O abraço virou abraçaço numa diferença de 43 anos entre o
disco novo de Caetano Veloso e uma velha capa de Fatos e Fotos (foto acima). Quem junta tudo
é Marighela, homenageado por Caetano na canção Um Comunista. Na capa da tal
revista, Caetano e Gilberto Gil em Londres e a chamada “Aquele Abraço”,
referência, claro, à canção de Gil. Em cima, uma foto pequena de um homem morto
e em letras garrafais: “Marighela: A Morte do Terrorista”. Data da edição: 30
de novembro de 1969.
A matéria sobre Caetano e Gil, escrita por eles em
primeira pessoa, tem seis páginas e muitas fotos coloridas London london. E a
seguinte abertura: “Depois de três meses fora do Brasil, Caetano Veloso e
Gilberto Gil escrevem da Inglaterra, especialmente para Fatos e Fotos, contando
que Londres “continua sendo”. Já alugaram uma casa de três andares em Chelsea,
a apenas dois quarteirões de King´s Road, a rua onde os hippies se misturam aos
turistas. Os dois estão aprendendo inglês – Caetano em curso normal e Gil pelo
processo audiovisual – dormindo cedo e trabalhando muito, já tendo prontas
muitas músicas novas. Mas não vão lançar nada agora e, a todos os convites de
gravação, respondem com a mesma frase: “Obrigado, mas só mais tarde”. Explicam:
“Quando sair, o disco tem que ser da pesada”. Nenhuma referência à exílio, bem
no espírito negror daqueles tempos.
A Última Batalha do Terror, a reportagem da morte de
Marighela também tem seis páginas e abre com uma página dupla espalhada dele
morto no banco do carro e a seguinte abertura: “Caído no banco traseiro de um
Volkwagen, a peruca cinza ao lado, o corpo crivado de balas e ensanguentado:
Assim, Carlos Marighela, o líder terrorista de 58 anos, chegou ao fim de sua
carreira; surpreendido em uma emboscada pela polícia paulista. A morte de
Marighela, exatamente dois meses após o sequestro do embaixador Elbrick, será
também a morte do terror?”
"O baiano morreu
Eu estava no exílio
E mandei um recado
que eu que tinha morrido
e que ele estava vivo/ Mas ninguém entendia...”
É um trecho de Um Comunista, a canção de Caetano em homenagem a Marighela, 43 depois da
morte dele.
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