quinta-feira, 14 de maio de 2009

A mulher que berra

Maria, o nome é lindo. Mas basta alguém chamá-la assim pra começarem gritos absurdos que muitas vezes duram um tempão. É a louca de plantão aqui do meu bairro. Aparenta andar ali pelos quarenta e poucos (será?), vive pelas ruas da vizinhança, tem uma cara forte, nariz pequeno, cabelos pretos encaracolados e aquele ar de quem há muito vive em outra sintonia. Faz muitos anos que a conheço e até a cumprimento de vez em quando. Ela nunca me respondeu, apenas com os olhos, vivos, espertos.

Ela não tem hora pra entrar erupção e não é raro acordar de madrugada com seus gritos. E olha que moro num sexto andar, fundos, bem afastado da rua. Às vezes vou a janela e a vejo caminhando pelo meio da rua deserta, enrolada num cobertor a bradar seu desespero aos quatro ventos. Grita tanto e há tantos anos que suas cordas vocais sofrem o calejo de tanto esforço. Não se entende o que ela berra, fica apenas aquele som terrível que parece vindo das entranhas e que é acionado sempre que alguém diz a palavra terrível: Maria.

Um comentário:

Anônimo disse...

Após finalizar um trabalho de pesquisa, entro na internet para me distrair e esparecer... Entro aqui e nem preciso falar o quanto me divertir lendo esse post né? hahah joga água na véiaaa! heheh

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