domingo, 22 de abril de 2018

Angela Davis, Dilma e a história do cartaz que correu o mundo





A foto de Angela Davis ao lado de Dilma Rousseff segurando o cartaz Lula Livre, escrito em diversas línguas, foi a imagem da semana. Uma das, tá certo, porque também houve aquela de Leonardo Boff à espera de visitar Lula na prisão. O surpreendente é que a da ativista americana com o cartaz não foi publicada nos jornais brasileiros, que nem sequer noticiaram a conferência. E olha que no final da fala que apresentou Dilma na Universidade de Stanford, Angela falou assim: "Obrigado, Dilma Rousseff. Acredito falar por muitas pessoas nesse país quando digo que estamos com você nos seus esforços para garantir um futuro democrático para o Brasil".

"Obrigado, Dilma Rousseff. Acredito falar por muitas pessoas nesse país quando digo que estamos com você nos seus esforços para garantir um futuro democrático para o Brasil": Angela Davis

E como  o cartaz chegou a Dilma e foi parar nas mãos de Angela Davis? A grana dos petralhas, certo? Errado. É uma história linda, daquelas que mostram a força que as coisas têm quando elas precisam acontecer. Começa no domingo anterior, dois dias antes da palestra de Stanford. Numa conversa com amigos de um grupo online, a "mãe" do cartaz, Jô Hallack escreve: "Podia ter um dia normal, mas tô aqui fazendo um cartaz do Lula porque sou maluca". E maluca maluca, ela fez o cartaz, postou nas redes e....

Corta para terça-feira, dia da exibição no Rio do documentário O Processo, sobre o impeachment de Dilma. É perto da meia-noite, Jô Halack chega em casa exausta após assistir o filme. Eu estava vendo online a palestra de Dilma em Stanford, mas a transmissão estava péssima, parava a toda hora. E era o dia da saída da Paula do BBB, sim aquele programa em que Gleici venceu e gritou Lula Livre, mas isso é dois depois. Volto pro computador, a fala de Dilma já tinha acabado e levo um susto: na tela aparece uma criança segurando um cartaz que parecia ser o da Jô. Como assim? Printo e mando pra ela: "é o teu cartaz, Jô?" E olha que ainda não havia entrado em cena Angela Davis. Sim, era o cartaz da Jô. Minutos depois, justamente quando se completava dois anos da deposição de Dilma, o mito do ativismo segurava o cartaz.

E como aquele cartaz foi parar lá? Jô Hallack ainda não tinha a menor ideia. Foi assim, ela soube depois, e aí entra em cena Felipe Amarante, o responsável por levar o cartaz para Dilma e para Angela Davis. Depois, ele escreveu para Jô contando e ela postou no facebook.:

"A história do pôster é curiosa. Moro em Walnut Creek, fica a uns 20 minutos de Berkeley. Fui para a palestra da Dilma sem convite.

Apos uma pesquisa no Google dei de cara com sua obra de arte. Estava atrasado, mas descobri uma gráfica pelo Google em pleno caminho. Quando cheguei o cara já foi com minha cara porque já tinha visitado o Brasil. Combinamos 40 posters por 38 dolares. Enquanto ele abria o arquivo fui reparando na decoração da loja, foto do George Carlin, bandeira palestina... Fiquei feliz em estar dando dinheiro para uma loja como aquela e não a uma FedEx da vida... 

Sem abrir o pôster ele já foi falando bem da Dilma. Na hora que ele abriu o pôster e viu a foto do Lula, falou que iria melhorar a qualidade do papel pelo mesmo preço combinado.
Após um pequeno ajuste na centralização ele imprimiu e logo me entregou os posters. Quando fui pagar, notei que ele usava uma camisa do partido comunista. E foi logo dizendo o preço 20 dolares. 

Pensei comigo, este Lula é realmente foda. Nos despedimos sem ele falar o porque do desconto. Nem precisava, seu sorriso camarada, disse tudo. 
Ps:Vou voltar lá com a foto da Angela Davis."

E assim foi: o cartaz que começou a ser bolado por Jô Hallack numa tarde de domingo, dois dias depois, estava nas mãos de Angela Davis e começava a correr o mundo. É incrível a força que as coisas têm quando elas precisam acontecer.

Aqui, o link com a apresentação de Angela Davis e a palestra de Dilma na Universidade de Stanford. 


E aqui, pós-palestra, o momento Lula Livre



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