segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Há 40 anos morria o homem que ridicularizou Hitler



Homenzinho engraçado que fazia rir e chorar ao mesmo tempo que construía críticas corrosivas, Charles Chaplin morreu há quarenta anos, no dia de Natal. Ele, que nasceu num subúrbio de Londres, tinha 88 anos. Lembro vagamente das matérias na televisão e guardei capa e matéria com cinco páginas da revista Fatos & Fotos; Fotos (na foto, com minha assinatura de então e a data). O abre da matéria faz um bom resumo:

"Tranquilamente, enquanto dormia,, Charles Spencer Chaplin morreu na madrugada de domingo passado, dia de Natal, na sua residência em Corsier-sur-Vevey, aos 88 anos de idade. Seu enterro, no dia seguinte, foi simples, com a presença somente da família e dos amigos íntimos. A polícia impediu a entrada de qualquer curioso ou representante da imprensa. A atmosfera não poderia ter sido mais pacífica, apesar dos cordões de isolamento estendidos ao redor do túmulo vigiado por guardas. O corpo de Carlitos recebera as últimas reverências na própria mansão de Manoir de Ban, de 20 quartos, onde vivera os últimos 25 anos."

Nesses anos todos já li muito sobre Charles Chaplin, mas nenhuma biografia respeitada, o que está nos planos pra 2018 - e assistir os filmes dele enquanto leio também. Abro livros de Billy Wilder e François Truffaut atras do que eles contam do gênio do cinema mundo.

Em E o Resto é LoucuraBilly Wilder atrás do que ele conta de Chaplin - há 14 referências no índice remissivo. Escolho essa:

"Sempre amei e admirei Charlie Chaplin da época do cinema mudo, e quando era adolescente em Viena assistia aos seus filmes inúmeras vezes. Eles me davam alegria como quase nenhum outro filme. Vi O Vagabundo seguramente uma vinte vezes. (...)  Mais tarde vi A Corrida do Ouro o mesmo número de vezes. Algo semelhante só me ocorreu posteriormente com pouquíssimos filmes. 
Para mim, Chaplin foi o maior mestre do cinema mudo. Infelizmente, acho que foi desmascarado como banal quando os filmes começaram a ter diálogos. Os diálogos dele eram tremendamente superficiais, ele não conhecia literatura e tinha, por isso, uma relação amadora com os textos falados: quando encontrava uma fala que pudesse exprimir o que o comovia, ficava como um jovem de dezoito anos que faz versos para a Nona de Beethoven."

Em Quem é Charles Chaplin, texto que escreveu em 1974 e está no livro Os Filmes de Minha Vida,  François Truffaut começa assim: "Charles Chaplin é o mais famoso cineasta do mundo, mas sua obra esteve prestes a transformar-se na mais misteriosa da história do cinema, À medida que os direitos de exibição de seus filmes se esgotavam, Chaplin proibia sua difusão, decepcionado, é importante observar, com os inúmeros relançamentos piratas e isso desde o início de sua carreira". As novas gerações, ele lembra, só conheciam os clássicos de Chaplin de ouvir falar, isso até 1970 quando "ele decidiu recolocar em circulação a quase totalidade de sua obra".

O diretor francês termina seu texto assim: "Sua obra divide-se claramente em duas partes: a) o vagabundo; b) o homem mais célebre do mundo. A primeira se pergunta: "será que existo?" A segunda esforça-se para responder: "quem sou eu?" Em sua totalidade, a obra de Charles Chaplin gira em torno do tema maior da criação artística: a identidade.

Mais uma de Truffaut: no livro de entrevistas com Hitchcok, numa das perguntas ele inclui "Na Inglaterra, há muitos intelectuais, muitos grandes poetas, muitos bons romancista, mas desde que o cinema nasceu há setenta anos, só se encontra dois cineastas cuja obra resiste à prova do tempo: Charles Chaplin e Alfred Htichcock". Para situar: as entrevistas para esse livro foram nos anos 60.





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