Bethânia na capa de A Cena Muda e Clarice por Loredano |
Você já viu foto de Clarice
Lispector e Maria Bethânia juntas? Eu nunca – e já procurei bastante. E
Bethânia, senhores, foi quem levou a escritora que tinha fama de hermética, difícil,
para um público maior, incluindo seus textos em shows. Bom lembrar: os direitos
pelos textos rendiam muito mais que a venda de muitos livros de Clarice, que
costumava passar por dificuldades financeiras. Essa faceta de Bethânia não
costuma ser muito reconhecida. O nome dela aparece em duas citações no índice
remissivo da biografia de Clarice escrita por Benjamin Moser. A primeira na
introdução (“Ficou mortificada quando Maria Bethânia se jogou a seus pés, exclamando
“minha deusa!”) e a outra sobre uma festa de aniversário de Clarice, com
Bethânia e Chico Buarque como convidados.
“Maria Bethânia me telefonou,
querendo me conhecer. Conheço ou não? Dizem que é delicada. Vou resolver”, Clarice
registrou, em dezembro de 1967, em crônica publicada no Jornal do Brasil. Era o primeiro ano que escrevia a coluna no
jornal e parecia “assustada” com a popularidade. “Maria Bethânia me conhece dos
livros. O Jornal do Brasil está me tornando popular”, escreve mais adiante.
“Curto Clarice desde os 14 anos quando li o
conto A Legião Estrangeira. Fiquei
fascinada, passei a reler suas histórias, tornei-me sua amiga e pude observar
que suas narrações, apesar de não serem de uma linguagem tão simples, se
interpõem à própria autora, que foi a rainha da simplicidade”, disse Bethânia
em entrevista de 1984, época de A Hora
da Estrela, o espetáculo que fez baseado o livro de Clarice.
A meninice, esses “14 anos”
que Bethânia lembra, se refere a Santo Amaro da Purificação e a leitura de A
Legião, recomendada pelo irmão Caetano Veloso, veio através da revista Senhor, que publicava
os contos de Clarice no fim dos anos 50. Foi em 1967 que Clarice subiu ao palco
na voz da cantora. O primeiro texto foi Mineirinho,
que provocava comoção em Comigo me Desavim,
dirigido por Fauzi Arap. Depois veio a explosão Rosa dos Ventos, também com Fauzi como diretor, que apresentava um
trecho do ainda inédito Água Viva. “Fiquei
surpreso quando descobri que ela acabava ganhando mais com sua pequena participação
na bilheteria do show do que com a publicação de muitos de seus livros”,
escreveu Fauzi no livro de memórias Mare
Nostrum.
Em 1973, Drama – Luz da Noite, outro show
antológico de Bethânia, dirigido por Antonio Bivar e Isabel Câmara, também
trouxe texto inédito de Clarice. “Como a maioria dos escritores, que volta e
meia passam por dificuldades financeiras, Clarice nessa época tinha as suas. Bethânia
tinha adoração por ela e foi extremamente generosa para com a escritora quanto
aos royalties. Discretamente, sem nenhum alarde, por meio de seu empresário,
ordenou à SBAT que, de todos os pagamentos aos autores do texto do show,
arrecadasse uma parte maior da renda bruta para Clarice. Por um texto de oito
linhas Clarice Lispector recebia 1% da renda do show em toda a sua temporada e,
posteriormente, no disco. Pelo nosso trabalho de diretores do espetáculo e
autores de alguns textos, Isabel e eu recebíamos, via SBAT, 2,5% cada um.”,
conta Antonio Bivar no livro de memórias Aos
Quatro Ventos.
“Ela vem sempre aqui
conversar comigo, que criatura adorável. Todo show meu tem um texto dela. Menos
este que não tem texto nenhum, só música, pois é “A Cena Muda”, contou Bethânia
a Fernando Sabino em entrevista publicada no jornal do Brasil, em 1974. Dez
anos depois, ela faria um espetáculo inteiro em cima de um livro de Clarice: A Hora da Estrela, direção de Naum Alves de Souza, em que dizia as
falas de Macabéa. Infelizmente esse não fez sucesso e não foi lançado em disco - há uma gravação do show no youtube (no final). Canções compostas especialmente para o show - A Hora da Estrela de Cinema, O Nome da Cidade, Da Gema, Para eu Parar
de me Doer - estão em A Beira e o
Mar, daqueles discos que marcaram viradas na carreira da cantora. Os textos
de Clarice Lispector, assim como os de Fernando Pessoa, outro “popularizado”
por ela, seguem como presença marcante nos shows de Maria Bethânia. E a foto de
Clarice e Bethânia juntas, existe?
Aqui, Clarice e o LSD por Fauzi Arap
http://viledesm.blogspot.com.br/2017/12/clarice-lispector-e-o-lsd-por-fauzi-arap.html
Gravação do show A Hora da Estrela (1984) no youtube
Aqui, Clarice e o LSD por Fauzi Arap
http://viledesm.blogspot.com.br/2017/12/clarice-lispector-e-o-lsd-por-fauzi-arap.html
Gravação do show A Hora da Estrela (1984) no youtube
Um comentário:
Olá, gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre esse texto, poderíamos conversar por email?
Você teria algum endereço eletrônico para onde eu possa mandar minhas dúvidas?
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