Sei lá como foi. Só sei que
de repente eu, um bebê, estava na rua de uma cidade do interior paulista. Era
Natal. Não lembro quase nada, se miei, se estava apavorada, quase nada, nadica.
Recordo apenas do instante em que ela apareceu saltitante e começou a puxar
papo, num coaxado que não demorei para decifrar. Ela coaxava amigável, eu miava
receptiva e íamos nos entendendo como se velhas conhecidas fôssemos. Era uma
simpatia de perereca e se chamava assim, Perereca mesmo. Foi logo elogiando
meus olhos azuis, o pelo claro, disse que não me preocupasse que ela daria um
jeito na minha existência. Eu não estava entendendo nada, mas hoje quando já se
passou um ano, sei que aquela perereca era meu anjo da guarda, que eles existem
sim e nem sempre têm asas.
“Vou arrumar uma casa para abrigar você, e uma
casa bonita, bem rica”, coaxou a querida com um brilho protetor nos olhos. Eu
só ouvia atenta os conselhos que jorravam do seu coaxado: “Você só precisa fazer
cara de coitadinha e exibir tristeza nesses olhos azuis encantadores. Ninguém
pode perceber que você é uma princesa jogada na rua por uma conspiração de
coxinhas desalmados”. Princesa eu? Bom, se a pereca dizia... E fomos caminhando
devagar, coaxando e miando por ruas praticamente vazias e de repente ela parou
e setenciou: “É aqui”. Era uma casa imensa e iluminada, víamos pela porta de
vidro imensa.
(Dia desses conto o resto. Tem um cachorro chamado Gucci, que foi um fofo. Tem fada madrinha, tem viagem, uma casa,
outra casa, tem até as redes sociais conspirando para a minha felicidade).
Nenhum comentário:
Postar um comentário