segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Do que eu falo quando eu falo de Haruki Murakami

Haruki Murakami em ação

Cena do filme Norwegian Wood
Tenho pouca (quase nenhuma) intimidade com corridas. Nunca foi das minhas atividades preferidas, embora faz um tempo, tenha começado a praticar – e até encontrei o barato da coisa. Mas essa fase passou como veio e sem deixar saudades. Jamais me imaginei lendo um livro sobre corridas, isso até a semana passada quando Do Que Eu Falo Quando Eu Falo de Corrida caiu em minhas mãos. Havia comprado há algum tempo e, em contato com a madeira da prateleira da estante, ele esperava o momento ideal de ser desvirginado. Bom, comprei pelo autor, o japonês Haruki Mukami, que um amigo teve a fineza de me apresentar e de quem devorei (sempre encantado) Minha Querida Sputnik, Norwegian Wood, O Caçador de Carneiros, Dance, Dance, Dance e tem outro me aguardando: Kafka à Beira-Mar. Ah, e quero muito ver Norwegian Wood, filmado pelo vietnamita Ahn Hung Tran, o mesmo do encantador O Cheiro da Papaia Verde.

Haruki Murakami é daquele tipo de escritor pra se apaixonar e flerta deliciosamente com o pop. Apesar do título mais explícito impossível, eu imaginava que Do Que Eu Falo fosse um romance. Estava redondamente enganado. É exatamente o que o nome anuncia: um livro sobre corridas. Só que naquele estilo envolvente, o escritor coloca o processo da escrita e do viver/envelhecer junto com suas passadas nos duros treinamentos (nos ouvidos, Lovin´ Spoonful e uma trilha pop de dar água na boca). Livro de memórias sim, mas narradas de um jeito completamente diverso e contagiante.

Mick Jagger
Quem ousa rir de Mick Jagger? é o nome do primeiro capítulo, em  cima da famosa declaração “prefiro morrer a continuar cantando Satisfaction quando estiver com 45 anos”. Um trechinho: “Algumas pessoas acham isso engraçado, talvez, mas não eu. Quando era novo Mick Jagger não conseguia se imaginar com 45 anos. Quando eu era novo, era igual”. Haruki Murakami tem 63 anos.

E pelas 150 páginas, sem querer catequizar ninguém (muito pelo contrário: "sofrer é opcional", já anuncia o prefácio) para a sua paixão pelas corridas, Murakami vai discorrendo sobre solidão, independência, dor física, seu início como escritor, os sucessos, os desapontamentos. “A coisa mais importante que jamais aprendemos na escola é que é o fato de que coisas importantes não podem ser aprendidas na escola”. Quem há de negar, mas certos livros tem esse dom. Esse é um deles. 


Anotei durante a leitura:

"Não acredito que seja apenas força de vontade que capacite a pessoa a fazer alguma coisa. O mundo não é assim tão simples"



"Às vezes, quando penso na vida, me sinto como um destroço à deriva que foi parar numa praia"


"À medida que envelhece você aprende até mesmo a ser feliz com o que tem. Esta é uma das poucas vantagens de envelhecer"


"Não me importo com que os outros digam - essa é apenas a minha natureza, o modo como sou. Como um escorpião que pica, uma cigarra que se agarra à arvore, um salmão que sobe a correnteza para o lugar onde nasceu, patos selvagens que se acasalam para a vida inteira"


"Só porque tem um fim, não quer dizer que a existência tenha significado"


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