.

Mas o que Roberto tem a ver com Visconti (ou vice-versa)? Sei lá. O que sei é que os caminhos deles se cruzaram pelo menos uma vez. E foi em Violência e Paixão, um dos últimos filmes de Visconti, que morreu em 1976. “É o mais politico que realizei. Nunca fui tão longe na descrição detalhada e sem pudor do mundo capitalista”, ele disse numa entrevista.
Violência e Paixão é uma história de decadência – a de um mundo e de um professor aristocrático e solitário (Burt Lancaster). Deve ser uma das tramas com mais obras de arte nas paredes da história do cinema, tudo pontuado por Mozart. E lá pelo meio, o clássico cede espaço para uns acordes populares e mais íntimos dos meus ouvidos e logo uma voz de mulher em italiano. “É A Distância, do Roberto Carlos”. Sim, é a canção do rei nos anos 70 embalando uma cena de ménage no filme do conde vermelho: popular e erudito em comunhão.
Violência e Paixão resiste bem ao tempo, que parece até lhe ter feito bem.. O nome da versão, não incluída dos créditos finais, é Testarda Io e a cantora, Iva Zanicchi. E a cena do encontro Roberto-Visconti está aqui abaixo. A original, na voz de Roberto, mais abaixo.



terça-feira, 15 de março de 2011

A day in the life

Quatro grandes da música em quatro fotos reveladoras (publicadas na revista Life e na Romântica, a do brasileiro) naquele estilo gente como a gente.


1965 - No ano em que os Beatles tiveram cinco músicas no topo das paradas, com um cigarro entre os dedos, John Lennon, 24 anos, posa na sua residência, Londres, com a então mulher Cynthia e Julian, 2 anos, o primeiro filho. É praticamente o início da caminhada de John ao estrelato, quando Yoko Ono não passava de um daqueles encontros marcados pelo destino.




1969 - Roberto Carlos, 29 anos, morava em São Paulo, no Morumbi. Estava há um ano casado com Nice, o filho Segundinho já havia nascido. Numa segunda-feira, ele recebe a revista Romântica que quer mostrar "como se porta o rei da juventude brasileira como pai". Só que Nice e o bebê haviam saído, mas a reportagem tinha que sair e quem posa para as fotos com papai Roberto é Ana Paula, a filha do primeiro casamento de Nice. Repare nos dois arrasando nas duas rodas - tá, a bike da menina tem quatro rodas.



1940 - "Hello, is it me you´re looking for": Será que é isso que Frank Sinatra está falando ao telefone? Impossível dizer, mas o certo é que este foi o ano em que ele, aos 27 anos, assinou seu primeiro grande contrato. O cenário do retrato é a residência da família Sinatra em New Jersey, Nova York, com a filhota Nancy na flor dos três aninhos.




1980. Filhos criados, Luciano Pavarotti posa com a família em Modena, Itália,, meio que reconstruíndo seu estilo de vida antes de virar cantor profissional - na época eram 26 anos de carreira. A partir da esquerda, a mulher Adua e as filhas Lorenza, Giuliane e Christina. Sim, a foto é linda. Parece cena de Totó e família em Passione...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Baú Calcanhotto

Gosto dessa coisa randômica da vida – os encontros, os desencontros, os novos encontros.

Hoje, Adriana Calcanhotto postou no seu blog www.adrianacalcanhotto.com.br a primeira do disco novo – O Micróbio do Samba, que sai dia 21 agora.

~~ te fiz uns sambas, neguinho, te dei carinho/ despi as suas fantasias devagarinho/ da sua onipotência tratei com jeitinho/ e das chegadas de madrugada no sapatinho ~~
Tá na Minha Hora, é samba sambeiro, a cara dela que, com firmeza e ousadia, construiu uma das carreiras mais interessantes da música brasileira. Bom, nem é da música que quero falar, e sim de Adriana, do meu baú Calcanhotto.

Em 1986, a entrevistei para uma matéria com as novas cantoras de Porto Alegre pro jornal da faculdade. Era inverno, lembro bem, e a entrevista foi à tarde, na casa dela, bairro Petrópolis. Adriana abria a matéria, com firmeza e abraçando a minha tese de estudante da PUC. Veja só:
“São dezesseis mulheres cantando, não há como negar que existe um movimento. Numa terra onde os machos sempre tiveram a cultura na mão, é uma coisa que não dá para camuflar”, enfatiza a cantora e compositora Adriana Calcanhotto. Ela vem fazendo shows com Luciana Costa em bares onde iniciou sua carreira. Adriana diz que gosta de cantar nesses locais, mas observa que o público é difícil – “é preciso chamar a atenção, nem que seja no volume”.

Passa o tempo: Começo de 90. Eu já morando em São Paulo e Adriana no Rio vem fazer show na cidade, no Ópera Room (adoro esses nomes que ficaram no tempo). Ainda estava gravando o primeiro disco que ainda não tinha título ("provavelmente Enguiço, pelo trabalho que tá dando"), mas “estourou no Rio e a partir daí passou a ser muito falada, “mais falada que ouvida”, afirma sem modéstia”: está na entrevista que fiz para o Jornal da Tarde.

E tem uma declaração completamente a ver com os caminhos que seguiria: “Sucesso é uma palavra desgastada e mal empregada. De repente ficou uma coisa tão fácil de fabricar. É claro que ninguém faz disco para não vender. No entanto, se meu disco agradar a todos, menos a mim, me sentirei fracassada”.

Houve outras entrevistas e um autógrafo na capa do CD Senhas, mas são essas, as primeiras, que mais lembro.

~~não chora, neguinho, não chora/ tá na minha hora, tá na minha hora ~~

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...